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Augusto Nunes

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O calvário da tradutora do Discurso sobre o Nada

Se só Celso Arnaldo consegue decifrar o dilmês, traduzir para o inglês o que diz Dilma Rousseff é mais complicado que marcar, sozinho, o ataque inteiro do Santos. Se soubesse disso, a angolana escalada para a missão impossível teria pedido demissão antes da chegada a Nova York da sucessora que Lula inventou. Acompanhe o calvário […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 15h14 - Publicado em 22 Maio 2010, 15h59

Se só Celso Arnaldo consegue decifrar o dilmês, traduzir para o inglês o que diz Dilma Rousseff é mais complicado que marcar, sozinho, o ataque inteiro do Santos. Se soubesse disso, a angolana escalada para a missão impossível teria pedido demissão antes da chegada a Nova York da sucessora que Lula inventou. Acompanhe o calvário da tradutora do Discurso sobre o Nada, resumido por Celso Arnaldo:

Eu cantei a bola. O tradutor de Dilma em Nova York seria levado à loucura ao perceber, já nas primeiras palavras, que a simultaneidade da tradução é uma impossibilidade humana na compreensão e na versão da fala de Dilma para qualquer idioma.

Dito e feito. Leio na Folha que a coletiva de imprensa no New York Palace teve problemas de tradução. O problema é Dilma — mas, em respeito à convidada, culparam o mensageiro.

A primeira parte de sua entrevista foi traduzida por um homem. Os tradutores simultâneos, não sei se todos sabem, têm normas rígidas de trabalho – não podem atuar mais do que duas horas seguidas, porque é uma das três mais estressantes atividades do mundo, dizem os especialistas.

No caso de discurso ou entrevista de Dilma, o tempo máximo de trabalho contínuo deve ser reduzido ao prazo de meia hora, estourando – findo o qual, o coitado é levado ao pronto-socorro mais próximo, com estafa galopante, olhos em midríase, pulso acelerado, delírios trêmulos, um quadro, enfim, de overdose.

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Efetivamente, esse primeiro tradutor pediu para sair depois de meia hora. Saiu cambaleando e precisou de ajuda para não desabar, sendo levado ao serviço médico da casa.

Entra em cena uma mulher, a angolana Marísia Lauré, que fala 12 línguas e domina inglês e português como Shakespeare e Camões. Ninguém melhor do que uma mulher para entender a alma e a fala de Dilma, certo? Errado.

Já nas primeiras frases, Marísia entrou em pane. Quando Dilma, discorrendo sobre o Banco Central, mencionou a expressão “autonomia operacional”, a tradutora, já em transe, esqueceu o “operacional”. Dilma percebeu, parou e, numa língua que remotamente lembrava o inglês, corrigiu: “Opereichional autônomi”.

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E veio à tona a repressora Dilma: “Eu peço para você traduzir literalmente, porque é complicado”.

Sim, é complicado. Dilma é mais complicada ainda. Ela passou a falar sobre privatizações e as empresas que devem permanecer públicas, como Petrobras, Eletrobras, bancos públicos. A tradutora esperou que a convidada concluísse a frase para traduzir. Ao final, Dilma conferiu com a platéia: “Não faltou da Petrobras?”. Não, não tinha faltado.

Na frase seguinte, Dilma ouviu o início da tradução e, achando que havia mais um erro, interrompeu Marísia. “No, no,no. Yes, yes, yes”, emendou, ao se dar conta de que a frase traduzida estava correta, arrancando risos da plateia atônita. E emendou: “Eu prefiro que você copie e faça porque se não eu vou quebrar meu raciocínio todo, tá bom?”

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Tava mais ou menos bom, porque a esta altura Marísia estava quase desmaiando com o raciocínio quebrado de Dilma. Preferiria estar traduzindo, sob chibatadas, o ditador King Jong-il em coreano – idioma que ela não domina.

Na pergunta seguinte, a angolana trocou “redução da dívida” por “redução de impostos”. Dilma a interrompeu novamente.

“Copia, minha santa, eu vou falar”.

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Nesse momento, a organização trouxe de volta o tradutor anterior – que, segundo testemunhas, entrou no palco empurrado. Chegaram a ver o brilho de uma lâmina em suas costas – mas a informação ainda carece de confirmação.

E a coisa foi indo, aos trancos e barrancos, como qualquer fala de Dilma, traduzida para qualquer idioma, mas sobretudo no original, em português.

Ao final da coletiva, Maurísia e Dilma se abraçaram. A tradutora, ainda com o olhar perdido, esgazeado, pediu desculpas e atribuiu o engano ao excesso de trabalho – de fato, cinco minutos traduzindo Dilma equivalem aos seis anos que Champollion gastou decifrando a Pedra da Rosetta.

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“Você trabalha muito bem”, disse Dilma, comprovando, mais uma vez, que mentir é sua melhor tradução.

Apenas uma dúvida: como verter “minha santa” para o português? My Saint, por acaso?

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