Black Friday: Revista em casa a partir de 8,90/semana

Claudio Moura Castro

Por Claudio Moura Castro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Continua após publicidade

O protocolo da medicina

A ciência sempre conviveu com imperfeições e ceticismo

Por Claudio Moura Castro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 14h46 - Publicado em 30 abr 2020, 19h00
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Na evolução das proezas do Homo sapiens, a ciência é um bebê. Os gregos observaram a natureza e formularam hipóteses engenhosas. Mas não juntaram uma coisa com a outra. A medicina tradicional — incluindo a chinesa — sempre parou nas boas intuições. Mas a ciência cresceu e só foi entendida ao casar a teoria com a prática: imagine suas ideias, porém nada feito sem confrontá-las sistematicamente com o mundo real.

    No século XIX, surgiram avanços médicos apoiados em números. Semmel­weiss verificou que, nas enfermarias onde se lavavam as mãos, as fatalidades no parto eram menos numerosas. O epidemiologista inglês John Snow (1813-1858) marcou no mapa onde moravam as pessoas que haviam morrido de febre tifoide. Na física, soltando-se um frasco de hidroxicloroquina de um 3º andar, seja em Pisa, seja em Wuhan, ele leva o mesmo tempo para espatifar-se no solo. Por isso Galileu precisou de poucas observações para formular a lei da queda dos corpos. Mas nas áreas sociais e na medicina tantas variáveis influenciam os resultados que as regularidades só se tornam visíveis nos grandes números. Daí o reinado da estatística inferencial e da epidemiologia.

    Com os avanços metodológicos, tornou-se inaceitável prescrever um fármaco que não cumprisse um elaborado protocolo de testes. Análise de variância, duplo-cego, randomização, grupos de controle são os mantras sagrados dessa nova ortodoxia. Lá pelos anos 1970, a medicina baseada em evidência vira o credo oficial.

    “Como cidadãos, cabe-nos separar os fatos das ambiguidades malévolas”

    Com o atrevido coronavírus, exuma-se uma polarização que parecia enterrada. O vírus é danadinho, e os remédios sugeridos não foram devidamente testados. Há evidência, porém é solta e desencontrada, como é o caso da hidroxicloroquina. Criou-se um impasse. Os que a recomendam não estão mais mal servidos de certezas do que na medicina do passado. Mas não é ilegítimo o ceticismo de quem prefere esperar por provas mais confiáveis.

    Continua após a publicidade

    Comissões de ética se enfurecem com as falhas metodológicas de alguns testes. Mas a ciência sempre conviveu com informações incompletas e sujeitas a erros. Se os dados são imperfeitos, conta a convergência de resultados.

    Há duas agendas latentes na brigalhada. De um lado, o purismo daqueles aferrados aos protocolos dos testes e ao juramento de Hipócrates (nunca causar danos). No outro lado, estão os médicos da “trincheira”. Tentemos tudo. Se parece funcionar, por que não? Aliás, eles próprios tomam o contestado remédio. Alinhar-se com um ou outro lado não é uma decisão puramente científica. São riscos comparados com riscos. E o peso da morte, do sofrimento e da bancarrota tem valores diferentes para cada um.

    Há também a agenda política, necessária, mas sujeita a escorregões. Cada lado defende as ideias que lhe convêm. Tampouco aos cientistas não faltam crenças e preconceitos. O campo é minado. Há controvérsias legítimas entre os profissionais da saúde. Há o uso oportunista dessas discrepâncias. Há também um vulcão de palpites desencontrados nas redes sociais. Como cidadãos, cabe-nos aprender a separar os fatos das ambiguidades malévolas.

    Publicado em VEJA de 6 de maio de 2020, edição nº 2685

    Publicidade

    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Semana Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    BLACK
    FRIDAY

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    Apenas 5,99/mês*

    ou
    BLACK
    FRIDAY
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (a partir de R$ 8,90 por revista)

    a partir de 35,60/mês

    ou

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.