Publicado na coluna de Carlos Brickmann
O alvo da vez é Robson Marinho, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, ex-chefe da Casa Civil do governador Mário Covas. A Procuradoria da Suíça, em relatório de 282 páginas com 90 documentos, acusa Marinho de ter recebido US$ 1,1 milhão numa conta secreta no Crédit Lyonnais de Genebra; e transcreve depoimento de Michel Cabane, executivo da multinacional francesa Alstom no Brasil, em que diz que Marinho recebeu propina, para facilitar as coisas para o Projeto Gisel, da então estatal Eletropaulo. Note-se: este não é o caso do cartel do Metrô e dos trens metropolitanos. É outra denúncia.
Mas convenhamos: o Governo não é apenas uma pessoa. Há toda uma estrutura montada para avaliar a legalidade de atos e contratos, investigar a possibilidade de fraudes, verificar se está tudo correto, em termos jurídicos. Se alguém fez o que não devia, não o fez sozinho: contou no mínimo com a omissão ou o silêncio de outros que deveriam estar alertas para coibir irregularidades.
Este colunista tem certeza de que o governador Mário Covas era um homem honesto. Mas foi em seu Governo, o primeiro da série tucana, que certas empresas pequenas cresceram muito ─ uma passou de terceirizadora de mão de obra a acusada de participação no cartel do Metrô. Houve o leite da Febem, que era vendido ao Governo, no atacado, pelo preço cobrado no varejo por padarias de alto padrão. O Ministério Público denunciou refeições inadequadas em prisões.
É preciso passar o pente fino. Melancia doce e grande ninguém come sozinho.
Atrasou? Justiça neles!
No começo do mês, o escândalo: o INSS enviou aos bancos o pagamento de aposentados e pensionistas, mas o Governo criou um artifício que permitiu aos banqueiros pagar apenas na quinta seguinte ao Carnaval, lucrando sabe-se lá quanto (e usando o dinheiro dos outros). Não foi a primeira vez. De acordo com o portal especializado Mundo do Trabalho e Previdenciário, de Oscar Andrades, é possível cobrar o prejuízo, no Juizado Especial Federal Previdenciário. Confira aqui.
Mas a festa continua
O Carnaval já passou, o pagamento atrasou, e a folia ainda domina o país. A ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, pegou um jatinho da FAB na quinta à noite, às portas do Carnaval, e viajou com 12 assessores para Canoas, no Rio Grande do Sul ─ seu Estado natal. Segundo informou, era viagem de serviço. Em Porto Alegre, desfilou na Escola Samba Puro do Partenon. Em São Lourenço do Sul, desfilou no carro alegórico da Escola de Samba Estação Primeira do Cruzeiro (que obteve o terceiro lugar).
As duas escolas, observa o atento colunista carioca Aziz Ahmed, de O Povo, tiveram a mesma ideia de enredo: As Marias.
Quem te viu, quem te vê
Outros seis ministros, provando sua disposição para o trabalho em benefício do povo, também mostraram serviço durante o Carnaval ─ e, para mostrá-lo, requisitaram jatinhos da FAB: Guido Mantega (Fazenda), César Borges (Transportes), Marta Suplicy (Cultura), Manoel Dias (Trabalho), Marco Antônio Raupp (Ciência e Inovação) e Guilherme Afif Domingos (Micro e Pequena Empresa).
E o presidente do Congresso, senador Renan Calheiros, requisitou jatinho para viajar a serviço enquanto a população descansava nos feriados de Carnaval.
Temer e o Reino Encantado
Curioso o destino do vice-presidente Michel Temer. O senador Antônio Carlos Magalhães se referia a ele, por seu porte e aparência, como “mordomo de filme de terror”. Quem assistiu ao clássico Crepúsculo dos Deuses, de Billy Wilder, com Gloria Swanson e William Holden, sabe que Temer substituiria com vantagem o mordomo da fantasmagórica mansão, Max von Mayerling (no filme, Erich von Stroheim).
Mas a vida não quis assim. Temer acaba de voltar da Disneyworld. E, no retorno ao Palácio do Jaburu, continua em contato com o Reino Encantado: convive com o Pateta, multidões de ratos, um dos Três Porquinhos, o Lobão (que anda meio apagado), os Irmãos Metralha, Madame Min (muito mais mandona e grosseira que a original) e seu escudeiro bolivariano João Bafodeonça.
E com os patos que acreditam que o PMDB vai deixar os cargos no Governo.
Briga da boa
Dilma só pensa naquilo ─ reeleição. O PMDB só pensa naquilo: mais cargos, mais Ministérios. Por pensar como pensa, o PMDB resolveu criar problemas para Dilma, imaginando que, para manter o apoio do partido e seu tempo de TV, a presidente será obrigada a ceder a suas exigências. Já Dilma, por pensar como pensa, conversou com o marqueteiro João Santana, que lhe disse que pega bem resistir às exigências do PMDB e defender a ética na política.
É verdade ─ mas como divulgar essa desinteressada defesa da ética sem o tempo de TV do PMDB? E o PMDB, de que lhe servirão os minutos na TV se não tiver cargos no Governo? Por isso, a ruptura entre Dilma e PMDB, embora não seja impossível, é altamente improvável. Num jogo em que há tanto blefe, é bom saber que ninguém quer a ruptura.
Junta-se a falta de fome com a vontade de não comer.