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Cidades da América Latina vivem boom no uso de seus espaços públicos

Pesquisa mostra que em São Paulo, Bogotá, Cidade do México e Buenos Aires as pessoas estão mais dispostas a sair às ruas

Por Mariana Barros Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 23h36 - Publicado em 27 jun 2016, 08h02
Cidade do México, onde a ocupação de espaços públicos está mais intensa

Cidade do México, onde a ocupação de espaços públicos está mais intensa (Fotos: Divulgação)

Uma onda de ocupação dos espaços públicos está se consolidando nas principais metrópoles da América Latina. A conclusão é de um estudo da agência global de relações públicas Edelman, que pesquisou o estilo de vida de moradores de São Paulo, Buenos Aires, Bogotá e Cidade do México. Em todas essas cidades, constataram que as pessoas têm estado mais à vontade para estar nas ruas, seja para encontrar amigos, protestar, trabalhar ou se divertir.

No último sábado, o prefeito de São Paulo Fernando Haddad oficializou o fechamento da Avenida Paulista para carros aos domingos e feriados — até agora, a intervenção ocorria em caráter experimental.

O uso maior de bicicletas é outro traço em comum entre as cidades latinas. Para falar sobre as novas tendências, Rodolfo Araújo, diretor de Pesquisa e Conhecimento na Edelman Significa, conversou com o blog Cidades sem Fronteiras.

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1) O estudo da Edelman aponta para uma retomada do espaço público pelos moradores das maiores cidades latinas. Que situações comprovam essa percepção?

Em todas estas cidades, pudemos observar a retomada e recriação dos espaços públicos por seus habitantes. Curiosamente, é a manifestação física de um fenômeno iniciado pelo ambiente digital: a maior conexão entre pessoas. Ela contribui para a disseminação de grandes causas, como a mobilidade urbana e as questões de gênero, por exemplo. Os indivíduos sentem a necessidade de se encontrarem na vida real para concretizar os debates iniciados virtualmente. E assim a cidade torna-se a plataforma de expressões políticas, artísticas, comportamentais e sociais.

2) Quais as diferenças na maneira como moradores de São Paulo, Buenos Aires, Cidade do México e Bogotá têm usado seus espaços públicos?

Na Cidade do México, por exemplo, há uma particular revitalização dos “barrios”. Cada área da metrópole tem uma espécie de identidade particular, que se valoriza por meio da gastronomia, arquitetura e cultura, onde contrastam o tradicional e o novo. Este movimento estimula o turismo interno, com maior procura por museus, hoteis, restaurantes etc.. Já em Bogotá, em decorrência do contexto nacional, a paz é extremamente relevante, enquanto em Buenos Aires assistimos a uma onda empreendedora, com espaços de coworking aos montes, além de ser uma capital que se consolida como turística e receptiva aos visitantes, sem perder seu intenso fervor político. São Paulo, por causa de sua enorme escala, vive esta reapropriação sob quase todos estes aspectos. Somos uma espécie de antena da região para o mundo, e o mais interessante é perceber nossa conexão com nossos pares latinos, mesmo quando muitas vezes nos pareçam distantes.

Ato pró-bicicletas na Cidade do México
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Caminito, em Buenos Aires

3) Em São Paulo, fechar avenidas para os carros e usá-las como área de lazer, como tem ocorrido na Avenida Paulista e no Minhocão, é reflexo de interesses locais ou seguem uma tendência mundial?

É uma tendência global. A ressignificação de grandes estruturas urbanas pode ser vista em Nova Iorque, com o Highline Park e Meatpack District, por exemplo, e Londres, em que diversas áreas foram revitalizadas antes das Olimpíadas de 2012. Na América Latina, há movimentos semelhantes no México, Buenos Aires e Bogotá. Em São Paulo, o desafio é ainda maior. Será preciso gastar muita energia para revitalizar o centro de maneira efetiva, atraindo empresas, pessoas, artistas, profissionais liberais, turistas e moradores.

4) E quanto às bicicletas? As ciclovias têm aumentado sua presença em outras metrópoles do continente?

Sim, o fenômeno paulistano pode ser visto em outras cidades do continente como, por exemplo, a capital mexicana, que vive os dilemas da mobilidade de forma muito semelhante. Em Bogotá, ocorre o mesmo. Os argentinos têm ligado esta prática também à valorização das atividades físicas.

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Ato pró-bicicletas na Cidade do México

Ato pró-bicicletas na Cidade do México

5) Em São Paulo, cresceu o uso dos espaços públicos, ao mesmo tempo em que as manifestações de rua se tornaram mais frequentes, sejam políticas ou de defesa de direitos (gays e femininos). Os dois movimentos estão relacionados? De que forma?

Sem dúvida. A cidade tem sido redescoberta como ponto de encontro das manifestações de diferentes correntes ideológicas e de pensamento. Ela é o palco, a arena em que os interesses convergem e divergem. Todos estão em busca da visibilidade. Uma vez nas ruas, podem ser encontrados e têm chance de verem suas expressões registradas e disseminadas nas grandes redes e veículos.

6) A capital paulista sempre foi marcada pela sofisticação (restaurantes, lazer, lojas etc). Mas o estudo de vocês aponta que a tendência atual é a de simplificar tudo. A sofisticação saiu de moda?

O conceito de sofisticação se reconfigurou como o que é essencial, sem excessos ou sobras. É impossível ostentar de forma inconsciente, sobretudo em um mundo que pede sustentabilidade, seja em atos individuais ou coletivos. A busca pelo que é central e autêntico ganha relevância. O significado e o acesso têm, hoje, maior valor que a posse e a ostentação.

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Foodtrucks em São Paulo, um dos exemplos da maior ocupação dos espaços públicos (Foto: )

Foodtrucks em São Paulo, um dos exemplos da maior ocupação dos espaços públicos (Foto: )

 

Por Mariana Barros

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