‘Madeireiro é injustiçado. Ponto’, pelo comentarista Renato SC Vieira
O comentário de Renato SC Vieira, titular do timaço da coluna, merece ser reproduzido na Feira Livre. É um assunto a ser debatido por quem tem apreço pela verdade. Entre todas as profissões e ofícios que já exerci nestes meus 50 anos de vida, o único em que sou especialista, com certeza, é o de […]

O comentário de Renato SC Vieira, titular do timaço da coluna, merece ser reproduzido na Feira Livre. É um assunto a ser debatido por quem tem apreço pela verdade.
Entre todas as profissões e ofícios que já exerci nestes meus 50 anos de vida, o único em que sou especialista, com certeza, é o de madeireiro. Sou filho de madeireiro, nasci em uma serraria e trabalho com madeiras desde os meus 12, 13 anos de idade.
Madeireiro é injustiçado. Ponto.
Se o Brasil e suas matas tivessem sido explorados desde o Descobrimento por madeireiros, teríamos ainda toda (ou quase toda) a sua cobertura florestal intacta. Ao madeireiro só interessa a mata em pé. Viva, produtiva, para que ele dali possa retirar as árvores de algum valor comercial.
Um exemplo: temos nas matas amazônicas cerca de 30 mil espécies lenhosas (árvores). As serrarias exploram cerce de 50 espécies . O resto não tem nenhum valor comercial. Em um hectare de mata (10 mil m²) , são derrubadas de 20 a 30 árvores. E a mata continua lá. Além da inexistência de interesse comercial, é muito caro fazer a derrubada total. Mas aí surgem outros, principalmente o pecuarista. Não se cria boi nas matas. Apenas em pastos, dos quais são retiradas todas as árvores. É feita a derrubada total, o chamado corte raso.
Foram assassinados os ambientalistas em Nova Ipixuna. Moro na região, conhecia a história deles. Como a PF está cuidando das investigações, logo a grande imprensa e os brasileiros do Sul vão saber que suas mortes não têm nada a ver com os madeireiros. Espero que sejam publicadas com o mesmo destaque as notícias da identificação dos assassinos.
Por falta de conhecimento do assunto, qualquer incidente ou crime ocorrido nesta região induz a imprensa a repetir a manchete: ‘Mortos por empresários do ramo madeireiro”.
Pura balela.
Um esclarecimento necessário: cada assentado tem direito a derrubar cerca de 10 hectares de mata em seus lotes. E, para aproveitar a madeira derrubada, geralmente sem nenhum valor comercial, constrói dois ou três fornos para fabricar carvão vegetal, que é comprado pelas siderúrgicas de Marabá, distante cerca de 50 quilômetros. Mas o INCRA proíbe a construção dos fornos. E alguns líderes denunciaram ao INCRA a existência dos fornos. Acho que o problema surgiu por aí. Mas quem vai dar o veredito é a PF.
Enquanto isso, por favor, parem de lançar acusações infundadas. Insisto: o que interessa aos empresários do ramo madeireiro é que as matas se mantenham vivas, em pé, intactas. A extração seletiva de madeiras, os planos de manejo florestal sustentável, os leilões de matas públicas para a extração e beneficiamento de madeiras são a única alternativa viável para se manter a floresta em pé. Não se planta soja na mata. Não se cria boi na mata. Vamos pensar um pouco mais sobre o assunto. E procurar os verdadeiros culpados pela devastação, e consequentemente, por vários crimes que acontecem por aqui.
Mas nos excluam disso.