Avatar do usuário logado
Usuário
OLÁ, Usuário
Ícone de fechar alerta de notificações
Avatar do usuário logado
Usuário

Usuário

email@usuario.com.br
Oferta Relâmpago: VEJA por apenas 4,99
Imagem Blog

Caçador de Mitos

Por Leandro Narloch Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Uma visão politicamente incorreta da história, ciência e economia

Os ricos segundo as novelas e os intelectuais de esquerda

Por Leandro Narloch
18 Maio 2015, 14h58 • Atualizado em 5 jun 2024, 03h21
  • spiller-paraisopolis

    Letícia Spiller em “I Love Paraisópolis”: é assim que sociólogos da USP enxergam os ricos

     

    Continua após a publicidade

    Intelectuais de esquerda não costumam gostar de novelas. Dizem que os personagens são caricatos, que as histórias, rasas e simplórias, reproduzem estereótipos e preconceitos. Por isso é uma surpresa perceber que autores de novela e cientistas sociais da USP traçam o mesmo retrato dos ricos brasileiros.

    Nas novelas da Globo, a possibilidade de um personagem ser o vilão cresce com a renda. Odette Roitman, Laurinha Figueroa, Felipe Barreto, Félix: a turma do mal geralmente tem muitos dígitos na conta bancária. Também é assim (pelo menos até agora) na novela mais recente, I Love Paraisópolis. No primeiro capítulo, a rica e loira Soraya (Letícia Spiller), representante da elite branca, vislumbra a favela e desabafa: “Por mim eu jogava uma bomba nesse lugar”.

    Um retrato parecido vem dos intelectuais de esquerda. No último sábado, André Singer, professor de Ciência Política da USP e porta-voz do governo Lula, escreveu que Dilma “foi derrotada pela reunificação da burguesia em torno do rentismo, que é avesso de qualquer coisa que cheire a igualdade”. Em março, também na Folha, disse pior:

    Continua após a publicidade

    A classe média tradicional mostrou que tem horror à ascensão social dos pobres. É um fenômeno sociológico e político. Chega a ser uma rejeição ao próprio povo brasileiro.

    Singer não é o único a enxergar os ricos contrários ao governo como seguidores de Satã. Para Bresser-Pereira, ex-ministro dos governos Sarney e FHC, há no Brasil um “ódio de classe alta” (Letícia Spiller na novela!) que “decorre do fato de que o governo revelou uma preferência forte e clara pelos trabalhadores e pelos pobres”.

    Leio isso e já imagino a cena. Numa luxuosa sala no alto de um arranha-céu, homens de terno participam de reunião tensa. Os membros da elite rentista estão preocupados com a ascensão social dos mais pobres. “É terrível”, diz um deles. “Agora os pobres até compram leite! Ninguém mais me pede dinheiro no farol.” O homem que parece o líder da burguesia conclui: “Temos que unificar nossas forças contra os pobres e o PT”. O homem ergue o braço, balança o Rolex e pergunta: “Tô certo ou tô errado?”.

    Continua após a publicidade

    Ora, basta mudar de canal para desapegar-se dessas bobagens. Se é possível traçar alguma relação entre renda e personalidade, a mais correta seria oposta ao retrato das novelas e teses de esquerda. Pesquisas mostram que quanto maior a escolaridade (e, de carona, a renda) maior a tolerância entre classes, o respeito aos direitos humanos e a intolerância à corrupção.

    E se há alguma ideologia dominante na elite brasileira hoje, ela é justamente o contrário do rentismo. O sonho da maioria dos jovens riquinhos é inovar e empreender. Cursos e festivais de empreendedorismo têm filas e listas de espera de gente querendo arriscar suas economias numa oportunidade de negócio, numa forma de ganhar dinheiro resolvendo problemas dos outros. Abrir uma startup é hoje tão descolado quanto criar uma banda.

    Os intelectuais da USP estão tão isolados do mundo real e obcecados com as próprias ideias que mal concebem a possibilidade de sensatez ou boa intenção em opiniões divergentes. Como observou o economista Mansueto Almeida, André Singer e seus colegas acham que, se alguém se opõe ao governo, é porque tem ódio de classe, e não porque o partido causou bilhões de prejuízo à Petrobras, ou porque o governo aumentou a dívida pública para emprestar com juros subsidiados a empreiteiras ou porque as pedaladas fiscais afastaram investidores e vagas de trabalho. Estão tão convencidos de que estão do lado dos pobres que consideram seus adversários membros de uma sociedade secreta que planeja jogar uma bomba em Paraisópolis.

    Continua após a publicidade

    Pelo menos há nisso tudo uma boa notícia. Pra ter aulas com essa gente, não é preciso frequentar a USP. Basta ficar em casa assistindo a novela das sete.

    @lnarloch

    Publicidade
    TAGS:

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Domine o fato. Confie na fonte.

    15 marcas que você confia. Uma assinatura que vale por todas.

    OFERTA RELÂMPAGO

    Digital Completo

    A notícia em tempo real na palma da sua mão!
    Chega de esperar! Informação quente, direto da fonte, onde você estiver.
    De: R$ 16,90/mês Apenas R$ 1,99/mês
    OFERTA RELÂMPAGO

    Revista em Casa + Digital Completo

    Receba 4 revistas de Veja no mês, além de todos os benefícios do plano Digital Completo (cada revista sai por menos de R$ 7,50)
    De: R$ 55,90/mês
    A partir de R$ 29,90/mês

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$23,88, equivalente a R$1,99/mês.