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Caçador de Mitos Por Leandro Narloch Uma visão politicamente incorreta da história, ciência e economia
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“Os irmãos Wright usavam catapulta” e outros mitos em defesa de Santos Dumont

Foi legal ver o 14 Bis na abertura das Olimpíadas. Mas está na hora de admitir que os irmãos Wright voaram mais e voaram antes que o brasileiro

Por Leandro Narloch
Atualizado em 30 jul 2020, 22h08 - Publicado em 9 ago 2016, 03h00
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  • Alberto Santos Dumont foi um grande brasileiro, um homem admirável, mas, sorry, ele não inventou o avião. Os brasileiros precisam tomar uma atitude menos provinciana e admitir que os irmãos Wright voaram antes, voaram mais, voaram melhor. E que o 14 Bis não voava: dava pulinhos.

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    Dedico um capítulo do Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil a mostrar por que os argumentos mais frequentes em defesa do pioneirismo de Santos Dumont são papo furado. Eis um resumo:

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    Mito 1: “Os irmãos Wright só decolavam com catapultas”

    “O avião dos Wright não saía do chão com a própria força”, dizem os defensores do brasileiro, “porque eles usavam catapulta, uma força externa, na decolagem”. É verdade que os primeiros modelos dos Wright usavam catapultas. O mecanismo simplificava a decolagem e evitava solavancos. A partir do Flyer 3, de 1905, os irmãos prescindiram da catapulta. Como o trem de pouso não tinha rodas, usavam um trilho (sem declive) para guiar o avião. Depois do motor levar o Flyer a uma velocidade suficiente, o piloto o desconectava do trilho e levantava voo.

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    É preciso deixar isso claro. Em 1905, sem catapulta, sem força externa empurrando o avião, os Wright fizeram um voo de 39 mil metros. Em 1906, Santos Dumont fez um voo de 220 metros.

    Em 1908, quando os Wright enfim conseguiram atravessar o Atlântico e demonstrar sua invenção na França, os técnicos franceses questionaram o uso da catapulta. Wilbur Wright sequer discutiu. Decolou sem a propulsão externa. Voou e quebrou recordes do mesmo modo.

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    Mito 2: “Não há provas dos voos dos irmãos Wright”

    Wright-Brothers-Flying-Machine-Patent

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    Dê uma olhada na imagem acima. É o registro da patente número 821.393, referente a uma “máquina de voar”. Na descrição do projeto, os irmãos Wright definem sua criação:

    Nossa invenção é relacionada à classe de máquinas de voar em que o peso é sustentado por reações resultantes em aeroplanos sob um pequeno ângulo de incidência, através da aplicação de força mecânica ou pela utilização da força da gravidade.

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    Parece uma descrição perfeita de um avião, não? Os irmãos solicitaram o registro em 1903. A patente demorou para ser aprovada, mas nem tanto. Foi emitida em maio de 1906, seis meses antes de Santos Dumont ganhar prêmios com o 14 Bis.

    Além dessa prova, há diversos registros de voos dos Wright antes do 14 Bis. Em 5 de outubro de 1905, Wilbur Wright voou com o Flyer 3 durante 39 minutos, percorrendo 38,9 quilômetros. Sessenta pessoas assistiram àquela e a outras demonstrações; a Scientific American, meses depois, escreveu sobre o episódio.

    Um ano antes do 14 Bis voar 220 metros, a uma altura máxima de… 6 metros, os Wright já negociavam a produção em série de aviões para o Exército americano. “Precisamos saber se vocês desejam reservar o monopólio do uso dessa invenção, ou se permitirão que aceitemos pedidos de máquinas similares para outros governos, e para dar demonstrações públicas, etc.”, escreveram eles em outubro de 1905.

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    Mito 3: “A aviação teve vários pioneiros; Santos Dumont tem tanta importância quanto os Wright”

    É verdade que muitas pessoas contribuíram para a invenção do avião. Mas achar que Santos Dumont teve tanta importância quanto os Wright equivale a dizer que Anitta inventou a Bossa Nova. Santos Dumont ganhou fama como um balonista. Sua grande paixão eram os balões; ele começou a estudar asas planas a contragosto, por insistência dos colegas, que não paravam de ouvir boatos sobre o sucesso dos americanos com máquinas mais pesadas que o ar.

    Quando conheceram os Wright, em 1908, os franceses ficaram boquiabertos. Os americanos não só tiravam o negócio do chão como davam curvas e oitos no ar. Tanto domínio certamente não havia surgido de um dia para o outro. “Por muito tempo, os irmãos Wright foram acusados de serem impostores. Hoje eles são venerados na França e eu me incluo com prazer entre os primeiros a se corrigir”, disse Ernest Archdeacon, o milionário que dois anos antes deu o prêmio a Santos Dumont.

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    No mundo todo, a polêmica acabou ali. Depois do sucesso dos Wright na França, o brasileiro foi aos poucos sendo esquecido pelos franceses. Decidiu então voltar para o único país que ainda acreditava em seu pioneirismo: o Brasil.

    Resgate na sua memória a imagem do 14 Bis: ela se parece de alguma forma com um avião moderno? Agora veja, abaixo, o Flyer 4 voando em 1905 (um ano antes do 14 Bis). Deixo com você a resposta sobre quem contribuiu mais para a aviação.

    1905_Sept_29

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    @lnarloch

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