Olhando de longe, o antagonismo entre o PT e o PSDB na política atual é uma saborosa ironia. Há duas décadas, políticos tucanos e petistas eram compadres. Declaram apoio mútuo, compartilhavam pontos de vista e até planejavam disputar juntos a eleição presidencial.
Está na Folha de S. Paulo de 16 de abril de 1993: “O presidente do PSDB, Tasso Jereissati, admitiu ontem a hipótese de ser candidato a vice-presidente da República em uma chapa encabeçada pelo presidente do PT, Luís Inacio Lula da Silva”. Corria o governo Itamar Franco, e a vitória de Lula nas eleições do ano seguinte era dada como certa. O PSDB se apressou para anunciar que abriria mão de um candidato próprio para ficar com a vaga de vice do petista.
Fernando Henrique se tornou ministro da Fazenda em maio de 1993, mas isso não alterou os planos dos dois partidos. No PT, Lula era um dos principais defensores da coligação com os tucanos. “Sozinho, ficará difícil, muito difícil, para o PT ou qualquer outro partido de esquerda chegar à Presidência.”, disse ele em dezembro de 1993.
Em troca do apoio tucano a Lula, o PT apoiaria Mario Covas na corrida para o governo de São Paulo. Lula acreditava que a esquerda deveria se unir na eleição paulista, para evitar que o PMDB entrasse no segundo turno contra um candidato da direita, como Paulo Maluf. “O José Dirceu é um candidato forte, preparado, mas ele consciência de que, se houver possibilidade de fazer aliança nacional, nós poderemos rediscutir”, disse Lula à Folha em 21 de fevereiro de 1994.
Repare a data: fim de fevereiro, quatro meses antes de Fernando Henrique lançar o Plano Real. O sucesso do plano fez o ministro, que não era cotado nem para ser o vice de Lula, nem para o governo paulista, ganhar no primeiro turno aquela eleição e a próxima. Mario Covas seria eleito governador em São Paulo, iniciando a dinastia tucana no estado que dura até hoje. E os dois partidos amigos se tornariam os grandes adversários da política nacional.
@lnarloch