Conseguir comprar a casa própria é um dos maiores desafios vividos pelos europeus, revela pesquisa
“É fácil encontrar bons imóveis a preços razoáveis na cidade onde eu moro”. Você concorda ou discorda com essa afirmação? Poucas perguntas teriam como resposta um “discordo” tão numeroso quanto essa, pelo menos entre os europeus. A questão integra uma pesquisa feita com 49.000 pessoas pelo Eurostat, principal órgão de pesquisa da União Europeia, sobre a percepção dos […]
“É fácil encontrar bons imóveis a preços razoáveis na cidade onde eu moro”. Você concorda ou discorda com essa afirmação? Poucas perguntas teriam como resposta um “discordo” tão numeroso quanto essa, pelo menos entre os europeus. A questão integra uma pesquisa feita com 49.000 pessoas pelo Eurostat, principal órgão de pesquisa da União Europeia, sobre a percepção dos cidadãos daquele continente sobre as cidades onde vivem.
Em Genebra, na Suíça, apenas 3% concordaram com a frase, menor índice entre as 83 localidades pesquisadas. Paris, na França, e Munique, na Alemanha, aparecem em seguida, com 4% cada uma. Na média, de cada 5 cidades estudadas, 4 não atingiram nem 50% de concordância.
Isso ajuda a explicar por que esses países detêm alguns dos menores índices de propriedade de imóveis do mundo desenvolvido. Na Suíça, apenas 38% dos habitantes são donos do próprio teto, o mesmo para 41% dos alemães e 55% dos franceses. Para se ter uma ideia, no Brasil 75% têm casa própria, segundo o IBGE.
Essa variação nas taxas têm a ver tanto com os valores praticados pelo mercado como também com questões culturais e históricas. Na Alemanha, onde as guerras destruíram milhares de imóveis e causaram um enorme déficit habitacional, o aluguel tornou-se a norma — em Berlim, 90% das residências hoje são alugadas. Entram nessa equação políticas governamentais e impostos sobre transação de imóveis, fatores que diferenciam o país de outras nações europeias vitimadas pela guerra, mas cujo mercado funcionou de forma distinta. É o caso da Inglaterra, onde a acirrada disputa por imóveis fez os preços dobrarem nos últimos dez anos.
Seja como for, a casa própria não chega a ser propriamente um sonho alemão. Essa baixa procura pela aquisição de um “lar, doce lar” contribuiu para que os imóveis do país valorizassem apenas cerca de 3% na última década. A exceção fica a cargo das cidades com perfil mais globalizado, principalmente Munique e Hamburgo, que abrigam sedes de multinacionais, empresas de tecnologia, universidades e grandes instituições, e que, por isso, apresentam preços acima da média nacional. Não por acaso, os habitantes dessas duas cidades revelaram-se os mais insatisfeitos com o custo-benefício dos imóveis, segundo a pesquisa do Eurostat.
Embora cada nação tenha se acomodado de um jeito e o aluguel possa ter se mostrado uma boa opção em muitas delas, é verdade também que ninguém quer ter de arcar com aluguel na aposentadoria. Os valores podem até estar mais favoráveis aqui do que ali, mas de modo geral seguem fora do alcance da maioria dos cidadãos. Sem a ajuda financeira dos pais nem uma herança à vista, é quase impossível para um jovem europeu tornar-se dono do lugar onde mora. Taí. Finalmente algo mais fácil de conquistar numa cidade brasileira do que numa europeia.
E para quem se interessou pelo estudo, o site jornal britânico The Guardian traz o ranking completo das 83 localidades de acordo com cada aspecto urbano pesquisado: satisfação com ruas e prédios, existência de espaços públicos, serviços de educação e saúde, limpeza das ruas, barulho, qualidade do ar, administração local e nível de desemprego. Na média geral, os habitantes mais satisfeitos são os de Reykjavik, na Islândia. Os menos são os de Atenas, reflexo da recessão grega.
Por Mariana Barros
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