O Brasil se tornou um dos piores países do mundo para se estar durante a pandemia do coronavírus. Não apenas a mortalidade per capita é muito elevada, uma das maiores do mundo, como também a saída óbvia da crise de saúde pública – a vacinação – não foi abraçada com empenho pelo Governo Federal. Os governos dos demais países têm plena informação sobre o que se passa por aqui, o resultado mais imediato foi a proibição do simples desembarque de brasileiros e de estrangeiros que tenham passado pelo Brasil ou, quando permitida a entrada, um rigoroso controle sanitário que inclui exames e quarentena. Vivemos hoje no Brasil um completo desastre em praticamente todas as dimensões da pandemia. É diante deste quadro de crise aguda que cumpre tentar compreender o que Bolsonaro quer.
O objetivo de Bolsonaro é permanecer no poder, foi pensando nisso que ele se deixou dobrar pelas instituições, abandonado sua cruzada antidemocrática levada a cabo por meio de falas durante todo o ano de 2019. Hoje, o Governo Bolsonaro é um governo do Centrão. Ele quer ser reeleito. Essa resposta, contudo, é insuficiente. Porque quem deseja ser reeleito zela pelo bom funcionamento da economia. Neste ponto, o próprio Bolsonaro afirmaria que fez isso o tempo inteiro desde o primeiro caso de covid no Brasil. Ele diria que foi quem mais se preocupou com a economia enquanto seus adversários queriam e continuam desejando fechar o país para evitar a disseminação do vírus.
As projeções de crescimento relativas ao primeiro trimestre de 2021 são todas negativas. Ao que parece as ações de Bolsonaro no sentido de proteger o nível de atividade, mesmo que às custas de adicionais perdas de vidas, não surtiu o efeito desejado. É possível que o Presidente não entenda que, no atual momento, um lockdown nacional rigoroso combinado com uma acelerada campanha de vacinação é o caminho mais curto e garantido para a retomada da atividade econômica. Ele simplesmente não aceita que isso seja possível e, por alguma razão, desconsidera exemplos reais de inúmeros países que vêm trilhando com sucesso este caminho.
Elegemos um presidente que acredita na seleção natural e na sobrevivência dos mais fortes, para ele a pandemia, se deixada sem controle, ou com a menor contenção possível, irá matar os mais velhos e fracos resultando, depois que ela passar, em um país formado pelos indivíduos mais fortes e saudáveis. Esta forma de ver o mundo, quando a morte precoce está em jogo, é inteiramente ultrapassada. Justamente por isso poucos são os que a defendem. O azar do Brasil é que um destes é o Presidente da República. O que Bolsonaro quer – sua reeleição – pode ou não ser alcançado, pois os meios para atingir seu objetivo dependem deste filtro ideológico da seleção natural.
No presidencialismo, mais do que no parlamentarismo, as características pessoais do chefe de governo têm um imenso impacto nos destinos do país. A crença que Bolsonaro tem na sobrevivência dos mais fortes pode fazer com que em 2022 ele não seja o mais forte em termos de votos.