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Claudio Lottenberg

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Mestre e doutor em Oftalmologia pela Escola Paulista de Medicina (Unifesp), é presidente institucional do Instituto Coalizão Saúde e do conselho do Hospital Albert Einstein
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Levando a telemedicina até os pacientes

Infraestrutura, formação de profissionais de saúde e legislação são alguns dos pontos em que ainda temos de avançar

Por Claudio Lottenberg
29 mar 2022, 17h44

A chegada iminente da velocidade 5G às telecomunicações brasileiras permitirá avanços em praticamente todas as áreas de serviços do país – e a da saúde será uma das mais beneficiadas. A telemedicina se tornou uma ferramenta vital para manter consultas e acompanhamentos nas fases mais agudas da pandemia, mas a internet mais rápida permitirá melhorias em outros segmentos do setor de saúde. Mas ainda existem etapas a serem cumpridas até que telemedicina e telessaúde passem a fazer parte definitiva da prática médica no país. Esse processo de implantação é objeto de uma aprofundada discussão no relatório “Diálogos Brasil – Reino Unido em Saúde Digital: Desafios e Oportunidades em Telessaúde” – resultado da colaboração entre o governo britânico e o Instituto Coalizão Saúde do Brasil (ICOS).

Uma dessas etapas é a infraestrutura. A velocidade 5G vai aumentar de forma exponencial o uso de conectividade no dia a dia, e os volumes de dados que vão trafegar serão igualmente grandes. Essa convivência ainda mais intensa com a conexão via internet móvel vai exigir modernização de equipamentos em muitos níveis. Outra etapa será a capacitação de mão de obra: o Brasil vai precisar de 797 mil profissionais de tecnologia da informação e comunicação até 2025 – mas os cursos de perfil tecnológico formam hoje apenas 53 mil pessoas por ano, contra uma demanda média anual de 159 mil profissionais, segundo estudo de dezembro de 2021 da Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação e de Tecnologias Digitais).

A formação de médicos e de profissionais de saúde também precisará de modificações para incorporar a telemedicina e a telessaúde. Certas noções de tecnologia que hoje são próprias (ainda que não exclusivas) de cursos das áreas de ciência da computação e engenharia terão de ser incorporadas. A conectividade, desde aplicativos de mensagens até a IoT (Internet das Coisas, na sigla em inglês), vai ser o campo de trabalho por excelência: dados de pacientes, sistemas de gestão, recursos didáticos, documentos legais, armazenamento em nuvem e mesmo manutenção de hardware – esses e outros elementos vão, em algum momento, ganhar espaço (ou mais espaço) nos currículos das áreas de saúde – e quanto antes, melhor.

A segurança jurídica é mais um elemento em que o Brasil precisa fazer significativos avanços. Nos EUA e no Reino Unido, a infraestrutura legal para a prática data da segunda metade dos anos 1990. Por aqui, teve início apenas em 2002 e, no início da pandemia, a telemedicina foi autorizada em caráter emergencial. Não há fim à vista para a pandemia – mas ela não vai durar para sempre. O ideal é que a regulamentação definitiva no país já esteja aprovada e em vigor quando esse momento chegar. Mas para isso, infelizmente, não há qualquer perspectiva ou plano efetivo de ação. Não podemos retroceder, uma vez que ela está cada vez mais integrada ao sistema de saúde brasileiro. Com a iminência da chegada da conectividade 5G, é preciso pensar em expandir o alcance da telemedicina e da telessaúde – o que só será possível com a regulamentação consolidada.

Mas não é preciso ver todas essas etapas esgotadas para que se possa ir adiante. Afinal, já vivemos em um ambiente em que médicos e pacientes criaram dinâmicas eficientes no atendimento, acompanhamento e mesmo tratamento remotos. A presença da tecnologia nos serviços de saúde permitirá reduzir custos ao sistema, que poderão trazer mais usuários à rede privada e, ao mesmo tempo, proporcionar um serviço de alta qualidade na rede pública.

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A expansão do alcance da internet permitirá levar atendimento e capacitação profissional a regiões onde hoje o acesso à saúde é precário. Médicos locais poderão contar com a assistência remota de colegas para uma segunda opinião, ou mesmo no acompanhamento de procedimentos cirúrgicos. Este passo, na verdade, representa a verdadeira equidade, que hoje tem sido lembrada como o quinto pilar de qualidade do Institute for Healthcare Improvement (IHI), uma das maiores organizações de saúde do mundo.

Isso vai requerer investimentos para incluir essas áreas menos assistidas. Segundo o IBGE, hoje 82% dos lares brasileiros têm acesso à internet – o que significa que pouco menos de 20% ainda não têm, ou têm de maneira precária. Serão necessárias campanhas para informar a população sobre como usar a telemedicina – o que talvez possa ser facilitado pelo aumento no uso de celulares e dispositivos móveis para ter acesso a diversos outros serviços, além da saúde.

Para que tanto a telemedicina como a telessaúde cheguem aos brasileiros, há, como vimos, uma espécie de roteiro a ser seguido. Autoridades, empresas e sociedade civil terão de realizar esforços para que cada etapa deste roteiro avance – e o processo já está em movimento. A chegada do 5G terá um efeito acelerador, e com o empenho de todos os envolvidos, a medicina no Brasil encontrará seu caminho para ser cada vez mais tecnológica, acessível e eficiente.

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