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Editorial do Estadão: O Estado de Direito

Há ainda um longo caminho a ser trilhado pelo poder público, empresas e cidadãos para alcançar um maior compromisso com a lei

Por Augusto Nunes Atualizado em 30 jul 2020, 19h51 - Publicado em 30 mar 2019, 15h44

Segundo o ranking do World Justice Project (WJP), o Estado de Direito ainda é frágil no Brasil. O estudo classificou o País na 58.ª posição entre 126 países. Sua nota foi de 0,53, numa escala de 0 a 1. Abrangente e multidisciplinar, a pesquisa ajuda a dar uma dimensão realista sobre o quanto se pode e se deve avançar no fortalecimento do Estado de Direito. Desde a promulgação da Constituição, houve importantes progressos institucionais, mas seria um engano pensar que o País já alcançou um patamar minimamente razoável nesse tema. Há ainda um longo caminho a ser trilhado pelo poder público, empresas e cidadãos para alcançar um maior compromisso com a lei. Sem um vigoroso Estado de Direito, não há verdadeira liberdade e tampouco desenvolvimento econômico e social.

Criado em 2006, o WJP é uma entidade civil e apartidária que tem por objetivo promover o Estado de Direito no mundo, por meio de um diagnóstico acurado sobre os pontos fortes e as fragilidades de cada país, sob esse aspecto. Seu trabalho se baseia em quatro princípios: igualdade e responsabilidade de todos – governo e agentes privados – perante a lei, legislação coerente com os direitos humanos e as liberdades fundamentais, governo eficiente e transparente e sistema de Justiça acessível e imparcial. Para a edição do ranking de 2019, foram feitas 120 mil pesquisas domiciliares e 3,8 mil entrevistas com especialistas de 126 países.

A Dinamarca atingiu a nota mais alta no ranking (0,9), seguida por Noruega (0,89), Finlândia (0,87), Suécia (0,85), Holanda (0,84), Alemanha (0,84), Áustria (0,82), Nova Zelândia (0,82), Canadá (0,81) e Estônia (0,81). Na parte baixa da tabela estão Venezuela (0,28), Camboja (0,32), República Democrática do Congo (0,33) e Afeganistão (0,35). Na América Latina, o país mais bem avaliado foi o Uruguai (0,71), seguido de Costa Rica (0,69) e Chile (0,68).

A nota de cada país é o resultado da avaliação de oito fatores: limites aos poderes do governo, corrupção, transparência, respeito aos direitos fundamentais, ordem e segurança, efetividade das normas legais, funcionamento da Justiça Civil e funcionamento da Justiça Criminal. Cada um dos fatores é composto por vários quesitos. Por exemplo, em relação à corrupção, o estudo avalia, entre outros pontos, se os funcionários públicos utilizam-se do cargo para benefícios privados. Em relação aos direitos fundamentais, estuda-se, por exemplo, o respeito às liberdades de expressão, de crença e de associação ou se a privacidade dos cidadãos está devidamente protegida de interferências arbitrárias, como buscas domiciliares ou interceptações telefônicas sem autorização judicial.

Ao contrário do que alguns poderiam imaginar, o ponto mais fraco do Brasil não foi a corrupção, ainda que no quesito sobre a probidade dos integrantes do Legislativo o País tenha sido muito mal avaliado (nota 0,07) – o que revela a percepção da população sobre a política. O País recebeu sua pior nota pelo funcionamento de sua Justiça Criminal. Nesse fator, ficou na 94.ª posição entre os 126 países pesquisados.

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Em especial, três quesitos foram responsáveis pela baixa classificação da Justiça Criminal brasileira: grande incidência de discriminação, baixa efetividade das investigações e sistema decisório lento e pouco efetivo. Em relação à duração dos processos, a Justiça Civil também foi mal avaliada, recebendo nota de 0,26. Outro ponto da avaliação do País que chama a atenção foi a nota baixa dada ao cumprimento do devido processo legal (0,36). O único quesito no qual o Brasil ganhou nota máxima (1,0) foi pela ausência de conflitos civis.

É imprescindível acompanhar o desenvolvimento de um país sob a perspectiva do grau de efetividade do Estado de Direito. O respeito à lei, que também inclui a promoção de um Estado transparente e eficiente, é o único caminho para um verdadeiro desenvolvimento econômico e social. Como aponta o relatório do WJP, um Estado de Direito efetivo reduz a corrupção, combate a pobreza e protege os cidadãos de eventuais arbitrariedades, em suas múltiplas modalidades.

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