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Mito: “o brasileiro ingere 5 litros de agrotóxicos por ano”

Por que tantos jornalistas confiam em estatísticas divulgadas por ONGs e ativistas?

Por Leandro Narloch
Atualizado em 31 jul 2020, 00h15 - Publicado em 22 out 2015, 14h44
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  • agrotoxico

    ONGs de combate ao agronegócio, como a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) e a Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, têm divulgado que “o brasileiro consome 5,2 litros de agrotóxicos por ano”. Jornais, revistas, sites e canais de TV engoliram e publicaram essa informação espantosa. Duas revistas disseram até que o brasileiro “bebe” essa quantidade toda de pesticidas, sem perceber que a estatística é um típico exagero criado por ativistas.

    O número de 5,2 litros é resultado da divisão entre o consumo de pesticidas no país e a população. É um cálculo grosseiro, que não leva em conta que:

    – Lavouras de exportação, como soja, algodão e milho, utilizam mais da metade dos agrotóxicos do país. Como o Brasil é o maior exportador agrícola depois dos Estados Unidos e da União Europeia, é natural que esteja entre os maiores consumidores de agrotóxicos. Mas daí há um bom caminho até sugerir que todos os produtos são ingeridos pelos brasileiros, pois os alimentos não são consumidos no Brasil.

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    – Boa parte dos agrotóxicos se destina a proteger plantações que não são de alimentos. Algodão (que exige uso intenso de pesticidas) e cana-de-açúcar são matéria-prima de tecidos e do etanol. Não vão parar na boca dos cidadãos.

    – Mesmo no caso de alimentos cultivados com agrotóxicos e consumidos por aqui, é falso afirmar que o brasileiro ingere ou bebe as substâncias. Herbicidas, por exemplo, são aplicados no começo do plantio, bem distante da época de colheita e da parte comestível das plantas. Além disso, um prazo de carência (o tempo entre a última aplicação do produto e a data da colheita) evita que substâncias perigosas terminem no prato dos consumidores. Como diz o engenheiro agrônomo Alfredo José Barreto Luiz, da Embrapa Meio Ambiente:

    Esse prazo é calculado para que as substâncias químicas ativas dos agrotóxicos já tenham se transformado em outras (pela ação da temperatura, luz, umidade etc.), restando em quantidade tão reduzida e diluída que não oferece mais perigo.

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    – A melhor unidade para medir o consumo de agrotóxicos é quilos por hectare, e não litros por habitante. Ao contrário da Europa ou dos Estados Unidos, o Brasil não pode contar com o inverno para exterminar pragas. Sem longos períodos de neve para conter insetos e ervas daninhas, os agricultores brasileiros (e de outros países tropicais) se valem de agrotóxicos. Além disso, podem aproveitar a terra por mais tempo que os países com inverno rigoroso. Isso explicaria porque consumimos tanto desses produtos por aqui. Mas a média brasileira não está tão longe dos países europeus. Segundo o IBGE, cada hectare cultivado do Brasil recebe 6,9 quilos de agrotóxicos. A França gasta 4,6 quilos por hectare; a Holanda, 9,4.

    Pode almoçar tranquilo: o brasileiro não ingere 5 litros de agrotóxico por ano.

    @lnarloch

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