Já se sabe há um bom tempo que a inflação aumenta a desigualdade, mas seria possível afirmar também o contrário, que desigualdade gera inflação?
Os economistas Roel Beetsma e Frederick van der Ploeg, da Universidade de Amsterdã, acham que sim. Para eles, em democracias pobres e desiguais, o governo tende a relaxar o controle da inflação para bancar políticas populistas.
Dado que em uma sociedade desigual a maior parte dos títulos do governo está na mão de poucas pessoas ricas, e dado que o partido eleito representa os interesses do eleitor médio, que é pobre, as políticas monetárias e fiscais vão beneficiar (pelo menos no curto prazo) esse eleitor. O ônus fica com o eleitor rico que vê suas economias serem corroídas pela inflação.
Do mesmo modo, países onde o eleitorado é mais jovem tendem a ter inflação mais alta, para prejuízo dos mais velhos e ricos.
“O partido no poder perceberá que é do interesse de sua clientela (o eleitor médio) impor o imposto inflacionário numa tentativa de tirar dos ricos para diminuir os impostos de todos. Portando, uma má distribuição de riqueza traz as sementes da inflação alta”, dizem os dois economistas.
A teoria parece precisar de ressalvas – muito economista diz, por exemplo, que a inflação prejudica muito mais os pobres ou pequenos investidores, que não conseguem se proteger tão bem da inflação quanto os ricos. Mas talvez a ideia ajude a explicar por que, na América Latina, o monstro da inflação sempre renasce.
@lnarloch