Estudo com pintinhos pode melhorar a compreensão das emoções animais
Descobertas devem melhorar o bem-estar animal e aprimorar testes de medicamentos para tratar condições psiquiátricas em humanos
Animais se emocionam? Essa é uma questão de longa data para os estudos que consideram o bem-estar animal. E não apenas o que eles sentem costuma interessar os pesquisadores, mas, principalmente, como eles conseguem comunicar suas emoções. Agora, pesquisadores do Reino Unido e do Mississipi apresentaram uma possível resposta – e ela envolve dois pintinhos e um espelho.
Em pesquisa publicada recentemente na Applied Behaviour Science, pesquisadores se juntaram para estudar emoções de aves por meio de pios e assobios comuns entre pintinhos domésticos. As descobertas podem melhorar o bem-estar animal em toda a indústria de produção avícola, além de aprimorar os testes de medicamentos para tratar depressão e ansiedade em humanos.
Os pesquisadores buscavam uma maneira não invasiva de capturar estados de estresse nos animais. Para isso, focaram nas vocalizações emitidas pelos pintinhos enquanto se moviam livremente. O experimento envolveu equipamentos acústicos complexos instalados em uma sala isolada. Em uma instalação, eles colocaram apenas um pintinho e, em outra, um pintinho com um espelho. Os pesquisadores acreditam que a criação de um método não invasivo para detecção de estresse pode resultar em práticas mais humanas na indústria de carnes e ovos.
“Em instalações de produção, em instalações comerciais de crescimento em geral – seja gado, suínos ou modelos aviários, como galinhas – há uma preocupação real com o bem-estar”, disse Kenneth Sufka, professor de psicologia e farmacologia da Universidade do Mississipi, em nota. “Vale a pena usar a acústica para monitorar o bem-estar nas instalações de produção? Eu acho que sim.”
Embora pesquisadores — e fazendeiros — saibam há muito tempo que um filhote barulhento é um filhote angustiado, o conhecimento nunca foi muito mais profundo do que isso. O estudo também apresenta uma maneira não invasiva e comparativamente barata de estudar estados semelhantes à ansiedade em animais. Em modelos anteriores, a maneira de medir os níveis de estresse de um animal incluía capturá-lo, retirar sangue e medir os níveis de corticosterona, um hormônio do estresse, o que é, por si só, um método estressante de análise que pode comprometer a integridade dos resultados.
Além disso, os medicamentos destinados a humanos frequentemente precisam passar por estudos em animais, como os pintinhos, os ratos e até mesmo primatas antes de chegarem aos seres humanos. No entanto, como os pintinhos são frequentemente usados como precursores iniciais de estudos em humanos, entender suas emoções pode melhorar os estudos sobre medicamentos para ansiedade e depressão.
Como muitos humanos, os pintinhos são frequentemente resistentes a muitos medicamentos comuns para depressão, tornando-os um assunto principal para tratamentos alternativos. Mas se os pesquisadores não puderem antes provar que o pintinho também compartilha sintomas semelhantes aos da ansiedade, eles não podem mostrar que um medicamento melhora esse estado.
A pesquisa também busca responder uma questão ainda mais antiga (e complexa): Quais direitos os animais têm? A resposta mais aceita considera que os animais não têm as mesmas capacidades emocionais que os humanos e, portanto, têm menos necessidades e desejos. O novo trabalho, porém, argumenta que há semelhanças emocionais entre os humanos e as aves, e ambos são capazes de apresentar sintomas de ansiedade e depressão. A consideração desses novos elementos implica na obrigação de oferecer melhores condições de vida a essas espécies.