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Opinião política baseada em fatos
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Impeachment de Bolsonaro: uma questão recorrente

Retirar Bolsonaro sem o devido e necessário desgaste abriria o risco de seu retorno triunfal

Por Alberto Carlos Almeida 17 dez 2020, 15h54

De tempos em tempos há discussões em todas as mídias acerca do impeachment de Bolsonaro. Quanto a isso, é sempre importante separar o desejável do viável. Ainda que seja – para alguns grupos políticos – desejável a deposição do atual Presidente, ela está muito longe de ser viável. Não se entorta ferro nem se faz impeachment a frio, é preciso de quentura, muita quentura. No caso de um afastamento isto significa aprovação ótimo/bom de 10%. Dilma só sofreu o impeachment depois de 12 meses com a avaliação neste patamar, combinado com manifestações de rua e perda de apoio parlamentar. No Brasil de hoje nenhuma dessas condições existem.

A propósito, desde que tomou posse Bolsonaro nunca teve uma base parlamentar tão ampla como a de agora. Ademais, os políticos que a formam têm nas mãos a situação dos sonhos: um governo fraco e sem agenda. Ou seja, não há da parte deles o menor interesse em depor o Presidente. Encerra-se aqui o argumento acerca da viabilidade do afastamento de Bolsonaro.

De uma perspectiva partidária e até mesmo individual é fácil explicar a desejabilidade do impeachment: aqueles que não se sentem nem um pouco representados por Bolsonaro gostariam que ele saísse antes da eleição de 2022. Argumentos não faltam: ele é um genocida, não tem nenhuma proposta para o país, ignora os principais problemas da população, não segue a liturgia do cargo, mente deslavadamente, é um desagregador, está devastando o meio-ambiente, nutre péssimas relações internacionais, etc. Confesso que concordo com todos estes argumentos e admito que fico perto de, ao pensar neles, cair na tentação de também defender o impeachment. Não o faço por considerar os motivos contrários.

O primeiro deles é o respeito ao voto. Desde a eleição de Collor tivemos cinco presidentes eleitos e oito mandatos contando com Bolsonaro, destes, dois presidentes tiveram seus mandatos abortados. É fácil respeitar os resultados das urnas quando tudo vai bem, o grande desafio é aceitar e tolerar os governos ruins ou péssimos. Quanto a isso, Fernando Henrique conheceu por um breve período avaliação de 10% de ótimo/bom, no mandato do não-eleito Temer a regra foi este baixo nível de aprovação. O Brasil já demonstrou, portanto, que é capaz de conviver com governos muito ruins. Eleição é coisa séria. Desrespeitar o resultado das urnas implica em cair no círculo vicioso de deslegitimação do voto. Quem tem ativos de longo prazo depositados no Brasil, como família e filhos, não quer isso.

O segundo argumento contrário diz respeito ao aprendizado democrático. Realizar impeachments sucessivos seria sinônimo de cassar o direito que a maioria do eleitorado tem de errar e, eventualmente, corrigir seus equívocos. Empresas, universidades, partidos, instituições e sociedades aprendem por meio da tentativa e erro. Afastar presidentes sofríveis é o mesmo que tutelar o povo. É como se fosse possível para um grupo partidarizado da sociedade, contrário ao governo de plantão, afirmar que chegou a hora de seu fim. Aceitar a democracia é admitir que sua instituição central é o voto, e para que ele se aperfeiçoe as pessoas precisam ter a chance de manter ou retirar aquele que venceu a eleição anterior.

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Por fim, um impeachment só é realizado de maneira sustentável a quente, jamais a frio. Para que o presidente deposto não corra o risco de voltar pelos braços do povo ele precisa ser figurativamente escorraçado de seu cargo. Isso só é possível após um longo e profundo desgaste. Collor demorou muito tempo para voltar ao Senado, Dilma foi rejeitada pelo eleitorado de Minas Gerais em 2018. Retirar Bolsonaro sem o devido e necessário desgaste abriria o risco de seu retorno triunfal, misturando ao seu autoritarismo e despreparo já conhecidos, um ressentimento tão grande quanto perigoso.

O fumante troca pequenos prazeres no curto prazo por um provável grande desprazer no longo prazo: o risco de doenças graves que o torne debilitado ou mesmo abreviem sua vida. O impeachment de Bolsonaro seria assim: um prazer no curto prazo em troca de prováveis grandes problemas políticos no longo prazo. Nunca fumei e não será hoje com começarei a fazê-lo.

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