Como o petróleo salvou as baleias (e milhões de hectares de florestas)
O surgimento da indústria do petróleo, no século 19, foi a melhor notícia que ambientalistas poderiam ouvir em séculos
Porque libera carbono na atmosfera, o petróleo concorre com o carvão mineral como o grande inimigo de quem luta contra o aquecimento global. Conferências sobre o clima, como a de Paris esta semana, dificilmente discutem outra coisa senão a substituição dos combustíveis fósseis por energias livres de carbono.
Esse lado negativo do petróleo esconde suas imensas vantagens para o meio ambiente. O surgimento da indústria do petróleo, no século 19, foi a melhor notícia que ambientalistas poderiam ouvir em séculos. Possibilitou que a humanidade deixasse de depender de animais, de campos e de florestas para obter energia.
Cem anos atrás, as baleias trilhavam o caminho da extinção. Cerca de 50 mil eram caçadas por ano. A camada de gordura desses grandes mamíferos era a principal fonte de óleo de iluminação pública e matéria-prima para velas.
A baleia mais procurada era o cachalote, que guarda no crânio cerca de mil litros de espermacete, um líquido parecido com o esperma humano (daí o nome). O espermacete é matéria-prima para velas de chama limpa, duradoura e inodora. As baleias provavelmente teriam sido extintas se alguns capitalistas americanos não tivessem descoberto uma substância nova para produzir luz artificial: o querosene.
“Uma das mais extraordinárias criaturas do oceano foi poupada porque os seres humanos descobriram depósitos de plantas fósseis abaixo da superfície da terra”, diz o escritor Steven Johnson no livro Como Chegamos até Aqui.
Antes de descobrir que havia depósitos riquíssimos de energia embaixo da terra, o homem usava a natureza ao seu redor como combustível. Além das baleias (e pinguins, também usados na produção de óleo de iluminação), a descoberta do petróleo evitou que florestas se tornassem montes de lenha. Sem falar na revolução na agricultura possibilitada pelo petróleo.
De 1900 até hoje, a produtividade no cultivo da maioria dos grãos triplicou ou quadruplicou. O arroz rendia 2 toneladas por hectare em 1900; hoje cada hectare produz mais de 7 toneladas. A principal causa desse salto da produtividade foi a invenção dos fertilizantes artificiais. Por causa do nitrogênio sintético (a amônia, derivada do petróleo), conseguimos produzir mais comida no mesmo espaço – sem precisar avançar ainda mais sobre florestas. Caso abandonássemos os fertilizantes sintéticos e voltássemos à agricultura orgânica e manual dos nossos tataravôs, teríamos que empurrar a fronteira agrícola da Amazônia alguns milhares de quilômetros para cima.
É claro que o petróleo também teve consequências negativas para a natureza. Como quase tudo na história, sua descoberta não foi inteiramente boa. Nem inteiramente ruim.
@lnarloch