Opinião: Distanciamento histórico nos fará lembrar desta seleção
Erros de Tite e atletas - e competência belga - culminaram na eliminação, mas seleção brasileira de 2018 deixa bom legado
Por Luiz Felipe Castro
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Atualizado em 10 jul 2018, 11h54 - Publicado em 7 jul 2018, 11h26
Tenho 29 anos, e excetuando o penta em 2002 não lembro de a seleção brasileira voltar de um Mundial com a consciência de ter feito o que podia – e, neste caso, perdido para um bom time, cujos craques estiveram em um noite de brilho. Houve erros – a teimosia de Tite, mais um pesadelo de Fernandinho e um Neymar bem abaixo do esperado, entre outros. Mas não estrelas desleixadas e fora de forma como em 2006, um sentimento de vergonha como o 7 a 1 ou uma seleção insossa como a de Dunga em 2010. O sonho do hexa na Rússia acabou e, ainda que não de forma unânime, reaproximou o torcedor da seleção mais vitoriosa do futebol. Esta seleção deixa um legado importante e, com o passar dos anos, deve ser mais valorizada.
Tite repetiu diversas vezes que sua seleção favorita foi a de 1982, derrotada pela Itália de Paolo Rossi na “tragédia do Sarriá”. Ironicamente, seu time foi eliminado da mesma forma que o de Telê Santana, nas quartas de final, fazendo um bom jogo, mas cometendo erros fatais. A equipe de 2018 não ficará marcada no imaginário popular como a de 36 anos atrás, pois não apresentou futebol tão vistoso e também porque os tempos são outros. Enquanto Sócrates era um craque transcendental, que num dia ludibriava defensores com toques de calcanhar e no outro clamava pelo fim da ditadura, hoje Neymar sequer encara os microfones quando contrariado. Não há ninguém com o talento e a decência de Zico, nem a elegância de Falcão. Mas, ainda assim, foi o distanciamento histórico que transformou aquela seleção em um mito.
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Li e conversei muito sobre o tema: o técnico de 1982 também foi contestado – meu pai não cansa de contar sobre o personagem de Jô Soares que clamava “Bota ponta, Telê” – e até chamado de pé frio. Júnior “dormiu” e deu condições a Rossi, Toninho Cerezo jamais poderia ter cruzado aquela bola, Serginho, o camisa 9, abusou de perder gols… Foram várias justificativas para a derrota. Inclusive a eficiência da Itália de Dino Zoff – que assim como o belga Courtois, foi um muro na pressão final do Brasil.
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O grupo de 2018 também tem valores individuais. Thiago Silva, Marcelo e Casemiro são craques de suas posições. Coutinho tem um talento inegável e deverá ter outra chance para brilhar em Copas, como ocorreu com o belga Hazard. Neymar é quem sai mais queimado, sobretudo por seu comportamento. Terá de se reinventar, mas já tem seu nome entre os grandes craques do país – quando eles aposentam, a tendência é ter mais condescendência com eles, como ocorreu com os igualmente indomáveis Ronaldinho Gaúcho e Adriano.
Se não encheu de orgulho a torcida, a Copa da Rússia certamente fez perder o ranço deixado pelo Mineiraço em 2014. Desta vez, não houve arrogância ou despreparo da comissão – pelo contrário, em alguns momentos, as análises e participações dos auxiliares chegaram até a cansar. Tite, aliás, é um fenômeno, pois consegue ser extremamente enfadonho e carismático ao mesmo tempo. O “Titês” pode ser chato, mas não há como negar sua competência. Adenor Leonardo Bachi é um cara do bem e aliviou o clima na seleção, conseguindo se distanciar da sujeira que ronda a cartolagem da CBF. Se permanecer no cargo, terá uma boa geração para ser trabalhada e poderá usar os erros de 2018 como aprendizado.
Em tempos de crise política e econômica e um ambiente de animosidade em todo o país, o Mundial proporcionou momentos de diversão, como as aventuras do Canarinho Pistola, o “feiticeiro do hexa” e as canções que embalaram uma das torcidas mais participativa que a seleção já teve em Copas. O brasileiro volta à realidade, às vésperas de uma eleição presidencial caótica, mas, no futuro, deverá lembrar do time de 2018 com saudade – ou saudosimo.
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