O pensador grego Epicuro já dizia, três séculos antes de Cristo, que um pedaço de queijo era o suficiente para transformar uma refeição frugal em um banquete. Para ele, tido como o “profeta do prazer e da amizade”, a vida devia ser pautada pelo necessário, mas temperada aqui e ali pelo que chamava de desejos naturais. Como o apetite por esse ingrediente extra na sua dieta, que se limitava quase aos essenciais pão e água.
Pode ser que o simples pedaço que alegrava o filósofo não baste para a maioria das pessoas. Mas, com uma boa tábua variada, já se tem uma festa. Na pizza, derretendo a cada fatia, ou ralado sobre um prato de massa, o queijo dá a liga a reuniões familiares ou de amigos.
As considerações sobre o prestígio milenar desse prazer me vieram à mente ao ler, no jornal The New York Times, que a percepção dos efeitos dos laticínios na nossa saúde está sendo revista de maneira positiva. A exemplo do que aconteceu com o ovo alguns anos atrás, mesmo queijos mais saborosos estão sendo redimidos. Aparentemente, sua gordura não eleva o colesterol ruim do corpo. Ao contrário, seu consumo diminui riscos cardíacos, além de outras doenças.
Vestígios lácteos foram encontrados em cerâmicas de 6.000 a.C., provando que os laticínios são uma presença muito arraigada em nossa cultura. Tanto que dietas não costumam banir esses alimentos por completo, embora quem fique de olho na balança e nos níveis de colesterol costume preferir os queijos magros. Recentemente, também a questão das intolerâncias alimentares fez surgir uma enormidade de produtos substitutos, sejam sem lactose ou à base de plantas. Outro indício de que não é fácil abrir mão deles.
No entanto, hoje não há evidências que o consumo regular de queijo, independentemente do teor de gordura láctea que contenha, engorde. Esses achados recentes podem explicar, em parte, por que os franceses, que levam os queijos tão a sério e não vivem sem eles, em geral são magros.
Para completar, não só a gordura do leite não faz mal como pode, inclusive, fazer bem. Ela carrega uma membrana especial e única, que ajudaria a melhorar os níveis do colesterol bom no sangue. Ótima notícia para muita gente que tem no queijo uma paixão.
Para quem se conformou nas últimas décadas a consumir somente os mais magros, como ricota e cottage, vale dizer que, quanto mais duro o queijo, mais lentamente o organismo absorve sua gordura. O grupo do parmesão e do cheddar inglês também dá mais saciedade que o dos queijos macios. Na minha casa, costumo servir de aperitivo o manchego e o prima donna, que têm quase nada de carboidratos.
Apesar dos modismos em dieta e nutrição, sempre fui atenta aos laticínios, pelo cálcio e outros nutrientes que aportam ao organismo. Destinei a eles um espaço próprio no sistema que montei para perder peso quando precisei. Não à toa fico muito feliz ao ver os queijos como potenciais novos “mocinhos” da boa nutrição.
Embora as novidades ainda não sejam suficientes para mudar as diretrizes nutricionais vigentes, elas permitem que, como sugeria Epicuro, se inclua o queijo entre os prazeres naturais da vida, com a moderação de sempre. Como dizem os italianos, “o queijo é salutar, se comido pouco e devagar”.