Um dos abismos que separam o grande tribuno do canastrão palavroso é a pausa dramática. Quando Winston Churchill, por exemplo, interrompia por alguns segundos o esplêndido encadeamento de frases, a Inglaterra inteira prendia a respiração enquanto aguardava em silêncio o ato seguinte do espetáculo da retórica. Quando Gilmar Mendes suspende o besteirol de vereador de grotão e passeia os olhos esbugalhados pelo plenário do Supremo Tribunal Federal, o Brasil que pensa cai na gargalhada.
Foi assim, nesta quinta-feira, durante a sessão que decidiu se Antonio Palocci merecia ser premiado com um habeas corpus ou permanecer hospedado na cadeia no Paraná. Excitado com a discurseira do imaginoso Marco Aurélio Mello, que acusou a Justiça Federal de torturar o ex-ministro de Lula e Dilma, Gilmar fez uma pausa depois de revelar que a Lava Jato é a versão brasileira da Santa Inquisição. Onde quem tem a cabeça em ordem vê um ladrão vocacional, o Churchill de galinheiro enxerga um inocente ardendo na fogueira.
Nascido em Diamantino em dezembro de 1955, titular do time da toga desde junho de 2002, Gilmar pretende, aos 62 anos, permanecer acampado no Supremo por mais 13. Podem apostar: não vai conseguir.