“A opinião de quem entende” e outras seis notas de Carlos Brickmann
Publicado na Coluna de Carlos Brickmann CARLOS BRICKMANN Um excelente jornalista, Ricardo Sérgio Mendes, jamais se deu ao trabalho de ler projetos de mudança da legislação trabalhista. Ia direto à opinião da Fiesp, a Federação das Indústrias, e demais entidades patronais, e explicava: “Se eles forem a favor, é porque eu vou me ferrar. Se […]
Publicado na Coluna de Carlos Brickmann
CARLOS BRICKMANN
Um excelente jornalista, Ricardo Sérgio Mendes, jamais se deu ao trabalho de ler projetos de mudança da legislação trabalhista. Ia direto à opinião da Fiesp, a Federação das Indústrias, e demais entidades patronais, e explicava: “Se eles forem a favor, é porque eu vou me ferrar. Se forem contra, então é boa para mim”.
Não é preciso fazer qualquer análise sofisticada para saber como vai o governo: se o maior banqueiro privado do país, Roberto Setúbal, apoia Dilma, é porque o governo Dilma é bom para ele e os demais banqueiros. Quem não for banqueiro que arque com as consequências e pague a conta. E sem reclamar.
Aliás, nem precisaríamos recorrer à sabedoria do velho jornalista: a própria propaganda de Dilma nos informou que, quando os banqueiros se articulam, a comida some da mesa dos cidadãos. E, agora como nunca, os banqueiros se articularam e ganharam prestígio: em vez de simplesmente assistir à nomeação de um dos seus para o comando da Economia, foram consultados oficialmente para saber quem a presidente reeleita escolheria para a Fazenda. Mandaram que fosse Joaquim Levy. Para obedecer aos banqueiros, Dilma rejeitou até Henrique Meirelles, o candidato de Lula: era banqueiro, mas não era o indicado pelos bancos.
E ninguém estranhe que Setúbal, cuja competência como banqueiro é reconhecida por todos, apoie um governo que se diz de esquerda e que condena a elite endinheirada de São Paulo. Este colunista, se fosse Setúbal, também seria Dilma desde criancinha. Quando é que os bancos ganharam tanto dinheiro?
Complementando
O banco dirigido por Roberto Setúbal anunciou que, para ampliar os lucros, vai fechar 15% de suas agências. O Sindicato dos Bancários é tradicionalmente petista (de lá saíram o ministro Ricardo Berzoini, o tesoureiro do PT João Vaccari Neto, o ministro Luiz Gushiken e Sérgio Rosa, da Previ).
Irá protestar contra um aliado tão bom só para defender os empregos de seus associados?
Poeta quando calada
Dilma Rousseff nunca falha: na entrevista que concedeu à Folha, Estadão e O Globo, disse que para enfrentar o baixo crescimento fez uma “política pró-cíclica”. Ou seja, em português correto, sua política buscava sustentar o ciclo de baixo crescimento. Mas Dilma pretendia dizer o contrário, que fez uma “política anticíclica”, ou seja, buscando reverter a estagnação. Foi traída pelo dilmês. Disse ainda que não tinha percebido que a economia estava tão deteriorada.
Conclusão do jornalista Cláudio Humberto: “Ao admitir, um ano e meio depois, que não percebeu a gravidade da crise, agora é oficial: Dilma não precisa de oposição para chamá-la de incompetente”. Conclusão do jornalista Gabriel Meissner: “Se até Dilma percebeu que a crise é grave, a coisa está bem feia”.Erro repetidoEquivocam-se os que denominam de Tico e Teco os dois famosos neurônios. Os nomes não vêm dos desenhos de Disney, mas de outro filme: Débi e Lóide. Ainda pode piorarDilma e seus aliados estão mais otimistas, achando que a declaração de Roberto Setúbal e a incapacidade do PSDB de se unir para escolher seu caminho dão um bom fôlego ao governo. Como diria um personagem conhecido, menas, menas: há muitos focos de crise ainda intocados. O PMDB, por exemplo: hoje à noite, reúnem-se parlamentares do partido para discutir como afastar Dilma sem precisar do apoio de Aécio e Alckmin. O grupo de Renan não vai; mas, se achar que os opositores de Dilma são mais fortes, adere na hora. E Michel Temer, embora não vá mexer uma palha, ao menos em público, para derrubar a presidente, não reclamará se o poder cair em seu colo. Há também o depoimento do presidente do BNDES, Luciano Coutinho, na CPI da Câmara. Em princípio, Coutinho, que é do ramo, tem tudo para sair-se bem; mas, se algum deputado tiver estudado o assunto, talvez possa criar-lhe (e ao governo) alguns problemas.A ponte para o futuroUma das condições básicas para qualquer retomada do desenvolvimento e superação da crise econômica, a segurança jurídica, é o tema de um simpósio dos mais importantes, que a Sociedade de Estudos Jurídicos Brasil-Alemanha, Sejubra, promove no próximo dia 20 em Joinville.
Dois ministros do STJ, Ricardo Villas Bôas Cueva e Marco Aurélio Gastaldi Buzzi, falam sobre o tema para investidores alemães. Segurança jurídica é, para o investidor, um assunto essencial.
O pó da História
Muita gente indignada com o presidente boliviano Evo Morales, que disse que, “se houver golpe”, ele e os bolivianos “vão defender a democracia no Brasil”. A interpretação é de que Morales ameaçou agir militarmente (o que não chegou a dizer). Mas não há motivo para preocupação. No final do século 19, vitorioso na guerra franco-prussiana, o primeiro-ministro alemão Otto von Bismarck foi informado por um jornalista de que a Grã-Bretanha, enfraquecida pela Guerra da Crimeia e há longos anos enfrentando apenas lutas coloniais, ameaçava intervir na Europa.
O jornalista quis saber qual seria sua reação se os ingleses desembarcassem. Bismarck não hesitou: “Ora, chamaria a Polícia!”