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Balanço Social

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Um olhar diferente para as desigualdades do Brasil
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Apesar dos progressos, racismo na política ainda é marcante no Brasil

Percentual de candidatas eleitas negras e indígenas aumentou mais de 30% entre 2020 e 2024. Números, no entanto, continuam muito baixos, aponta levantamento

Por Andréia Peres 3 dez 2024, 08h30

Não há desenvolvimento sustentável sem igualdade racial. No Brasil, ainda estamos longe, muito longe disso. Em novembro, por conta do Dia da Consciência Negra, várias pesquisas foram publicadas mostrando como o racismo impacta o país. Uma das que mais me chamou a atenção foi a do Datafolha que entrevistou 2.004 pessoas de 16 anos ou mais em 113 municípios de todas as regiões do Brasil entre os dias 5 e 7 de novembro. Segundo a pesquisa, 59% dos brasileiros consideram que a maior parte da população é racista e quase a metade (45%) acredita que o racismo aumentou nos últimos anos. Ao serem perguntados onde o racismo está mais presente no Brasil, pouco mais de um quarto dos entrevistados (27%) indicou estruturas institucionais, como governo e empresas. Outros 13% apontaram tanto as estruturas institucionais quanto a atitude das pessoas.

APENAS 0,36% DAS VEREADORAS ELEITAS SÃO INDÍGENAS

A falta de representatividade de negros e indígenas na política é, sem dúvida, uma das pontas visíveis desse enorme iceberg, como sinalizou a pesquisa. Somados pretos, pardos e indígenas são 114,4 milhões de brasileiros, mais da metade da população, segundo o Censo Demográfico 2022. Apesar da grandiosidade desses números, das 10.491 vereadoras eleitas no Brasil todo em 2024 apenas 0,3% do total é indígena, 5,5% são pretas e 34,4% são pardas, segundo levantamento feito com exclusividade para a coluna por Julia Carrari, assessora técnica do Centro Feminista de Estudos e Assessoria (Cfemea).

Em relação a 2020, houve avanços, reconhece Clara Wardi, também assessora técnica do Cfemea e mestra em sociologia pela Universidade de Brasília, em entrevista à coluna. O maior salto foi na quantidade de candidatas indígenas eleitas: 37,5% a mais do que em 2020. O número de candidatas pretas e pardas eleitas também aumentou 24% e 15,1%, respectivamente.

“Apesar do aumento de mulheres negras e indígenas eleitas nos municípios, essas populações estão muito aquém de ter uma representatividade justa e as mesmas condições de participação nas corridas eleitorais em comparação a pessoas brancas”, lamenta Clara. Além disso, segundo ela, as candidatas indígenas e negras são mais suscetíveis a sofrerem diferentes tipos de violência política que vão desde a falta de acesso aos recursos eleitorais até ameaças e outras agressões, frutos do racismo e do machismo.

NEGRAS E INDÍGENAS ESTÃO SUBREPRESENTADAS

De acordo com o levantamento do Cfemea, no ano que vem, 727 prefeitas tomarão posse. Apenas uma delas é indígena e outras 240 são pretas e pardas. Números ainda irrisórios se considerarmos os 5.570 municípios.

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Os estados com o maior número de prefeitas eleitas foram Minas Gerais (68), São Paulo (67), Bahia (58) e Paraíba (54).

Sempre fico chocada com a quantidade de homens brancos em fotos oficiais, como a recente, do G20, no Rio de Janeiro. Encontrar mulheres, negros e indígenas nessas fotos é um desafio que lembra aqueles jogos de “onde está Wally?”.

“Desde a abolição da escravatura e, mesmo após a transição para a democracia no Brasil, foi negada à população negra a oportunidade de moldar políticas e a economia, na prática”, afirma Luana Ozemela, vice-presidente de Impacto Social no iFood, no prefácio do livro Números da discriminação racial: desenvolvimento humano, equidade e políticas públicas (Editora Jandaíra), de Michael França e Alysson Portella. Vencedora do Prêmio Jabuti Acadêmico, a publicação é leitura obrigatória para quem quer entender melhor o impacto da discriminação racial no país.

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Entre as barreiras mais difíceis de superar, Luana cita no texto o legado da desigualdade de oportunidades desde a escravização, que ela chama de “estoque de desigualdade”, e a hierarquização social e econômica em linhas raciais que produz mais desigualdades diariamente, o chamado “fluxo de desigualdades”.

“Precisamos de investimentos maciços e reformas políticas para reduzir o estoque e o fluxo de desigualdades raciais que os mercados estão produzindo a cada dia”, aponta.

Os números mostram que ela tem razão. Para mudar esse retrato, precisamos acelerar as mudanças e incluir muito mais mulheres negras e indígenas nas fotos e nos espaços de poder.

* Jornalista e diretora da Cross Content Comunicação. Há mais de três décadas escreve sobre temas como educação, direitos da infância e da adolescência, direitos da mulher e terceiro setor. Com mais de uma dezena de prêmios nacionais e internacionais, já publicou diversos livros sobre educação, trabalho infantil, violência contra a mulher e direitos humanos.

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