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Augusto Nunes

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Merval Pereira: Abaixo do volume morto

Publicado no Globo MERVAL PEREIRA A presidente Dilma tem razão de ter achado “desastrosa” a fala do vice Michel Temer sobre a dificuldade de mantê-la no governo nos próximos três anos e meio com os níveis de popularidade que ostenta. Mas também tem razão o senador Romero Jucá quando diz que Temer disse apenas o […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 00h33 - Publicado em 5 set 2015, 19h25
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  • Publicado no Globo

    MERVAL PEREIRA

    A presidente Dilma tem razão de ter achado “desastrosa” a fala do vice Michel Temer sobre a dificuldade de mantê-la no governo nos próximos três anos e meio com os níveis de popularidade que ostenta. Mas também tem razão o senador Romero Jucá quando diz que Temer disse apenas o óbvio, fazendo uma análise realista sobre a situação política atual. O que é preciso entender é o que levou um político experiente e cauteloso como Michel Temer a falar com tamanha desenvoltura sobre temas que devem ser tabus para governantes que estejam no fundo do poço, como é o caso de Dilma.

    O vice-presidente estava tão à vontade na casa da socialite oposicionista que chegou a comentar com displicência a possibilidade de o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) impugnar a chapa presidencial vitoriosa, da qual faz parte. “Iria para casa feliz da vida”, disse ele, quando o normal seria contornar o tema, partindo do princípio de que não há nenhuma irregularidade a ser flagrada pelo TSE. Além do mais, dizer que deixaria o governo “feliz da vida” revela bem seu estado de espírito.

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    Mas não é a primeira vez em que Temer aborda de maneira pouco ortodoxa essa questão das contas de campanha. Tentou dizer que suas contas de campanha não estavam vinculadas às de Dilma, e, portanto, as irregularidades porventura encontradas deveriam ser cobradas apenas da candidata a presidente.

    O vice-presidente chegou a ir ao TSE falar sobre essa tese com ministros daquele tribunal, mas foi dissuadido de continuar com ela. Não há como desvinculá-lo das contas da campanha do PT, pois a chapa é comum e qualquer irregularidade de um dos componentes atinge o outro, mesmo que alguns gastos tenham sido contabilizados em contas separadas.

    O fato é que Michel Temer e o PMDB se afastam gradativamente do governo petista, e já não é prioridade para eles a manutenção da presidente Dilma no Palácio do Planalto. Dilma também nunca cuidou com atenção de seu principal aliado, e a relação entre ela e Temer nunca foi das mais pacíficas.

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    A gota d´água foi a ideia de criar a CPMF sem que ele fosse ouvido. Criticou a decisão, previu uma derrota acachapante no Congresso e na sociedade, e irritou-se com a incompetência política.

    A chapa foi formada pragmaticamente por Lula para garantir a eleição de Dilma, mas a relação do PT com o PMDB nunca foi tranqüila. A começar pelo próprio Lula, de cujo primeiro ministério não fez parte o PMDB.

    O então todo poderoso ministro Chefe do Gabinete Civil José Dirceu chegou a fechar um acordo com o PMDB, que foi desautorizado por Lula. Ficou famosa a exclamação do recém-eleito presidente ao saber que o então deputado Eunício Oliveira seria ministro. “Quem é esse tal de Eunício? Eu nunca vi, não sei quem é, por que vai ser meu ministro?”.

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    A partir daí criou-se a tese de formar a coalizão governamental na base da compra de apoios pontuais, que deu origem ao mensalão. Somente na segunda fornada de ministros é que o PMDB passou a fazer parte do ministério, ganhando força paulatinamente à medida que, com o escândalo do mensalão, Lula precisou do apoio do partido para evitar perder o próprio mandato.

    Eunício não apenas virou ministro como teve seu prestígio aumentado com o tempo, a ponto de ter conseguido recentemente emplacar um genro sem experiência no ramo em uma diretoria da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC).

    Portanto, a relação do PT com o PMDB sempre foi de aproveitamento recíproco, sem que nada os una em termos programáticos ou ideológicos. O PMDB, por sinal, sempre foi o maior obstáculo às tentativas do PT de fazer um governo autoritário, pois o partido tem um DNA democrático que vem da linhagem de Ulysses Guimarães, Tancredo Neves, Thales Ramalho.

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    O objetivo de controle dos meios de comunicação, por exemplo, é impossibilitado no Congresso pela presença firme do PMDB, que sempre se posicionou a favor da liberdade de expressão, apesar das críticas que recebe com frequência.

    A partir do “sincericídio” do vice-presidente Michel Temer, o segundo em curto espaço de tempo, vai ficar cada vez mais claro o distanciamento do PMDB a caminho de uma solução para o problema que é a presidente Dilma à frente do governo com um nível de popularidade “abaixo do volume morto”, como já constatou Lula recentemente.

    Aliás, o comentário de Temer tem muita semelhança com o de Lula.

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