Cientistas fazem cigarras tocarem música clássica; ouça
Experimento japonês usa estímulos elétricos para controlar o canto das cigarras e reproduzir músicas com precisão — de peças clássicas a trilhas de filmes

Pesquisadores da Universidade de Tsukuba, no Japão, desenvolveram um sistema que transforma cigarras vivas em alto-falantes controlados eletronicamente. Utilizando estímulos elétricos nos músculos responsáveis pelo canto — os chamados timbais —, a equipe conseguiu ajustar o tom dos sons emitidos pelos insetos e reproduzir melodias reconhecíveis, como o Canon de Pachelbel e a trilha sonora do filme Top Gun.
Os timbais das cigarras funcionam como órgãos de som: formados por estruturas rígidas e membranas finas, vibram centenas de vezes por segundo quando ativados, produzindo o canto característico do animal. Ao implantar eletrodos na região abdominal de sete cigarras da espécie Graptopsaltria nigrofuscata, os cientistas foram capazes de controlar essas vibrações com extrema precisão, alcançando tons entre 27,5 Hz (Lá0) e 261,6 Hz (Dó4) — mais de três oitavas completas.
Para que isso pode ser usado?
Embora o experimento pareça excêntrico, os pesquisadores veem aplicações práticas. Em vez de robôs tradicionais, essas “cigarras cibernéticas” poderiam atuar como dispositivos sonoros em operações de resgate, especialmente em áreas de difícil acesso após terremotos ou outros desastres. Por serem leves, ágeis e altamente eficientes do ponto de vista energético, os insetos biotecnológicos ofereceriam vantagens em relação a equipamentos eletrônicos convencionais.
Ao usar o próprio corpo da cigarra como mecanismo de som, o projeto também evita o peso adicional de alto-falantes acoplados, o que permitiria que as cigarras se movimentassem com mais liberdade, caso necessário. A ideia é parte de um conceito mais amplo de biobots — organismos vivos modificados para executar funções específicas com apoio de circuitos e softwares.
As cigarras sofrem com os testes?
De acordo com os autores do estudo, os insetos foram pouco afetados pelo experimento. Algumas cigarras teriam tentado fugir, enquanto outras permaneceram imóveis durante os testes. Parte delas foi liberada na natureza após os procedimentos, e os estímulos aplicados foram limitados a baixas voltagens. A técnica também se aproveita do fato de que a região abdominal das cigarras tem poucos órgãos internos, o que facilita o acesso aos músculos timbais sem causar grandes danos.
Apesar disso, o uso de animais vivos como interface tecnológica levanta questionamentos éticos. O estudo, apresentado na conferência CHI 2025 (Conference on Human Factors in Computing Systems), abre espaço para futuras pesquisas sobre formas mais sofisticadas de interação entre organismos biológicos e dispositivos computacionais — e para o debate sobre os limites dessa integração.