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Augusto Nunes

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Selfies na política

O passado virou tema de selfie, e a presença da Rússia moderna no universo dos pixels representa que ela também é uma grande potência

Por Fernando Gabeira
Atualizado em 30 jul 2020, 20h25 - Publicado em 18 jun 2018, 12h18
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  • Fernando Gabeira (publicado no Globo)

    Os sósias de Lênin e Stalin fazem sucesso na Praça Vermelha. E ganham um trocado com isso. Nos últimos tempos ganharam um novo ator: o sósia de Putin. Encontrei-os no metrô e achei-os meio abandonados na Copa.

    Talvez tenha sido a impressão do momento. Mas essa massa de jovens torcedores do mundo inteiro não parece ser a plateia adequada para os líderes da revolução bolchevique. A presença de Putin expressa uma certa continuidade com o período soviético. Mas apenas discretamente.

    Muitos jornalistas brasileiros aqui reclamam da burocracia russa. Sobretudo das dificuldades para obter entrevistas. É preciso escrever cartas com antecedência, papel timbrado e, quem sabe, até com firma reconhecida. Parece-me que isso é ainda um reflexo do passado, quando as entrevistas com correspondentes estrangeiros podiam ser vistas como uma traição ao país.

    Mas a burocracia atinge também os servidores mais simples. No fundo, a ideia geral é estabelecer um controle completo sobre tudo o que se passa no país. Nos metrôs, por exemplo, era proibido tirar fotos. Com a chegada dos celulares, como impedir que as nove milhões de pessoas que circulam pelos trilhos subterrâneos não tirem fotos?

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    Em algumas estacões, criaram um espaço com um desenho vermelho indicando que ali se pode fazer selfie. É uma concessão. No entanto, é ilusão supor que os russos não avançaram nos mecanismos de controle, a ponto de dispensar seus aspectos mais visíveis e até cômicos.

    Embora os dirigentes tenham confessado que passaram o primeiro e-mail em 2008, a verdade é que criaram um grupo especial para monitorar a internet. Na rede, estão os principais opositores. Inclusive o que mais incomoda o Kremlin: Alexei Navalny, solto no dia da abertura da Copa do Mundo.

    Todas as grandes manifestações russas foram articuladas na internet. E parece ser uma área que, apesar de monitorada, não sofre restrições aparentes. O encontro do eficiente serviço de inteligência russo com a revolução digital certamente provocaria um fato novo.

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    Hoje, os russos são acusados de muitas intervenções fora do país, inclusive nas eleições americanas. Antes da revolução digital, não só o setor espacial como o de defesa eram os pontos fortes da Rússia. Era natural que eles despertassem para o campo cibernético, hoje considerado mais perigoso que o próprio arsenal militar.

    Lênin, Stalin e Putin na Praça Vermelha são objeto não só de curiosidade política, mas de alguns milhares de selfies que talvez até as torcidas de futebol levem para casa.

    O passado virou tema de selfie. Mas o sósia de Putin está lá para lembrar a presença da Rússia moderna. No universo dos pixels, ela também é uma grande potência.

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