Grupo americano quer prédios envidraçados às escuras para evitar a colisão de aves migratórias durante a noite
Edifícios envidraçados tornaram-se um hit da arquitetura contemporânea. Sua multiplicação aconteceu especialmente a partir dos anos 1990, num esforço de criar prédios monumentais e que, ainda assim, pudessem transmitir leveza. Por dentro, a luz natural ajuda a reduzir os gastos com energia e torna o ambiente mais agradável. Por fora, seus efeitos colaterais preocupam ambientalistas. Nos Estados Unidos, um grupo chamado Lights Out […]
Edifícios envidraçados tornaram-se um hit da arquitetura contemporânea. Sua multiplicação aconteceu especialmente a partir dos anos 1990, num esforço de criar prédios monumentais e que, ainda assim, pudessem transmitir leveza. Por dentro, a luz natural ajuda a reduzir os gastos com energia e torna o ambiente mais agradável. Por fora, seus efeitos colaterais preocupam ambientalistas.
Nos Estados Unidos, um grupo chamado Lights Out tem exigido que os prédios envidraçados apaguem suas luzes durante a noite para evitar a colisão de aves migratórias. Elas voam à noite e se orientam pela luz das estrelas, mas, quando cruzam cidades, são confundidas pelas luzes artificiais e pelos reflexos em fachadas de vidro. O resultado é que um bilhão desses animais morre por ano ao trombar em superfícies transparentes, segundo estimativas do Serviço Florestal americano.
O Lights Out nasceu em Washington em 2010 por iniciativa da ONG City Wildlife, que replicou programas similares que deram certo em Toronto, Chicago, Nova York, Baltimore e San Francisco. Ele consiste em encontrar as aves que se machucaram ou morreram durante a noite ao trombar em prédios e então contá-las, catalogá-las e identificar os edifícios com maior potencial de prejudicar esses animais. O propósito é mostrar que, quando um pássaro morre numa trombada contra o vidro, não se trata de um evento isolado, e sim de algo que acontece em milhares de cidades do mundo todos os dias.
O trabalho do grupo começa cedo, pois precisam achar os pássaros caídos antes das equipes de limpeza da prefeitura ou das vassouras e pás de comerciantes e donos de imóveis. Às 5h30, duplas de voluntários começam a percorrer as ruas da capital americana munidos de lanternas e sacos plásticos do tipo ziplock e vão coletando as aves que encontram pela calçada. Os mortos são etiquetados e os que sobreviveram são levados para tratamento. As ações são fotografadas para depois integrarem uma galeria de imagens.
Anualmente, o Lights Out divulga um relatório com um balanço de suas atividades, números e dados. Em 2013, ano da edição mais recente, foram coletados 206 pássaros de 46 espécies. Um único prédio foi responsável pela morte de 39 dessas aves: o Thurgood Marshall, onde funciona a Justiça Federal americana. Considerado um dos mais belos de Washington, ele tem um enorme átrio central repleto de árvores e envolto por vidro. Desde o início do ano, os administradores do prédio concordaram em apagar as luzes durante a temporada migratória. Ativistas estimam que, desde então, as trombadas fatais foram reduzidas em 60%.
O problema é que menos luzes acesas durante à noite significa menos segurança nas ruas. A solução então seria não apagar, mas reformar esses prédios para que deixem de ser abatedouros de pássaros. Projetos que usam placas menores de vidro, ganham cores ou são envelopados por estruturas metálicas são considerados boas alternativas. Diretrizes para projeto e iluminação estão nos informativos da American Bird Conservacy, espécie de cartilha da arquitetura “bird friendly”. A associação recomenda também o uso de fitas adesivas em janelas de casas e apartamentos. Entre evitar a mortandade de pássaros com medidas simples e exigir que as cidades reduzam sua iluminação pública, a primeira opção parece mais viável e interessante para todos.
Por Mariana Barros
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