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Coluna da Lucilia

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Caindo a ficha

O telefone chega jovem e sedutor aos 147 anos de idade

Por Lucilia Diniz Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 11h20 - Publicado em 10 mar 2023, 06h00

A gente usa celular para quê? Para mandar mensagens. Ler notícias. Reservar o restaurante. Fotografar a neta. Conferir uma receita. Ouvir podcast. Comprar. Rezar. Agendar o hotel das férias. Mais: escolher o roteiro das férias. Ver a previsão do tempo. Participar de teleconferências. Dar um google. Marcar a consulta no dentista. Checar o resultado do exame de saúde. Que mais? Ler, pesquisar, estudar. Divertir-se com o meme do dia. Mais alguma coisa? Sei lá, descobrir a origem de expressões como “cair a ficha”. Ah, sim, a gente usa o celular também para conversar.

A lista é bem maior, claro, mas esses itens, os primeiros que vêm à cabeça, são suficientes para afirmar que esse espantoso aparelhinho se tornou, em pouco tempo, central na nossa vida. Fique sem bateria na rua, e você terá arruinado boa parte do seu dia. A observação é ainda mais certeira em relação aos nativos digitais — as crianças e adolescentes que desenvolveram uma relação natural e intuitiva com as novas tecnologias. Para quem não tem limite, o mundo não é visto na tela — o mundo “é” a tela. Sim, esses precisam de aconselhamento urgente. Mas a maioria consegue separar o virtual do real de maneira saudável, tirando o máximo proveito do que esses telefones inteligentes têm a oferecer.

“Só não podemos nos esquecer do quanto a vida off-line também tem a nos oferecer”

Quando escrevi “pouco tempo” estava pensando no tempo histórico. As gran­des guinadas aconteceram nos últimos anos, com a associação entre telefonia e computação. Tudo começou com aquele celular que parecia um tijolo. Já o smart­phone é coisa dos anos 90. De lá para cá é novidade atrás de novidade, ano após ano. A mudança tem sido tão rápida que quase não há mais vestígio daqueles telefones fixos, de discar. Aliás, o próprio ato de discar é desconhecido das novas gerações. A internet está repleta de filmetes engraçados mostrando crianças que não sabem o que fazer diante do disco obsoleto.

Tecnologias costumam ser neutras, tudo depende do uso que delas se faça. Uma substância pode viciar, matar ou curar. Uma faca corta o queijo ou fere uma pessoa. E assim por diante. Com o celular não é diferente. O aparelho pode espalhar fake news ou contribuir para o bem da sociedade. Mas o potencial para ser um instrumento do bem é enorme. Há vinte anos, com a internet engatinhando, tive a chance de explorar as possibilidades dessa comunicação disruptiva ao estabelecer uma parceria, até então inusitada, com uma operadora de telefonia móvel, o que viabilizou o envio de curtas mensagens — “torpedos”, como se dizia — com dicas sobre como viver bem.

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Essa história toda me veio à mente porque — veja só! — neste 10 de março se comemora o dia do avô do celular, bisavô talvez: o telefone, apresentado ao mundo em 1876, por Graham Bell. Desde então, a evolução tem sido tão veloz que a língua não acompanha. “Cair a ficha”, por exemplo, expressão dos anos 70 usada até hoje, se refere a algo que virou peça de museu: os orelhões públicos que, devido à inflação, passaram a usar poucas fichas em vez de montanhas de moedas.

O telefone chega jovem e sedutor à senhoridade, já que o celular é hoje símbolo da era digital. Só não podemos nos esquecer do quanto a vida off-line também tem a nos oferecer.

Publicado em VEJA de 15 de março de 2023, edição nº 2832

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