Leia a história da real ‘Mulan’ no livro ‘Mulheres Incríveis’
'Mulheres Incríveis', de Kate Schatz, compila histórias de figuras que revolucionaram as comunidades onde viviam
Sabe quem foi a primeira autora de que se tem conhecimento? Enheduanna da Mesopotâmia, saiba. Algumas páginas à frente, está Malala. Acompanhada por Frida Kahlo e a escritora nigeriana (quase) pop Chimamanda Ngozi Adichie, passando por Qiu Jin – a ‘Mulan’ da vida real – e a gloriosa jogadora de futebol Marta. Nomes conhecidos e outros nem tanto, dos mais diversos lugares do mundo, estão reunidos no livro Mulheres Incríveis (Astral Cultural, 126 págs., R$39,90).
A edição original, da escritora e ativista americana Kate Schatz, entrou para a lista de best-sellers do New York Times. Com jeito de almanaque e de leitura fácil, os 44 perfis selecionados atendem a curiosos de diversas idades. A edição brasileira ganhou ainda alguns capítulos escritos pela jornalista Juliana de Faria dedicados a Maria da Penha, Elza Soares e outras.
O livro será lançado no dia 4 de julho. Confira, em primeira mão, o capítulo sobre Qiu Jin.
De coração, suplico e rogo às minhas 200 milhões de compatriotas mulheres que assumam sua responsabilidade como cidadãs. Levantem-se! Mulheres chinesas, levantem-se!
Qiu Jin
“A ‘Mulan dos dias modernos’. A ‘Joana D’Arc chinesa’. ‘A primeira feminista da China’. Esses títulos foram usados para descrever Qiu Jin, que desafiou as tradições para se tornar uma líder revolucionária na dinastia Qing da China.
Qiu Jin nasceu na província de Fujian, no sudeste da China. Sua infância foi tradicional: ela frequentou a escola, amava cavalos e livros e fazia o que mandavam. Segundo a prática tradicional, os pés dela foram amarrados com força com tecidos para impedir que se desenvolvessem normalmente. Pés pequenos eram considerados mais bonitos, mas era uma prática dolorosa e debilitante. Quando tinha 21 anos, seu pai a obrigou a se casar.
A China estava passando por uma grande transição. Depois de quase 300 anos sob governo da corrupta dinastia Qing, muitos acreditavam que era hora de mudança. A revolução estava no ar — e também novas ideias sobre o papel das mulheres na sociedade. Durante uma ida a Pequim, Qiu ficou sabendo de tudo isso. Ela queria saber mais, então, estudou literatura feminista. Não suportava o marido e escreveu que ele a tratava como ‘menos do que nada’. Isso deu a ela a coragem de fazer uma coisa inédita: ela abandonou o casamento, vendeu as joias que possuía para levantar dinheiro e se mudou sozinha para Tóquio, no Japão.
Ao soltar meus pés, eu limpo mil anos de veneno / Com coração acalorado, levanto o espírito das mulheres
Qiu Jin
Lá, Qiu entrou em várias sociedades secretas dedicadas a derrubar o governo chinês. Ela acreditava que a mudança não poderia acontecer enquanto homens e mulheres não fossem iguais. Admirava Hua Mulan, a guerreira chinesa que se vestiu como homem para assumir o lugar do pai no exército. Qiu também estudou artes marciais, e usar roupas de homem virou sua marca registrada. Ela costumava carregar uma espada e chamava a si mesma de ‘Jin Xiong’, que quer dizer ‘capaz de competir com homens’.
Qiu queria compartilhar suas ideias com o máximo de mulheres possível. Ela escreveu ensaios, mas muitas mulheres chinesas não sabiam ler, então, ela fazia discursos animados sobre os direitos femininos. Também escreveu poesias lindas, com versos como ‘Ao soltar meus pés, eu limpo mil anos de veneno / Com coração acalorado, levanto o espírito das mulheres’. Ao voltar para a China, em 1906, ela começou uma revista feminista que encorajava as mulheres a buscarem educação, a encontrarem empregos e a se tornarem financeiramente independentes. Qiu também trabalhou com uma pessoa próxima para unificar grupos radicais de ativistas. Em 1907, quando estava dando aula em uma escola que era um local de treino secreto de soldados revolucionários, ela ouviu que sua amiga havia sido presa. Ela soube que seria a próxima. Qiu Jin foi presa e acusada do crime de escrever dois poemas revolucionários. Sua execução chocou a nação, mas a tornou uma heroína para muitos e um símbolo da independência feminina. Quatro anos depois da morte de Qiu, a Revolução de 1911 transformou a China, gerando a mudança pela qual ela lutava.”