O comentarista Luiz Cazetta encaminhou à coluna o texto enviado pela jornalista Soninha Francine, ex-vereadora pelo PPS, em resposta a um eleitor que cobrou explicações sobre o apoio da antiga militante do PT ao candidato José Serra. O depoimento merece ser exposto na Feira Livre.
Posso explicar, sim. Talvez não em poucas palavras, mas em muitas informações sobre o que vi, vivi e aprendi nos últimos anos. Pra não deixar sem nenhuma resposta agora, posso resumir assim:
– Descobri que o meio em que eu vivia – de petistas – inventava muitas barbaridades sobre o Serra. Por que o Serra? Não sei, talvez porque ele tenha sido o candidato do governo à sucessão do Fernando Henrique, portanto rival direto do Lula na disputa presidencial…
Porque os petistas já pintavam os tucanos como o fel da terra (e eu, mesmo quando era do PT, achava isso um pouco absurdo), e o Serra como o próprio Satanás. Só que os fatos, mesmo vistos de longe, já desmentiam algumas coisas que diziam sobre ele: como ele podia ser “queridinho” da grande mídia quando comprava briga contra a publicidade de cigarro, por exemplo – que era uma baita fonte de receita para os meios de comunicação? E como ele era parte da elite imperialista internacional, quando foi à OMC e lutou contra os lobbys e cartéis da indústria farmacêutica, conseguindo as quebras de patente em nome da saúde pública dos países mais pobres?
Mesmo com esses fatos, eu acreditava nas versões do PT… Afinal, o PT era o meu partido, eu tendia a concordar com tudo… Pensava: “Ok, eles fez uma ou duas coisas importantes, corajosas, mas nem por isso é uma pessoa decente”. O PT dizia que ele era covarde, porque tinha “fugido” da ditadura… Que era um manipulador ardiloso, porque “armou” um flagrante pra Roseana Sarney (se bem que eu já pensava naquela época: o marido da Roseana Sarney tem um milhão e meio de reais de origem desconhecida e a culpa é do Serra?).
Enfim, eu o detestava. Até ser vereadora e ele, prefeito. E descobrir que o demônio que pintavam não era nada daquilo. Mal humorado, impaciente, carrancudo, ríspido demais às vezes? Sim. Mau caráter? Não.
Em 2005, começo do meu mandato, o Serra me recebeu (a meu pedido), ouviu atentamente tudo o que eu disse e reconheceu que estava equivocado em algumas medidas que havia tomado como prefeito. Na manhã seguinte, desfez o que tinha feito. Depois, me procurou inúmeras vezes para perguntar de assuntos que acreditava que eu conhecesse melhor do que ele – políticas de juventude, meio ambiente, cultura. Cansei de vê-lo pedindo idéias, sugestões, opiniões. O contrário do que diziam dele…
Enquanto isso, o PT – que era o meu partido – continuava inventando, mentindo. Uma barbaridade. Analisava um projeto de lei enviado á Câmara pelo prefeito, concluía que o projeto era muito bom e… No plenário da Câmara, fazia DE TUDO para barrar o projeto. Saía do plenário para não dar quórum, subia na tribuna e passava meia hora falando horrores de um projeto que TINHA CONSIDERADO BOM – apenas para prejudicar “os tucanos” na eleição seguinte. Mesmo assim, mesmo no meio da guerra mais suja – petistas espalhavam mentiras para assustar a população, uma coisa realmente horrorosa – se chegasse um Projeto de Lei de um vereador do PT e ele considerasse o projeto bom para a cidade, ele sancionava (isto é, aprovava).
E se chegasse um Projeto de Lei de um vereador do PSDB e ele considerasse o projeto ruim para a cidade, ele vetava. Aliás, nós ficamos amigos, e ele… vetou vários projetos meus. Ou seja, um comportamento REPUBLICANO, de respeito à Casa Legislativa e ao interesse coletivo. Mas o PT continuava espalhando que ele era autoritário, mentiroso, privatista, neoliberal… E que era repressor, “inimigo dos pobres”, “amigo das elites”, tudo de pior no mundo.
Mas o Serra ia fazendo coisas muito legais na cidade – criou a Coordenadoria da Diversidade Sexual, a Secretaria da Pessoa com Deficiência… O Centro de Juventude da Cachoeirinha, que é do cacete… Pegou um esqueleto que estava lá abandonado desde o Janio Quadros e fez um troço muito legal. Terminou o primeiro trecho do maldito Fura-Fila do Pitta, que também estava abandonado. Voltou atrás na história dos CEUS – porque essa foi uma das coisas que eu consegui convencê-lo de que ele estava errado – e mandou fazer vários outros, mantendo o nome “CEU” (bandeira da Marta…). Idem com os Telecentros – que os petistas diziam que ele ia “destruir”, transformar em Acessa São Paulo, que era bem diferente…
Criou a Virada Cultural. Fez os benditos hospitais de Cidade Tiradentes e do M’Boi Mirim – que o PT anunciava que a Marta tinha feito, quando na verdade ela não tinha começado nem a cavar o alicerce… Sem falar que a Marta, que passou os 2 primeiros anos de seu governo sanando as contas da prefeitura detonadas pelo Pitta, passou os dois últimos anos destroçando as contas da prefeitura – e deixou dívidas absurdas, contratos temerários de 20 anos assinados “no apagar das luzes”… O Serra deu muita força para a Secretaria do Meio Ambiente, que sempre era das mais pobrezinhas. E chamou para trabalhar com ele pessoas que tinham trabalhado com a Marta, sem a menor hesitação, sem rancor e ressentimento, porque considerava que elas eram competentes.
Enfim, eu VI, eu testemunhei, condutas absurdas do meu partido – e condutas admiráveis do Serra, que o meu partido pintava como o enviado do capeta.
Resultado: (lembre-se, este é um resumo, a história completa é uma enciclopédia) saí do PT, que foi se distanciando barbaramente dos ideais que pregava, adotando o “vale tudo” (pra governar, pra ser oposição), e fui para um partido de oposição. Que hoje apóia o Serra para presidente, assim como eu.
E eu nem falei do governo do estado… De mais uma seqüência enorme de mentiras e terrorismos, como de costume (“ele vai privatizar o metrô!”; “ele publicou decretos para acabar com a autonomia universitária!”), e, da parte dele, realizações admiráveis, mais ainda para quem ficou 3 anos e pouco no governo (e 1 ano e meio na prefeitura). Uma lista de pontos em que a atuação dele me agrada muito: trens metropolitanos, metrô, meio ambiente, cultura, pessoa com deficiência… E outros mais.
Se você odeia o Serra como eu odiava, eu sei que não vai mudar de idéia assim tão fácil. Não tenho essa pretensão. Mas gostaria que você acreditasse em mim: é com muita convicção que eu voto nele, baseada nos meus 6 anos de vida mergulhada integralmente na política.
Abração
Soninha