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Augusto Nunes

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“Lula desponta para a irrelevância” e outras notas

Talvez a insignificância do ex-presidente petista esteja a nos dizer que o velho Brasil deixa de existir um pouco a cada dia

Por Valentina de Botas
Atualizado em 30 jul 2020, 19h58 - Publicado em 7 fev 2019, 17h10
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  • Valentina de Botas

    Sabe a condenação do Lula a 12 anos no caso do sítio em Atibaia? No mercado financeiro só se falava de outra coisa. Bolsa e dólar não se mexeram, a Terra não tremeu, clarins e tambores não acordaram o exército do João Pedro Stédile, as manifestações populares do Guilherme Boulos não houve por falta de povo. O ex-presidente, julgado desfrutando do amplo direito de defesa ampliado, também está sendo condenado à irrelevância merecida em razão do que deixou de fazer pelo país ao receber de Fernando Henrique Cardoso um Brasil pronto para continuar se modernizando e num contexto internacional favorável. Preferiu apostar em mazelas estruturais e inventar outras para ser imperador perpétuo no primitivismo. Está onde merece e o Brasil precisa deixar que o PT continue morrendo de petismo superando certa PT-dependência, especialmente por parte dos apoiadores do governo, em usar o ex-presidente e seu partido como nota de corte para a moralidade e a eficiência na gestão do país: não basta não ser o PT ou ser melhor do que o PT, pois isso talvez qualquer um seja; continuar usando a escumalha como álibi nos prende à estagnação, ao passado incessante de certo modo. O impeachment de Dilma Rousseff e a Lava Jato fraturaram a lógica dos cafajestes numa sucessão de espantos positivos que, de certo modo, projetam-se na derrota de Renan Calheiros para a presidência do Senado. O que o Brasil fará desse fato positivo ─ é sempre positivo que tal figura tenha menos poder ─, não se sabe, mas é importante que se previna de um perigo real: o de cair na cilada de combater pessoas, e não práticas.

     

    Manicômio ideológico

    O vice-presidente tem sido, como o restante da ala militar do governo, a figura mais sensata na atual gestão. Sua sensatez contempla um pecado irremissível na moralidade manicomial de apoiadores mais bolsonaristas do que o próprio Bolsonaro: como todo democrata, Mourão não guerreia com a imprensa. A chamada grande imprensa (agora extrema-imprensa), não os blogueiros do harém jornalístico do presidente que se definem pela extrema-adulação e pela desqualificação à divergência mesmo honesta. Para essa espécie deformada de jornalismo do Bolsonaristão, quem critica o governo só pode ser porque prefere um presidente petista, uma mentira metódica para asfixiar a crítica pertinente. Nesse manicômio ideológico, os devotos do presidente querem que Mourão se cale e, tolerando apenas convergência, já o declararam um comunista a serviço daquela mídia decidida a reinstalar o PT no poder. A acusação é desferida por quem, quando queria desqualificar o governo Temer dizia que o ex-presidente tinha sido eleito com a Dilma, e agora diz que Mourão não foi eleito com Bolsonaro: não se entra no Bolsonaristão-Olavistão, onde só a convergência é permitida, se não pelos portões do manicômio ideológico.

     

    Democracia, coisa de grego

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    O Ministro Sergio Moro apresentou um pacote para combater o crime organizado. Alguns criminalistas, juristas e procuradores elogiaram; outros disseram que ele pode ser melhorado e destacaram que algumas medidas podem ensejar dúvidas quanto à sua constitucionalidade, certos pontos têm menos efetividade do que parece, e por aí vai. Não se pretende aqui avaliar o pacote nem se negar a necessidade urgente de medidas nessa área. Todos sabemos que Moro, homem íntegro e sério, não está brincando de ministro e que encara o combate ao crime organizado como uma missão. Também por isso, abriu diálogo com governadores e já iniciou abordagens dos parlamentares. Está certo: o agora político Moro joga o jogo político.

    Destaco, isso sim, certas reações ao lançamento do pacote que lembram a atmosfera dos irrespiráveis anos petistas para os quais democracia é grego: 1 ─ porque era uma promessa de campanha; 2 ─ porque Bolsonaro venceu; 3 ─ porque Moro se chama Moro, é proibido discordar, discutir ou se opor ao pacote anunciado. Bem, 1 ─ promessa de campanha também era a extinção da EBC, no entanto a TVLula foi apenas convertida em TVBolsonaro; 2 ─ os votos de Bolsonaro lhe deram a vitória para a Presidência, não a vitória automática em toda e qualquer votação no Congresso, uma coisa é uma coisa e outra coisa é fazer política num espaço institucional, o Congresso, onde todas as correntes de opinião da sociedade (incluindo as derrotadas na eleição presidencial, condição que não as invalida porque se trata de outro domínio) estão representadas e o Poder Executivo tem de conversar com elas também, seus representantes votam e seus votos podem ser decisivos. Essa dinâmica reflete os ditos pesos e contrapesos da democracia, ou bastaria o presidente eleito tomar posse e colocar em prática tudo o que prometeu ou não na campanha; o Congresso seria mero despachante do Executivo. Isso é qualquer coisa, menos democracia. Não fosse assim, o PT teria obtido um terceiro mandato para Lula ou aprovado um pavoroso Plano de Direitos Humanos que, entre outros disparates, praticamente censurava a imprensa; 3 ─ Moro tem um inegável e merecido apoio popular, mas não detém a verdade e, imagino, deve ter consciência de que discussões e críticas honestas podem ajudar a melhorar o pacote apresentado. A pessoa e a trajetória do ministro não estão em questão, mas o conjunto de medidas. É sinal de maturidade política discutirmos não mais pessoas, e sim ideias.

     

    Reformas? Você disse reformas?

    A vitória Lorenzoni-Alcolumbre se deu num embate vergonhoso por parte de ganhadores e perdedores. Não foi resultado de articulação política, conversas e convencimento, e sim aquilo que se viu. Alcolumbre responde a dois inquéritos no STF e vem de uma oligarquia do Amapá, nada de nova política portanto. A mim isso não importa já que ele eleito está, pois política nova também se faz com a velha: quando a prática (sempre ela) da nova é pilotada por alguém da velha, por exemplo. Me importam as reformas. Mesmo com o voto aberto que contrariava o Regimento do Senado e era, segundo diziam, indispensável para derrotar Renan, Alcolumbre ganhou apenas com 42 votos, número mínimo abaixo do necessário para se aprovar uma medida provisória. O presidente do Senado terá de trocar o caos que lhe deu a vitória pela articulação. É disso que depende a aprovação das reformas. De resto, fica a reflexão: que país é esse em que um Renan reina por 24 anos? Não sei, talvez a crescente irrelevância do alagoano e a consumada irrelevância de Lula estejam a nos dizer que esse país deixa de existir um pouco a cada dia. Não há modo de isso não ser bom, que o Brasil não invente algum.

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