Então é Natal, e o que você fez? A pergunta de John Lennon em “Happy Christmas (The War is Over)”, por aqui mais conhecida na versão de Simone dos anos 90, parece querer nos lembrar como é importante olhar a vida em retrospecto. Datas especiais são um convite a esse tipo de reflexão. Por isso resolvi aproveitar o clima natalino para relembrar o que compartilhei com você aqui neste espaço ao longo deste estranho 2020.
Pegos de surpresa por uma crise sem precedentes, tivemos que nos adaptar a uma realidade que parecia saída do universo da ficção científica. Mudamos nossos hábitos alimentares e sociais. O trabalho, para muitos, passou a ser remoto. A escola dos filhos, idem. Casamentos e batizados entraram em quarentena – ou migraram para o formato de videocall. Passamos a tomar aquela cervejinha ou taça de vinho em casa mesmo. E nunca fizemos tantos pães caseiros.
No tédio do confinamento, muitos aproveitaram para repensar velhos hábitos. Aqui na coluna discutimos muitas vezes como a quarentena foi uma oportunidade de rever a relação com nosso corpo, nossa alimentação, nosso trabalho. Uma chance, enfim, de se reinventar em busca de um estilo de vida mais saudável. As circunstâncias me fizeram refletir. Em uma coluna, ao abordar a situação de confinamento, comentei a elasticidade de nossos limites, reconfigurados a partir da realidade que se impõe. Em outra, sobre restaurantes fechados, observei que eles desempenham, como nenhuma outra instituição, o papel de agregadores da sociedade.
Mas nem tudo se resumiu à pandemia. Foi importante tratar também de assuntos a partir de uma perspectiva mais pessoal. Numa sexta-feira, contei como desbravei com minha família a Estrada Velha de Santos, numa aventura pela Serra do Mar que me remeteu ao caminho de Santiago de Compostela, que fizera ano passado com meu marido. São textos assim que me permitem transmitir um pouco de quem sou – meus gostos e paixões, minha visão de mundo, minha história.
Nada ocupou tantas vezes este espaço quanto o tema do bem-estar. Da tentação de beliscar guloseimas aos benefícios da hidratação, do consumo exagerado de doces e ultraprocessados ao papel fundamental dos produtores rurais, do perigo das dietas da moda às estratégias para manter a saúde na terceira idade, falamos de tudo o que impacta nossa saúde. Aproveitamos para discutir também a saúde da mente, especialmente em face das novas tecnologias. Afinal, em tempos de isolamento social, nunca foi tão importante saber manter uma “dieta digital” saudável.
Olhando para trás, percebo como é um privilégio poder tratar de assuntos tão variados em uma única coluna. Por isso, agradeço à Veja e a você, leitor, que me empresta sua atenção. Que possamos fazer o bem, ser generosos, trabalhar muito, saber descansar, dar asas à imaginação sem tirar os pés do chão, acreditar em nós mesmos, não desconfiar do próximo, amar sem moderação, fazer por merecer o eventual amor recebido e encharcar a alma com todas as artes. Que o sentimento de gratidão seja a tônica deste Natal. E que possamos, depois de um ano tão difícil, valorizar a ocasião singular de estar ao lado da família e daqueles que amamos.