No meio do Roda Viva com Orestes Quércia, um dos entrevistadores limpou a garganta com um pigarro, caprichou na pose de inquisidor implacável e preveniu o alvo sentado no centro da arena:
─ Governador, vou fazer uma provocação.
Tensão no estúdio. Jornalistas se entreolham, intrigados. O entrevistado fica com o costado em riste enquanto agarra com as mãos os dois braços da cadeira. O provocador, que trabalhara na assessoria de imprensa do Palácio dos Bandeirantes, emposta a voz e vai à luta:
─ Como o senhor se sente ao saber que é considerado o melhor governador que São Paulo já teve?
A provocação era um elogio, espantei-me, já rabiscando um bilhete que chegou no intervalo às mãos do apresentador Jorge Escosteguy, meu amigo e companheiro de redação de VEJA. Tinha uma frase só: “A provocação que acabamos de ouvir comprova que certas demonstrações de pusilanimidade exigem muito mais coragem do que qualquer ato de bravura na mais terrível das guerras”. Escosteguy caiu na gargalhada e respondeu em voz alta: “Bota coragem nisso!”
A imprensa chapa-branca sempre existiu, mas naquela época poucos jornalistas oficiais ousavam ir tão longe quanto o entrevistador de Quércia. Pelo menos com gente vendo eram bem mais contidos, ou muito menos descarados do que os que andam confraternizando com a presidente Dilma Rousseff. Nesta quinta-feira, por exemplo, a dupla escalada pelo programa Hoje em Dia, da TV Record, transformou Patrícia Poeta num monumento à agressividade.
Sempre atento, Celso Arnaldo Araújo acompanhou o palavrório que adoçou com perguntas a favor e deslumbrados pontos de exclamação o café da manhã cenográfico. O texto do nosso grande caçador de cretinices está na seção História em Imagens, ilustrado por um vídeo de 2min17. Veja o bate-bola da trinca. Parece mentira. Lamentavelmente para o Brasil que pensa, é tudo verdade.