Fortaleça o jornalismo: Assine a partir de R$5,99

Augusto Nunes

Por Coluna Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Com palavras e imagens, esta página tenta apressar a chegada do futuro que o Brasil espera deitado em berço esplêndido. E lembrar aos sem-memória o que não pode ser esquecido. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
Continua após publicidade

“Lula desponta para a irrelevância” e outras notas

Talvez a insignificância do ex-presidente petista esteja a nos dizer que o velho Brasil deixa de existir um pouco a cada dia

Por Valentina de Botas
Atualizado em 30 jul 2020, 19h58 - Publicado em 7 fev 2019, 17h10
  • Seguir materia Seguindo materia
  • O ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva, participando da manifestação no protesto contrário ao governo do presidente interino Michel Temer. Se reúnem na Avenida Paulista em ato organizado pela Frente Brasil Popular e Frente Povo Sem Medo (em conjunto com PT, CUT, CTB) - 10/06/2016
    O ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva, participando da manifestação no protesto contrário ao governo do presidente interino Michel Temer. Se reúnem na Avenida Paulista em ato organizado pela Frente Brasil Popular e Frente Povo Sem Medo (em conjunto com PT, CUT, CTB) - 10/06/2016 (Jefferson Coppola/VEJA/Dedoc)

    Valentina de Botas

    Sabe a condenação do Lula a 12 anos no caso do sítio em Atibaia? No mercado financeiro só se falava de outra coisa. Bolsa e dólar não se mexeram, a Terra não tremeu, clarins e tambores não acordaram o exército do João Pedro Stédile, as manifestações populares do Guilherme Boulos não houve por falta de povo. O ex-presidente, julgado desfrutando do amplo direito de defesa ampliado, também está sendo condenado à irrelevância merecida em razão do que deixou de fazer pelo país ao receber de Fernando Henrique Cardoso um Brasil pronto para continuar se modernizando e num contexto internacional favorável. Preferiu apostar em mazelas estruturais e inventar outras para ser imperador perpétuo no primitivismo. Está onde merece e o Brasil precisa deixar que o PT continue morrendo de petismo superando certa PT-dependência, especialmente por parte dos apoiadores do governo, em usar o ex-presidente e seu partido como nota de corte para a moralidade e a eficiência na gestão do país: não basta não ser o PT ou ser melhor do que o PT, pois isso talvez qualquer um seja; continuar usando a escumalha como álibi nos prende à estagnação, ao passado incessante de certo modo. O impeachment de Dilma Rousseff e a Lava Jato fraturaram a lógica dos cafajestes numa sucessão de espantos positivos que, de certo modo, projetam-se na derrota de Renan Calheiros para a presidência do Senado. O que o Brasil fará desse fato positivo ─ é sempre positivo que tal figura tenha menos poder ─, não se sabe, mas é importante que se previna de um perigo real: o de cair na cilada de combater pessoas, e não práticas.

     

    Manicômio ideológico

    O vice-presidente tem sido, como o restante da ala militar do governo, a figura mais sensata na atual gestão. Sua sensatez contempla um pecado irremissível na moralidade manicomial de apoiadores mais bolsonaristas do que o próprio Bolsonaro: como todo democrata, Mourão não guerreia com a imprensa. A chamada grande imprensa (agora extrema-imprensa), não os blogueiros do harém jornalístico do presidente que se definem pela extrema-adulação e pela desqualificação à divergência mesmo honesta. Para essa espécie deformada de jornalismo do Bolsonaristão, quem critica o governo só pode ser porque prefere um presidente petista, uma mentira metódica para asfixiar a crítica pertinente. Nesse manicômio ideológico, os devotos do presidente querem que Mourão se cale e, tolerando apenas convergência, já o declararam um comunista a serviço daquela mídia decidida a reinstalar o PT no poder. A acusação é desferida por quem, quando queria desqualificar o governo Temer dizia que o ex-presidente tinha sido eleito com a Dilma, e agora diz que Mourão não foi eleito com Bolsonaro: não se entra no Bolsonaristão-Olavistão, onde só a convergência é permitida, se não pelos portões do manicômio ideológico.

    Continua após a publicidade

     

    Democracia, coisa de grego

    O Ministro Sergio Moro apresentou um pacote para combater o crime organizado. Alguns criminalistas, juristas e procuradores elogiaram; outros disseram que ele pode ser melhorado e destacaram que algumas medidas podem ensejar dúvidas quanto à sua constitucionalidade, certos pontos têm menos efetividade do que parece, e por aí vai. Não se pretende aqui avaliar o pacote nem se negar a necessidade urgente de medidas nessa área. Todos sabemos que Moro, homem íntegro e sério, não está brincando de ministro e que encara o combate ao crime organizado como uma missão. Também por isso, abriu diálogo com governadores e já iniciou abordagens dos parlamentares. Está certo: o agora político Moro joga o jogo político.

    Destaco, isso sim, certas reações ao lançamento do pacote que lembram a atmosfera dos irrespiráveis anos petistas para os quais democracia é grego: 1 ─ porque era uma promessa de campanha; 2 ─ porque Bolsonaro venceu; 3 ─ porque Moro se chama Moro, é proibido discordar, discutir ou se opor ao pacote anunciado. Bem, 1 ─ promessa de campanha também era a extinção da EBC, no entanto a TVLula foi apenas convertida em TVBolsonaro; 2 ─ os votos de Bolsonaro lhe deram a vitória para a Presidência, não a vitória automática em toda e qualquer votação no Congresso, uma coisa é uma coisa e outra coisa é fazer política num espaço institucional, o Congresso, onde todas as correntes de opinião da sociedade (incluindo as derrotadas na eleição presidencial, condição que não as invalida porque se trata de outro domínio) estão representadas e o Poder Executivo tem de conversar com elas também, seus representantes votam e seus votos podem ser decisivos. Essa dinâmica reflete os ditos pesos e contrapesos da democracia, ou bastaria o presidente eleito tomar posse e colocar em prática tudo o que prometeu ou não na campanha; o Congresso seria mero despachante do Executivo. Isso é qualquer coisa, menos democracia. Não fosse assim, o PT teria obtido um terceiro mandato para Lula ou aprovado um pavoroso Plano de Direitos Humanos que, entre outros disparates, praticamente censurava a imprensa; 3 ─ Moro tem um inegável e merecido apoio popular, mas não detém a verdade e, imagino, deve ter consciência de que discussões e críticas honestas podem ajudar a melhorar o pacote apresentado. A pessoa e a trajetória do ministro não estão em questão, mas o conjunto de medidas. É sinal de maturidade política discutirmos não mais pessoas, e sim ideias.

    Continua após a publicidade

     

    Reformas? Você disse reformas?

    A vitória Lorenzoni-Alcolumbre se deu num embate vergonhoso por parte de ganhadores e perdedores. Não foi resultado de articulação política, conversas e convencimento, e sim aquilo que se viu. Alcolumbre responde a dois inquéritos no STF e vem de uma oligarquia do Amapá, nada de nova política portanto. A mim isso não importa já que ele eleito está, pois política nova também se faz com a velha: quando a prática (sempre ela) da nova é pilotada por alguém da velha, por exemplo. Me importam as reformas. Mesmo com o voto aberto que contrariava o Regimento do Senado e era, segundo diziam, indispensável para derrotar Renan, Alcolumbre ganhou apenas com 42 votos, número mínimo abaixo do necessário para se aprovar uma medida provisória. O presidente do Senado terá de trocar o caos que lhe deu a vitória pela articulação. É disso que depende a aprovação das reformas. De resto, fica a reflexão: que país é esse em que um Renan reina por 24 anos? Não sei, talvez a crescente irrelevância do alagoano e a consumada irrelevância de Lula estejam a nos dizer que esse país deixa de existir um pouco a cada dia. Não há modo de isso não ser bom, que o Brasil não invente algum.

    Publicidade

    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Domine o fato. Confie na fonte.

    10 grandes marcas em uma única assinatura digital

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de 5,99/mês*

    ou
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (equivalente a 9,98 por revista)

    a partir de 39,90/mês

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.