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Crônicas do mundo tecnológico e ultraconectado de hoje. Por Filipe Vilicic, autor de 'O Clube dos Youtubers' e de 'O Clique de 1 Bilhão de Dólares'.
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Um prêmio científico com potencial de agradar o presidente e seu guru

Famoso IgNobel premia assuntos que parecem ser de interesse tanto do repórtorio de Bolsonaro quanto do de Olavo de Carvalho

Por Filipe Vilicic Atualizado em 17 set 2019, 08h00 - Publicado em 17 set 2019, 08h00
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  • Descobri um prêmio científico que tem potencial de ser apreciado pelo presidente e por seu guru e defensor. Já contarei qual é. Mas antes peço licença, pois terei de falar de excrementos e do aparelho reprodutor masculino. É de suma importância compreender a ideologia criada em torno desses dois objetos de estudo para assim interpretar o valor do prêmio científico que parece se encaixar nos anseios presidenciais. Falemos das razões por trás da hipótese.

    “É só fazer cocô dia sim, dia não”. Já indicou o presidente Jair Bolsonaro, como solução “científica” para acabar com a poluição ambiental. “Essa num concurso de bunda entrou com a cara e perdeu”. Também analisou Bolsonaro, desta vez usando suas habilidades de avaliador da bunda alheia para responder a movimentos feministas que criticam suas posturas.

    Noutro momento memorável, no Carnaval deste ano – sim, deste ano, mesmo que às vezes pareça que já faz tanto tempo, visto a quantidade de (perdão pelo uso da palavra, condizente ao tema) merda que rolou desde então –, o presidente ainda revelou outra de suas fixações. “Não me sinto confortável em mostrar, mas temos que expor a verdade para a população ter conhecimento e sempre tomar suas prioridades”, afirmou ao teorizar sobre a cultura carnavalesca, exibindo como base de sua hipótese um vídeo de um homem com o dedo no meio de uma de suas partes íntimas, enquanto outro se aliviava – no jargão tornado famoso pelo governante, uma “golden shower”.

    Perde-se a conta – seria “dia sim, dia não”? – ao se propor contar a quantidade de vezes em que Bolsonaro se expressou por meio de metáforas inspiradas no órgão genital masculino (tara linguística?) ou no sistema digestivo, com prioridade para a parte que sai por trás. Bolsonaro não tira do Twitter (em outros tempos, antes da internet, se falaria “da boca”) tais obsessões. Nisso também parece seguir seu guru ideológico, Olavo de Carvalho, que há muito glorificou a profissão de fiscal do furico alheio.

    “Fascismo é o cu da sua mãe”, fala Olavo, ao rebater com classe aqueles que querem promover diálogos sobre o autoritarismo – o que usualmente incomoda fascistas. “Atenção, ô chefe da fôia: Ideólogo é o cu da sua mãe”. Assim também recorreu às alegorias anais, agora para retrucar crítica da Folha de S. Paulo.

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    Olavo, como Bolsonaro, recorre às teorias do escroto e das fezes até mesmo para opinar sobre assuntos científicos. O que já disse o ideólogo influenciador de bolsonaristas no YouTube e no Twitter: “Combustível fóssil é o cu da sua mãe. Não existe combustível fóssil porra nenhuma. Isso é uma farsa, uma palhaçada”. Assim logo demoliu os cientistas que comprovam de onde vem, afinal, o petróleo acumulado no subsolo do planeta. Fico a imaginar qual seria a explicação de Olavo para a questão “de onde sai então o petróleo?”.

    O ideólogo ainda segue a escola intelectual do presidente ao versar sobre temas políticos. Quando não concorda com a oposição, logo rebate com suas teses: “Toda piroca se torna invisível ao entrar no seu cu”. Para encerrar um debate com quem o antagoniza em opiniões políticas, argumenta: “Esquerdistas são pessoas que lutam pelo direito de dar o rabo sem ser discriminadas, ao mesmo tempo em que protestam para reclamar que só tomam no cu”. Na ideologia fecal de Olavo, sobra até para o reino da biologia: “Pau no cu dos ursos”, vociferou.

    Portanto, após cortes na Educação, congelamentos de bolsas de pesquisa, e todo o incômodo de Bolsonaro e Olavo com a Academia, surgiu como um alento o achado de um prêmio científico que promete agradá-los. Trata-se do prestigiado IgNobel, promovido pela reconhecida Annals of Improbable Research (calma, “annals” não significa o mesmo em inglês, não).

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    O prêmio tem tradição de laurear cientistas interessados em excrementos e escrotos (humanos ou não). Na edição deste ano, celebrada na quinta-feira 12, não foi diferente. O IgNobel honrou seu empenho. Após uma limpeza dentre estudos acadêmicos, coletou pérolas dignas de figurar em tuítes presidenciais.

    O vencedor na categoria Anatomia é um estudo que se propôs a medir a temperatura dos sacos escrotais, esquerdo e direito, de carteiros franceses, quando nus e quando vestidos. Resultado: o da esquerda é mais quente, mas somente quando o carteiro está vestido.

    Já em Física, levou o troféu uma pesquisa que se propôs a desvendar um tremendo enigma do reino fecal. Por que os vombates, uns marsupiais australianos, realizam o número 2 em formato cúbico. A resposta: tem a ver com o desenho do intestino e com o tempo seco do ambiente em que vivem. Será que vão surgir teorias conspiratórias dizendo que o formato seria na verdade plano?

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    Outro problema fecal foi resolvido no campo da Engenharia. A vitória foi para a fabricação de uma máquina que resolve o 02 de seus filhos. É uma – um tanto amedrontadora – trocadora automática de fraldas.

    E mais um laureado insinua avançar nos estudos das partes íntimas. Trata-se do ganhador do IgNobel da Paz (E será que terá youtuber que também acha que esse já foi levado por Stalin? Se acha que Stalin já ganhou o IgNobel da Paz, chegou perto! Em 2001, foi para o criador do parque de diversões Stalin World, na Lituânia). Neste ano, foi para cientistas que mediram o prazer da satisfação de se coçar.

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    Para terminar, teve ainda outro IgNobel útil para políticos. Esse aposto que pode servir para uma enorme parcela destes, ao menos de 4 em 4 anos.

    O alemão Fritz Strack faturou em Psicologia pelo estudo de como colocar uma caneta na boca de pessoas para forçá-las a sorrir e ficarem mais felizes – independentemente da situação em que vivem. Nos primeiros experimentos, Strack pensou que havia formulado a técnica com êxito. Só que teve uma reviravolta. Ao repetir os testes, o psicólogo notou que tinha feito tudo errado, e a ideia de que canetas na boca fazem os outros sorrirem foi por água abaixo (convenhamos, ninguém fica mesmo mais feliz com a merda de uma caneta na boca).

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