O governo brasileiro ainda não rompeu relações diplomáticas com a ditadura de Muamar Kadafi, há 42 anos no controle da Líbia. Anualmente, o Itamaraty abastece com boladas consideráveis as embaixadas que garantem um amistoso convívio com a Coreia do Norte (que não sabe o que é eleição há 62 anos, com Cuba (52 anos), com o Gabão (45), com a Guiné Equatorial (43) e dezenas de outros países subjugados há décadas por tiranias abjetas. A política externa da Era da Mediocridade adotou a velha regra dos bordeis: desde que pague a conta, em dinheiro, bens materiais ou favores, qualquer um pode ser freguês.
Como toda regra exige uma exceção, sobrou para Honduras. Em 2009, para neutralizar os projetos golpistas de Manuel Zelaya e garantir a realização da eleição prevista para novembro, a Corte Suprema, o Congresso e o Exército despejaram do palácio o presidente arrendado por Hugo Chávez. A crise agravada pela intromissão da Venezuela e do Brasil nos assuntos internos de uma nação soberana não impediu que o governo interino cumprisse o prometido. Candidato por um partido de oposição, Porfírio Lobo foi eleito presidente na data programada e empossado em fevereiro de 2010.
Passado um ano, o Brasil só não mantém relações diplomáticas com o governo democrático de Honduras. O decassílabo recitado pelo ex-chanceler Celso Amorim resume a discurseira dos farsantes: “As eleições não foram democráticas”. Conversa fiada. Coisa de sabujo. A disputa nas urnas foi chancelada sem ressalvas por observadores internacionais. A presidente Dilma Rousseff e o chanceler Antonio Patriota precisam livrar-nos imediatamente da herança absurda. Os hondurenhos talvez nem tenham notado que a embaixada que virou pensão continua fechada. Mas os brasileiros decentes não merecem contemplar por mais tempo outro monumento ao farisaísmo.