* Em coautoria com Tiago Garrido
Convencionou-se acertadamente que a melhor divulgação de pesquisas é a que soma as avaliações ótimo e bom assim como o ruim com o péssimo. Todavia, em algumas situações – como a que vivemos agora – é adequado separar o ruim do péssimo. Sabemos que ambas são avaliações negativas, a vantagem de separá-las tem a ver com a intensidade, com a força da avaliação negativa. O péssimo é uma avaliação negativa mais intensa que o ruim.
Estudos adequados são feitos quando se comparam bananas com bananas e laranjas com laranjas. Assim, se tomarmos o terceiro ano do primeiro mandato de nossos presidentes veremos que Bolsonaro é aquele que não apenas tem a mais elevada soma de ruim e péssimo, como também a maior proporção de avaliações “péssimo”. Em maio de 1997, terceiro ano do Governo Fernando Henrique, sua avaliação era de apenas 18% de ruim e péssimo. Também em maio, só que em 2005, Lula pontuava somente 24% de ruim e péssimo. Dilma se assemelha a Bolsonaro nesta medida, ela teve 37% de ruim e péssimo ao passo que Bolsonaro atingiu, pela pesquisa do Ipec, 39%. A grande diferença entre os dois governantes, todavia, está no tamanho do péssimo: em Bolsonaro é de 30% ao passo que em Dilma foi de 22%, uma diferença grande de oito pontos percentuais.
A Dilma desta avaliação negativa (obtida junto ao banco de dados do CESOP) já havia passado pela Copa das Confederações e, portanto, por protestos que, exigindo serviços públicos de qualidade, tomaram conta do Brasil. Todos sabem que ela sofreu um aumento vertiginoso em sua avaliação negativa no primeiro semestre de 2013, tendo se livrado de parte desta avaliação durante o longo período que é encerrado na eleição de 2014.
Hoje, no Brasil, nada menos do que um terço do eleitorado acha o governo Bolsonaro péssimo, é muita gente, um eleitorado que coloca quem ele desejar no segundo turno, e que facilmente poderá ser mobilizado para derrotar o presidente na rodada final da eleição. Contudo, sabemos que quem avalia ruim também vota majoritariamente no principal candidato de oposição, provavelmente Lula, e quem avalia regular acaba fazendo o mesmo, particularmente quando a avaliação negativa é tão intensa como esta.
A tarefa de Bolsonaro é árdua, ele precisa não apenas diminuir a proporção de sua avaliação negativa, mas também sua intensidade. O problema é que se esta intensidade perdurar por muito tempo, ela acabará por deixar ferimentos e cicatrizes em um eleitorado que, justamente por causa disso, poderá não votar nele. E isso é bom para o principal candidato de oposição.