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Mestre e doutor em Oftalmologia pela Escola Paulista de Medicina (Unifesp), é presidente institucional do Instituto Coalizão Saúde e do conselho do Hospital Albert Einstein
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Estudos mostram ligação entre doenças oculares e sintomas depressivos

Cuidar da saúde dos olhos é uma contribuição para que se possa, quando chegar a idade – como escreveu Ray Bradbury –, 'encher os olhos de admiração'

Por Claudio Lottenberg
30 set 2022, 10h31

A idade pode levar as pessoas a se sentirem fragilizadas e mais vulneráveis, principalmente nos casos em que eventuais más condições de saúde imponham limitações. A pessoa sente que perde sua independência. Isso – essa sensação de vulnerabilidade aumentada – pode mesmo evoluir para um quadro de depressão. No que se refere à saúde ocular, isso já foi verificado em estudo, publicado na NIH (Biblioteca Nacional de Medicina dos EUA).

Esse estudo avaliou 584 pessoas com idades a partir de 65 anos, com perda de visão recente. O objetivo era examinar fatores de risco de depressão entre idosos que buscavam reabilitação para deficiência visual relacionada à idade. O levantamento detectou que 7% dos entrevistados tinham um quadro depressivo mais acentuado, e outros 26,9%, de uma depressão subliminar. Entre os fatores apontados na pesquisa apontados como significativos para depressão subliminar, não por acaso, estavam justamente: autoavaliação de saúde ruim; sensação de menos apoio social; sentimento de perda de eficiência.

Outra pesquisa, publicada pela revista Ophtalmology (da AAO – Academia Americana de Oftalmologia, na sigla em inglês), examinou 188 pacientes com DMRI (Degeneração Macular Relacionada à Idade) e sintomas depressivos. Esta também mostrou que uma parcela dos indivíduos examinados desenvolveu transtorno depressivo. Uma intervenção integrando saúde mental e visão subnormal reduziu a incidência desses transtornos. “Promover interações entre oftalmologia, optometria, reabilitação, psiquiatria e psicologia comportamental pode prevenir a depressão nessa população”, diz o estudo.

A DMRI afeta a mácula (que é a região central da retina, onde se forma a imagem), o que prejudica a visão central. Com apenas a visão periférica, executar praticamente qualquer tarefa diária corriqueira se torna um desafio, que piora com a evolução da doença. Além da idade como fator de risco, também pesam sedentarismo, hipertensão e obesidade. Junte-se a isso o fato de que a visita ao oftalmologista não costuma ser muito frequente pelos brasileiros – como mostrou um levantamento feito pelo Datafolha e publicado em agosto: cerca de 25% não se consultam com profissionais com regularidade. Sem cuidar da visão ao longo da vida, quando a idade chega os problemas se apresentam e, não raro, evoluem rápido. Uma outra pesquisa, realizada pelo IBOPE DTM a pedido da alemã Bayer, também evidenciou isso: uma grande parcela das pessoas de 55 anos de idade ou mais sequer ouviu falar de DMRI.

Em um mundo e um tempo em que um volume maciço e crescente de conteúdos – informação, comunicação, entretenimento etc. – nos chegam pelos olhos, devido à irreversível integração dos dispositivos digitais a praticamente tudo que fazemos, a saúde ocular tem de figurar entre as nossas preocupações. Até porque a idade chega para todos nós, e, como os estudos mostram, problemas de visão acabam afetando a saúde mental. E esta, entre os idosos, tem gerado um efeito profundamente perturbador: estudo com base em dados do SIM (Sistema de Informações sobre Mortalidade) e do Sinan (Sistema de Informação de Agravos de Notificação) mostra que a taxa de brasileiros acima dos 60 anos que tiraram a própria vida saltou de 6,8 a cada 100 mil habitantes em 2010 para 7,8 em 2019. Cuidar da saúde dos olhos é uma contribuição para que se possa, quando chegar a idade – como escreveu Ray Bradbury, em “Fahrenheit 451” –, “encher os olhos de admiração” e ver o mundo – que “é mais fantástico do que qualquer sonho que se possa produzir nas fábricas”.

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