Sem conseguir furar bolha, Bolsonaro parte para o ataque
Estacionado nas pesquisas, presidente retoma ataques a rivais e ao Judiciário, para manter mobilizada sua própria base

O presidente Jair Bolsonaro bem que tentou mudar o tom do discurso e sair em busca de votos mais ao centro. Atravessou o 7 de setembro sem bater de frente com o Judiciário. Tentou sem sucesso fazer um aceno às mulheres. Exaltou sucessivamente cada item de seu pacote eleitoreiro aprovado durante a campanha. Foi da queda no preço dos combustíveis ao Auxílio Brasil de R$ 600 – que prometeu elevar a R$ 800 para quem conseguir um emprego. Mas nada trouxe o resultado esperado.
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Sem conseguir um movimento consistente nas pesquisas, Bolsonaro retorna nesta última semana do primeiro turno para sua zona de conforto. Nos últimos dias, o presidente resgatou alguns de seus hobbies preferidos: bater no PT, no Judiciário e no sistema eleitoral. O PL, seu partido, prestou-se a um papel central no plano: pagou pela elaboração de um documento questionando a segurança da urna eletrônica. Uma espécie de alerta do que vem pela frente.
É uma vacina, claro. Um aviso de que qualquer resultado que incomode ao presidente será motivo para tumultuar o processo. Mas é também uma forma de tentar manter mobilizada sua própria base, que não anda no seu melhor momento.
Seja nas redes sociais ou nas conversas de bastidores, o tom dos bolsonaristas de primeira hora mudou. Sumiram as previsões de uma grande virada, ressurgiram os ataques virulentos a adversários, à imprensa, às pesquisas. Nos bastidores, ninguém em sã consciência aposta todas as fichas numa vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva já no primeiro turno. Nem os mais fervorosos dos petistas. Mas, a depender das pesquisas, a chance, mesmo que pequena, existe.
Portanto, o que resta ao presidente agora é brigar por seu ingresso no segundo turno em boas condições. Um Lula forte demais abasteceria um movimento que começou a dar alguns sinais nesta semana, como a presença sólida de parte do PIB posando para a foto ao lado de Lula. Inclusive alguns empresários que já estiveram ao lado de Bolsonaro. Ou seja, se Bolsonaro deixou a desejar em conquistar eleitores fora de sua bolha, é indispensável que ele segure aqueles que estiveram ao seu lado.
O grau em que Jair Bolsonaro voltará a ser Jair Bolsonaro nos próximos dias ainda é incerto. Mas é provável que isso fique mais evidente na noite de hoje, no debate da TV Globo. A campanha adversária espera fogo pesado por parte do presidente. No seu próprio time, fala-se em expor a corrupção do adversário, refrescar a memória do eleitor. E, quem sabe resgatar, o antipetismo que tanto o ajudou em 2018.
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