Planeta seis vezes maior que Júpiter é descoberto em estrela próxima
Esse é o primeiro objeto do tipo encontrado pelo telescópio espacial sem o auxílio de instrumentos terrestres
Os dois primeiros anos de funcionamento do Telescópio Espacial James Webb revelaram um grande número de galáxias e comprovaram a existência de diversos objetos distantes. Agora, uma novidade: o primeiro exoplaneta descoberto pela sonda sem o auxílio de um observatório terrestre descortina a existência de um exoplaneta gigante e frio nas vizinhanças no sistema solar.
Batizado como Eps Ind Ab, o gigante gasoso é seis vezes maior que Júpiter – o planeta mais massivo do sistema solar – e está localizado em um sistema composto por três estrelas que está a cerca de 12 anos luz de distância. “Ficamos entusiasmados quando percebemos que tínhamos fotografado este novo planeta”, disse Elisabeth Matthews, pesquisadora do setor de astronomia do Instituto Max Planck e autora do artigo publicado na Nature.
Como o Eps Ind Ab foi descoberto?
Estudos anteriores já haviam sugerido a presença de um exoplaneta no astro principal do Epsilon Indi, um sistema composto por três estrelas localizado na constelação Indo. Contudo, dada a escassez de dados, sua posição e tamanho foram calculados de maneira errônea. “Subestimaram a massa e a separação orbital deste gigante gasoso super-Júpiter”, afirma Matthews.
Isso foi percebido ao utilizar o James Webb para confirmar a presença do exoplaneta. Fazendo isso, os pesquisadores perceberam que o objeto não estava exatamente na posição em que se esperava que estivesse de acordo com os cálculos anteriores e, ao refazer as análises, perceberam que se tratava de um corpo seis vezes maior que o Júpiter, mais frio que outros exoplanetas gasosos detectados pelo observatório espacial, a uma distância aproximada de 30 unidades astronômicas da estrela principal e com um período de translação de 200 anos.
Qual a importância do James Webb para a descoberta de exoplanetas?
Até agora, a principal maneira de detectar exoplanetas era ao observá-los passando em frente à suas estrelas, com observações na luz visível. Isso dificultava, no entanto, a descoberta de corpos muito distantes dos seus astros centrais.
O James Webb tornou essa detecção muito mais fácil. “O telescópio opera exclusivamente na faixa do infravermelho”, explica o astrofísico e professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (USP) Roberto Dell’Aglio Dias da Costa. “Isso é importante porque os planetas emitem fundamentalmente nessa faixa. A Terra, por exemplo, reflete cerca de 30% da radiação solar incidente, enquanto os outros 70% são absorvidos por nosso planeta e reemitidos na faixa do infravermelho.”
A descoberta desses corpos, aliás, foi um dos objetivos principais da construção do James Webb, além da descoberta de galáxias distantes e antigas. Isso é importante porque, ao descobrir planetas em outras estrelas, é possível entender melhor como se formam os sistemas solares e, consequentemente, como ocorreu a evolução da Terra.
A possibilidade é animadora para Costa. “Nossa galáxia tem entre 200 e 400 bilhões de estrelas e, de acordo com os dados do satélite Kepler, ter planetas não é a exceção e sim a regra para as estrelas da Via Láctea, e, provavelmente, das demais galáxias”, ele afirma. “Isso significa que o número de planetas apenas em nossa galáxia deve ser imenso, passando fácil de um trilhão. Com certeza novas descobertas como essa acontecerão muitas vezes mais.”