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Os caminhoneiros e a irrelevância dos sindicatos

Ivar Schmidt, líder do movimento que tem organizado a greve dos caminhoneiros, disse ontem ao site de VEJA que “abomina sindicato, associação, federação, confederação. Esses segmentos tentaram nos representar nas últimas décadas e nunca resolveram nossos problemas”. Veja só que curioso. Poucos sindicatos do mundo são tão protegidos quanto os brasileiros. A lei estabelece uma […]

Por Leandro Narloch
Atualizado em 5 jun 2024, 10h43 - Publicado em 27 fev 2015, 14h01
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  • Ivar Schmidt, líder do movimento que tem organizado a greve dos caminhoneiros, disse ontem ao site de VEJA que “abomina sindicato, associação, federação, confederação. Esses segmentos tentaram nos representar nas últimas décadas e nunca resolveram nossos problemas”.

    Veja só que curioso. Poucos sindicatos do mundo são tão protegidos quanto os brasileiros. A lei estabelece uma contribuição obrigatória dos trabalhadores – são R$ 3 bilhões que vão todos os anos para a conta de sindicatos, confederações e centrais sindicais. Os sindicatos tampouco precisam se preocupar com concorrentes, pois o governo reconhece apenas uma organização oficial por categoria.

    E, apesar de todos os privilégios, os sindicatos não conseguem representar os trabalhadores. Os caminhoneiros, uma das categorias com maior massa de trabalhadores no país, consegue parar o Brasil a despeito do sindicato para o qual contribuem.

    Eu disse acima “apesar de todos os privilégios”, mas talvez o correto seja “justamente por causa desses privilégios”. Nos países com liberdade sindical, onde o trabalhador pode escolher a associação que prefere e decidir se quer e quanto quer contribuir, os sindicatos precisam suar para conquistar associados. Organizam convênios, oferecem descontos em universidades e empréstimos a juros menores, têm piscinas, clubes, academias, anunciam na TV e representam os trabalhadores. A falta de dinheiro torna os sindicatos ativos e relevantes.

    No Brasil, é contrário: com dinheiro garantido por lei (a lei inspirada na Carta del Lavoro, de Mussolini), o sindicato é tomado pela preguiça e pela irrelevância. O diretor sabe que seu caixa estará cheio mesmo se ignorar os associados. É difícil achar um trabalhador brasileiro que veja retorno no dinheiro que o governo lhe obrigou a pagar à entidade.A lei criada para proteger os sindicatos acabou por sabotá-los.

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    Irrelevantes, sobra aos sindicatos apenas a função cartorial da rescisão de contrato e a luta partidária, a favor daqueles que lhes garantem tantos privilégios. Foi o caso da patético ato em defesa da Petrobrás organizado esta semana pelo PT, com apoio da CUT e do Sindicato Unificado dos Petroleiros de São Paulo. Participantes do ato agrediram justamente os trabalhadores que deveriam representar.

    Sindicalistas costumam desprezar o funcionamento do mercado e criticam quem acredita demais na mão invisível. Mal sabem que eles próprios estão sujeitos às forças do mercado.

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