Assine VEJA por R$2,00/semana
Augusto Nunes Por Coluna Com palavras e imagens, esta página tenta apressar a chegada do futuro que o Brasil espera deitado em berço esplêndido. E lembrar aos sem-memória o que não pode ser esquecido. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
Continua após publicidade

Arnaldo Jabor: Sangue em Paris

Publicado no Globo A maior descoberta dos assassinos do Estado Islâmico foi a mídia. Foram as redes sociais. A Al-Qaeda dependia da decisão do líder Osama. Hoje não há mais um chefe total, mas milhares de jihadistas em rede. Osama era analógico, o EI é digital. Outra grande descoberta dos ratos de Alá foi o […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 00h05 - Publicado em 18 nov 2015, 09h38
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Publicado no Globo

    Publicidade

    A maior descoberta dos assassinos do Estado Islâmico foi a mídia. Foram as redes sociais. A Al-Qaeda dependia da decisão do líder Osama. Hoje não há mais um chefe total, mas milhares de jihadistas em rede. Osama era analógico, o EI é digital. Outra grande descoberta dos ratos de Alá foi o “indivíduo ocidental.” Não há mais um atentado puramente político ou religioso, mas a busca do grande horror que só a morte individual desperta. “Já pensou se eu estivesse lá?”

    Publicidade

    Como dizia o Stálin: “A morte de milhões é uma estatística; a morte de um só é uma tragédia”.

    Eles descobriram o uso da tragédia ao vivo, o furo em nossa compaixão, quando começaram a degolar pessoas diante das câmeras. A descoberta também da mise-en-scène: vídeos de alta resolução com os carrascos vestidos com um “terror fashion”, preto e amarelo, botas, capuzes, impecavelmente vestidos, chiquérrimos diante dos pobres diabos ajoelhados. Eles vêm marchando diante de uma bela praia, lindo sol no mar, e vapt! Degolam.

    Publicidade
    Continua após a publicidade

    E isso impressiona os jovens imbecis que enchem o mundo.

    Mais de dois mil ratos malucos foram lutar no EI; 500 já voltaram… Que farão eles? Parece que mataram o filho da p… inglês Jihad John, mas outros virão.

    Publicidade

    Eles também trazem a morte a lugares do prazer. Onde houver alegria traremos a morte — pensam — como na discoteca de Bali (lembram?) ou sexta-feira 13 no Bataclan de Paris. Escolheram Paris, o orgulho da civilização e da democracia. É lá que atacam.

    Continua após a publicidade

    Bataclan foi um ataque ao prazer, foi um ataque a tudo que amamos: a alegria, o sexo, a música, a liberdade, a beleza.

    Publicidade

    Outra coisa que nos fascina/apavora nesses ratos sujos é que eles querem atingir a plenitude do Mal, por si mesmo. Eles querem superar o demônio, desmoralizar o demônio.

    É preciso destruir a beleza dos monumentos, queimar vivos prisioneiros, cabeças cortadas, eles querem provocar nosso horror e cuspir na imagem de Bem que ainda professamos. Eles querem o mal absoluto. E o mal absoluto não pode ter motivo.

    Publicidade
    Continua após a publicidade

    Há alguns anos eu vi um homem sendo decapitado. Chegou um vídeo completo na TV e vi. Um bando de demônios de preto, gritando “Só Deus é grande!” agarram o pobre americano e lhe cortam o pescoço como o de um porco. Ele grita enquanto a cabeça lhe é arrancada, com o sangue que lhes suja as mãos, enquanto eles gargalham de felicidade, porque se sentem mais perto do céu: a cada cão infiel morto à faca eles sobem de ranking para a salvação.

    Na religião islâmica, a morte é um prêmio. Quando havia degola na Argélia, eles chegavam ao detalhe de decapitar os inimigos com uma faca rombuda, porque quanto mais o cara gritava, mais se enobrecia o degolador perante Alá. O terrorista também quer ascensão social: um fugaz poder com bombas no corpo, sucesso post-mortem e subida aos céus, para comer as mil virgens, as huris, dançando de odaliscas, enquanto as desgraçadas sem clitóris vestem burca. A guerra de nações está acabando. Agora é a guerra da teocracia contra a tecnologia. Foram atingidos: o ateísmo, o iluminismo, a arquitetura, a paz burguesa, o turismo, a sensação de invulnerabilidade, o consumo.

    A partir daí, todo mundo virou cientista político. Surgiram multidões de analistas de bom senso, tentando fazer a tragédia absurda caber numa narrativa coerente. Mas o terror não cabe na razão. De uma forma repugnante, a verdade do mundo apareceu. A América achava que chegaria a um futuro de paz e progresso.

    Continua após a publicidade

    Tudo o que fazemos tem o alvo da finalidade, do progresso. Os islâmicos já estão no futuro. Seu futuro é hoje. Não há passado. Nunca estiveram tão presentes como agora.

    O Islã não quer progresso. Quer o imóvel, a verdade incontestável. O Islã transcendeu o político há muito tempo. Suas multidões jazem na miséria, conformadas, perfazendo um ritual obsessivo cotidiano do Corão que as libertou da dúvida e da consciência de si.

    Nós temos a ilusão da liberdade. Eles nem sabem que porra é essa. Graças a Alá — pois Islã significa “submissão”. O “projeto” agora é procurar bombinhas em aviões, localizar bueiros com bombas e cartas venenosas. O Islã está nos expondo ao ridículo.

    Continua após a publicidade

    Acabaram também com o conceito de “vitória”. Não há mais vitória contra inimigos invisíveis. O homem-bomba não existe — ele se volatiliza em segundos. Sua força está em “não existir”. A grande arma secreta do Islã é o suicídio. Não o suicídio melancólico dos ocidentais, mas o suicídio triunfal, feliz, ativo, o suicídio como esperança.

    A chegada de Deus foi a maior novidade do século XXI. Esperávamos um grande triunfo, o futuro no presente. Só que Deus veio armado, Deus enlouqueceu com seu exército de fanáticos se matando e querendo nos destruir em nome de uma superstição, um ser que não existe. Quem diria que o novo século, tecnocientífico, sucumbiria a essas sinistras macumbas?

    Eles trouxeram a peste para o Ocidente. Eles nos odeiam, eles têm inveja de nós, porque vivem no lixo do deserto, nós somos civilizados, e eles, uma barbárie da Idade Média. E vamos parar com o papo meio “esquerdofrênico” de que estamos pagando pelo mal que lhes fizemos no passado. Nada disso. Não são mais “consequência” de nada, eles são a vanguarda de uma nova forma de morte, agora que tiveram a ideia de usar as máquinas do Ocidente, aviões e mísseis contra os infiéis. Pode? A morte não estará mais num leito burguês, com extrema-unção e a família chorando. A morte agora será um cachorro pelas ruas, atacando de repente. Que fazer contra esses ratos que infestam o Oriente Médio? Como atacar esta nova forma de crueldade?

    Mas, como resolver questiúnculas políticas lidando com gente como o Putin, por exemplo? Deveria haver uma coalizão séria entre os países ocidentais para ataques maciços conta os canalhas… Em suma, o que deveria ter sido feito logo no início, quando ainda dava tempo para derrubar o Assad.

    Mas, agora, talvez só reste aos países ameaçados a paranoia.

    Eles ganharam todas até agora, porque, como disse o mulá Mohammed Omar, com desdém: “Nós amamos a morte. Você sempre gostaram de viver!”.

    Publicidade
    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Domine o fato. Confie na fonte.

    10 grandes marcas em uma única assinatura digital

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo
    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de R$ 2,00/semana*

    ou
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de R$ 39,90/mês

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.