Às voltas com ideia de divulgar uma “Carta aos Evangélicos”, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva vem se rendendo aos poucos à ideia de firmar um compromisso mais consistente com esse eleitorado. A elaboração do documento chegou a ser ventilada para esta segunda-feira. Mas as negociações nos bastidores já empurram a divulgação para o fim desta semana. De qualquer forma, o tema evidencia o tamanho da preocupação na campanha petista. Isso porque Lula sempre resistiu a fazer um aceno dessa magnitude a esse público.
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Em agosto deste ano, quando a campanha presidencial ainda começava oficialmente, o petista sentou-se com alguns de seus conselheiros mais próximos, em busca de um plano para ganhar os evangélicos. O motivo da reunião era justamente o crescimento consistente de Jair Bolsonaro nesse segmento, evidenciado em todas as pesquisas.
Lula ouviu manifestações tensas dos aliados, que diziam temer uma disparada do presidente puxado pelas igrejas. Na ocasião, segundo relatos feitos à coluna, Lula discordou radicalmente de seus interlocutores, que diziam que ele precisava “conversar diretamente” com esse público. Queriam que ele fosse a igrejas, posasse para fotos ao lado de pastores e fizesse postagens explícitas nas redes. Lula não gostou. Disse que não iria “fazer o jogo do Bolsonaro”, “cair nessa armadilha”.
“Eu não consigo me lembrar em eleição nenhuma de Lula rezando numa igreja evangélica. Ele não gostou nada de imaginar essa cena”, disse à coluna um aliado próximo do ex-presidente. Naquela época, Lula concordou em consultar especialistas e encomendar estudos para tentar entender melhor as demandas desse segmento. Também aceitou mobilizar pastores alinhados à sua campanha, para que ajudassem a pedir votos.
O rascunho da carta, cujo teor vem sendo divulgado nos últimos dias pelos jornalistas Andréia Sadi e Octávio Guedes, da Globonews, indica que a campanha petista dobrou-se diante do resultado das urnas no primeiro turno. Com a perspectiva de uma eleição muito mais apertada que vinha sendo projetando pela campanha, o documento deve ir muito além de tentar afastar fakenews como a de que, se eleito, irá fechar igrejas.
Há a expectativa de que o ex-presidente acene com a garantia irrestrita da liberdade religiosa e exalte o trabalho social feito pelas igrejas. Mais do que isso, Lula poderia garantir participação efetiva de evangélicos num eventual novo governo. E, não diferente do que faz seu adversário, o petista pode até citar a Bíblia, na esperança de se conectar com esses eleitores.
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