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Por Coluna
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Mundo da bola

Na Copa, uma grande diversão paralela é ver e ouvir os especialistas e suas verdades virando pó a cada partida

Por Heraldo Palmeira
Atualizado em 30 jul 2020, 20h23 - Publicado em 15 jul 2018, 22h22

Heraldo Palmeira

A cada Copa do Mundo, o mundo da bola se reúne numa festa de dar gosto —principalmente para os cofres da Fifa.

Além do jogo da bola, uma grande diversão paralela é ver e ouvir os especialistas e suas verdades virando pó a cada partida. Antes de começar o torneio e até os primeiros movimentos do jogo de abertura, a Rússia era quase ridicularizada pelos jornalistas esportivos. Passadas duas partidas e oito gols marcados, embalou a própria população e iniciou uma trajetória surpreendente que só parou na Croácia, numa quarta de final espetacular, definida na crueldade dos pênaltis.

A empolgação de Islândia, Croácia e Irã contaminaram a torcida, mesmo sem qualquer chance de ir muito além. México e Alemanha naquele jogo histórico, Portugal e Espanha numa epopeia que mostrou Cristiano Ronaldo na versão extraterrestre que ele costuma encarnar, foram os primeiros momentos eletrizantes do torneio.

O grande balaio tecnológico foi aberto, quebrou um velho tabu em favor da inovação e colocou definitivamente no jogo o VAR-Video Assistant Referees, sistema auxiliar da arbitragem que permite revisar jogadas polêmicas, mudar decisões de campo e até resultados dos jogos. Já poderia estar presente há muito tempo, ajudando a evitar vexames que entraram no imaginário popular, como a tal La mano de Dios de Maradona – ele mesmo uma lenda que tomou gosto pelo ridículo.

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O avançar da tabela foi eliminando os grandes astros, aqueles que teriam na Copa seu momento supremo, mas foram condenados à solidão do fracasso.

O mesmo tipo de solidão que ilhou Cristiano Ronaldo à frente de um Portugal pouco inspirado e incapaz de lhe dar assistência nos jogos seguintes. Ficou impossível carregar um time inteiro nas costas.

E o mundo também viu se repetir a apatia de Lionel Messi vestido na camisa argentina, sua incapacidade de demonstrar emoção, algo que realmente irrita o argentino tradicional, daquele enlouquecido por futebol. Tão apaixonado que fingiu não ver que o time não passava de um elenco de problemas que nem mesmo o supercraque seria capaz de resolver sozinho.

Na verdade, a seleção argentina que foi à Rússia era um saco de gatos, um amontoado de patotas de velhos jogadores que sequer deveriam ter sido convocados. E há muitos anos, o futebol dos hermanos paga o preço da bagunça na AFA, bem similar ao que ocorre na CBF, ambas com aquele aspecto de antro sempre driblando suspeitas, denúncias e vexames.

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Depois, renovou-se mais uma das lendas urbanas que atravessam copas e copas: o famoso pé-frio de Mick Jagger. Desta feita, espalharam que ele estaria na Rússia torcendo pela Argentina, que chegou à Rússia no mesmo avião utilizado pelos Stones em sua turnê europeia, com direito àquela atrevida língua vermelha estampada na fuselagem. Deu no que deu! I can’t get no satisfaction.

Pior para o futebol, que viu dois de seus artistas geniais deixarem a Rússia em clima de despedida e sem nunca terem levantado a taça maior da profissão. É do jogo, mas não deveria ser.

Antes de começar a Copa, eu tinha uma convicção: se o Brasil jogasse como vinha desde as Eliminatórias, a taça era uma possibilidade considerável. E a última partida de preparação, aqueles 3×0 contra a Áustria, era quase um roteiro porque os austríacos tinham estilo de jogo similar ao da Suíça, nosso primeiro adversário.

Mas o Brasil foi assustador contra uma Suíça sem qualquer inspiração, revelando todos os desequilíbrios táticos e emocionais que nos apavoram na hora H. Detalhe: chegamos a temer a Costa Rica, senhoras e senhores. Isso não é para qualquer um! Também pudera, ficamos emaranhados em bobagens como fragilidades emocionais de jogadores e inexperiências generalizadas.

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O torneio foi avançando e o mundo foi confrontado com as surpresas da Coreia, a alegria emocionante do Panamá contagiando sua torcida para festejar gols raros nas derrotas retumbantes. Japão e Polônia vaiados fragorosamente por praticarem o antijogo em benefício dos resultados. Inglaterra e Bélgica fizeram lá seu joguinho de comadres, pelo mesmo motivo. E a gente fica imaginando a situação de um torcedor que gastou os tubos para chegar à terra dos czares e assistir a um jogo do seu país, e encontrar em campo a presepada desses dois jogos, inclusive times reservas.

E chegaram as oitavas, época de choro, ranger de dentes e passaportes dos derrotados em jogos mata-mata sendo carimbados por ter chegado a hora de voltar para casa. Como dizem os cronistas, vira outro campeonato onde não se contam pontos, só vale ganhar.

Na primeira leva, a destroçada Argentina depois da correria dos meninos da França, que também deu lá seus apagões. E Portugal, mesmo com a super arma CR7, por não resistir ao Uruguai do principesco Edinson Cavani. Que no jogo seguinte viu morrer seu time quando ficou refém da panturrilha e o goleiro Fernando Muslera entregou a rapadura num frango monumental. Não seria mesmo Luis Suárez, o velho canibal que desapareceu em campo, que teria futebol suficiente para resolver sozinho.

Definidos os semifinalistas, a taça estava disponível para Bélgica, Croácia, França ou Inglaterra. Mais um momento de hegemonia europeia indiscutível. Pelo menos, quatro seleções que jogaram bom futebol na Rússia, nenhuma delas adotando retrancas ou catimbas. Menos mal para o esporte.

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Passo seguinte, a Inglaterra perdeu para a Bélgica num jogo insosso de quem está apenas cumprindo tabela. Um jogo que revelou Harry Kane, artilheiro da Copa e inflado a Hurricane pela imprensa, mais assemelhado a Bruce Kane – personagem solene e atrapalhado de Chico Anysio –, tal sua incapacidade de fazer alguma coisa relevante nas partidas mais difíceis. E o time de sua majestade voltou para casa sem assunto novo, falando da velha Jules Rimet erguida em 1966. Em casa. Com um gol duvidoso.

No lado belga, alguém levantou a teoria conspiratória de que a súbita notoriedade de Romelu Lukaku não agradou alguns companheiros mais famosos de time, já que a bola não lhe chegou muito nos últimos jogos, especialmente na última disputa – o homenzarrão foi substituído, não quis saber de conversa e foi embora direto para o vestiário. Saíram todos com a melhor colocação do país em copas, uma medalha de bronze no peito, e a federação meteu US$ 22 milhões nos cofres como prêmio pelo inédito terceiro lugar.

Depois da notícia de que aviões explodiriam as nuvens ao redor de Moscou, para que uma possível tempestade não molhasse o grande dia, França e Croácia entraram em campo numa tarde calorenta e de umidade alta, para resolver quem era o maioral da bola até a próxima Copa.

Fizeram o esperado grande jogo, com os olhos do mundo pousados sobre Kylian Mbappé. Começou morno, chato, com domínio inicial da Croácia, e incendiou a partir do primeiro gol francês. Ivan Perisic empatou e saiu mostrando a coxa esquerda inteira de músculos, e eu até temi que, logo, os maluquetes de plantão transformassem em gesto político algo que não passava do desabafo do jogador mostrando que estava recuperado da contusão naquele local, que quase o tirou da decisão.

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No segundo tempo, a França ligou sua máquina de moer em cima de um adversário extenuado por três prorrogações e um rosário de decisões por pênaltis, chegou aos 4×1 pelos pés de Antoine Griezman, Paul Pogba e Kylian Mbappé. O que fez seu goleiro Hugo Lloris entrar no clima do “já ganhou” que conhecemos tão bem no Brasil, e resolver driblar exatamente Mario Mandzukic dentro da pequena área. Ele, que fizera gol contra no primeiro tempo, estava louco para zerar seu passivo e mandou a bola para as redes, num dos gols mais idiotas já vistos num mundial. E que serviu para dar sobrevida à Croácia, que para sorte dos franceses foi apagando pelo cansaço físico desumano acumulado antes da final.

Ao fim dos acréscimos, apito final trilado por “sua excelência” Néstor Pitana, o argentino que leva para sua biografia a honra de também ter dado o apito inicial da mesma Copa. E as reclamações a respeito do primeiro gol da França – não teria sido falta em Antoine Griezman – completamente abafadas pela goleada dos novos campeões do mundo.

Gritarias à parte, vê-se que o VAR (árbitro de vídeo) agiu corretamente no pênalti a favor da França e em diversas outras ocasiões do torneio, mas ainda depende de critérios mais claros para amparar decisões cada vez mais justas, que terminarão por elevar o nível da disputa do esporte mais popular da Terra.

E o futebol ficará ainda mais irresistível quando a Fifa tiver o bom senso de quebrar mais um tabu e tirar de campo essa aberração chamada impedimento. Vai abrir e soltar o jogo, ampliar os espaços para os craques brilharem e ressuscitar o futebol arte. Afinal o campo de jogo é o mesmo desde sempre, centenário, enquanto a capacidade física dos jogadores multiplicou-se ao longo do tempo. Hoje, vemos os goleiros debaixo de suas traves e os outros vinte jogadores amontoados em um terço do gramado. Abolido o impedimento, que os técnicos mostrem competência para criar novas táticas defensivas.

Na premiação, a bela atitude dos franceses formando um corredor polonês para homenagear e festejar os croatas passando a caminho do pódio, que ganharam o ouro de ver seu Luka Modric escolhido o melhor jogador da Copa.

O pódio teve um contraponto à grandeza da festa, uma cena dispensável que dá a dimensão de Vladimir Putin: o mundo desabando em água e apenas ele, impassível, debaixo de um guarda-chuva sustentado por um assistente. E sem demonstrar qualquer constrangimento de ver o presidente da Fifa Gianni Infantino, o presidente da França Emmanuel Macron e, pior, a cativante presidente da Croácia Kolinda Grabar-Kitarovic ficando ensopados até a chegada de outros guarda-chuvas. A diplomacia e a elegância reclamavam se molhar junto, mas brincar na chuva não é para qualquer um!

E a França saiu para o abraço e para levantar a taça, numa vitória incontestável, apesar do chororô dos cronistas viciados em pachequismos, que passaram o jogo inteiro torcendo vergonhosamente contra, sendo parciais. Definitivamente, o extraordinário time e a campanha inesquecível da Croácia não precisavam deles.

Falou-se muito de uma nova ordem no futebol, cujos primeiros sinais apareceram na Rússia. Que essa verdade se mostre logo, inclusive nas telinhas da nossa televisão, pois o Qatar 2022 é logo ali.

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