Os Estados Unidos vacinaram, segundo os dados mais recentes, cerca de 57% de sua população contra a Covid-19 – sendo 49,1% completamente (com duas doses ou dose única) e 8% parcialmente (com apenas uma dose). O progresso da imunização levou o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), a anunciar em maio que pessoas completamente imunizadas contra a doença poderiam ser dispensadas do uso de máscaras. Mas isso mudou nas últimas semanas devido ao avanço da variante delta. Isso ficou ainda mais claro num documento interno do CDC, no qual a autoridade de saúde afirma que “a guerra mudou” contra a doença.
E mudou mesmo: a variante delta já responde por mais de 80% dos novos casos da doença no país. Empresas que preparavam a volta de funcionários aos escritórios adiaram os planos. As máscaras voltaram a ser necessárias em ambientes públicos fechados – desde maio, quem já havia sido totalmente imunizado estava dispensado de usar. Nas escolas de Nova York e Los Angeles, por exemplo, não só foi restabelecida a necessidade das máscaras como se discute realizar testagens semanais para que se possa frequentar atividades presenciais. Um contraste acentuado com a expectativa, manifestada pelo governo norte-americano, de que a vida normal estaria de volta a tempo para a comemoração do Dia da Independência (4 de julho) por lá. O avanço da variante delta também levou os EUA a outra decisão: manter as restrições para viagens internacionais. Pessoas que nos 14 dias anteriores estiveram no Brasil, África do Sul, China, Índia, Irã, Irlanda, países da Europa (espaço Schengen) e Reino Unido terão a entrada negada no país.
O documento do CDC (baseado em diversos estudos) diz também que a variante delta é tão transmissível quanto a catapora, doença altamente contagiosa, e seria capaz de causar infecções mais severas do que as outras cepas. O órgão informa, no entanto, que, apesar da capacidade de transmissão, pacientes vacinados estão mais protegidos e correm menos risco de hospitalização e morte.
Segundo dados recentes da Organização Mundial de Saúde (OMS), a variante delta já foi identificada em 132 países e responde pelo avanço acelerado da doença em todo o mundo: apenas em julho, as novas infecções cresceram cerca de 80% em ao menos cinco regiões do mundo. O Brasil, até a última sexta-feira (30), contava 247 casos de pessoas infectadas com a cepa – que já foi considerada pela OMS como uma das chamadas “variantes preocupantes”. Os dados do CDC mostram que pessoas com as chamadas infecções invasivas (casos que ocorrem apesar da vacinação completa) da variante Delta podem ser tão contagiosas quanto as pessoas não vacinadas, mesmo sem apresentar sintomas.
A imunização completa no Brasil está perto dos 20% da população, mas os indicadores já não estão mais tão negativos como se viu entre março e abril. A pressão sobre as UTIs tem diminuído em algumas cidades – em Curitiba, por exemplo, está em cerca de 60%; na cidade de São Paulo, em torno de 44%. O número de óbitos no país está em 556 mil, uma marca histórica triste e indelével, mas com o avanço da vacinação, a média móvel de novos óbitos ficou abaixo de mil pela primeira vez desde 20 de janeiro.
São dados modestos, que de forma alguma justificam o abandono das medidas de proteção, e comprovam que a vacinação, iniciada em janeiro, de fato fez a diferença. Com a volta das aulas presenciais, reforçar as medidas de proteção – uso de máscara, higienização constante das mãos e distanciamento – é essencial.
A variante delta é o novo capítulo do enfrentamento da pandemia da Covid-19. Apesar de haver outras cepas em circulação, acredita-se que ela representa o maior risco para a volta da normalidade. Manter as medidas de proteção ajuda a evitar novos contágios e a reduzir as chances do surgimento de novas mutações. O momento atual, com vacinação em curso em diversos países, é melhor que a situação de um ano atrás, quando sequer havia vacinas. É preciso manter o curso e acelerar a imunização. O risco da variante delta não deve ser minimizado. Para vencer de vez a guerra, temos de seguir por esse caminho.