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Crônicas do mundo tecnológico e ultraconectado de hoje. Por Filipe Vilicic, autor de 'O Clube dos Youtubers' e de 'O Clique de 1 Bilhão de Dólares'.
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MBL, fake news e as 196 páginas e os 87 perfis deletados pelo Facebook

Se as regras do Face valessem para todos, seria ótimo. Se as exclusões fossem consequentes de decisões éticas, também. Mas não é assim

Por Filipe Vilicic Atualizado em 8 ago 2018, 08h00 - Publicado em 8 ago 2018, 08h00

Não concordo, em nada, com o MBL. Muito menos com as opiniões políticas de Kim Kataguiri. Aliás, em nada concordo com o que publicavam praticamente todas as 196 páginas e os 87 perfis deletados no e pelo Facebook, alguns dos quais associados a MBL e Kataguiri. (Com algumas exceções: talvez fosse um pouco alinhado com uma de um TEDx feito no Brasil e do qual participei como palestrante; esse perfil, repito que de um TEDx, também foi derrubado)

Sei bem que uma boa parcela das páginas deletadas espalhava fake news. Ou escondia os perfis de seus donos, ocultos atrás de nomes falsos.

Usualmente, também apoio discursos que possam conter a disseminação de ódio, da direita radical, dos ultraconservadores, dos saudosistas da ditadura. Nos dias de hoje, em especial aqueles anti-Bolsonaro.

Mesmo assim, a última manobra do Facebook, que excluiu do site todas essas páginas com as quais eu não concordava, me deu medo. Muito medo. Por quê?

O Facebook deixou de ser uma mera empresa para se tornar a principal estrada para as discussões do mundo conectado. Virou uma ágora global onde as pessoas podem expressar o que tem de melhor e pior. Fofocam e mentem. Assim como defendem causas progressistas, manifestam-se contra absurdos de governos totalitários etc.

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Para combater a cacofonia e os malefícios de fenômenos como o das fake news, o site criou regras. Uma delas: “Não permitimos discurso de ódio por criar um ambiente de intimidação e de exclusão que, em alguns casos, pode promover violência no mundo real”. Também são proibidos os perfis com nomes falsos, por exemplo, ou a exibição de mamilos de mulheres. E, sim, parece que na internet levam muito a sério essa de censurar mamilos.

As leis do Facebook seriam compreensíveis se valessem para todos. No entanto, é tenebroso como elas só são aplicadas contra, basicamente, aqueles com os quais não concordo.

É verdade que é no Facebook em que os radicais da esquerda e da direita mais se assemelham. Podem divergir em suas opiniões, mas não em táticas como a disseminação de mentiras e o uso de perfis fakes para objetivos dos mais reprováveis. Porém, só os ultraconservadores, dos quais normalmente tenho ojeriza, estão sofrendo na mão virtual da autocracia Facebook. Não notei páginas dos radicais da esquerda dentre as excluídas no último dia 25.

Tudo pode fazer parte de um plano anti-Bolsonaro nas redes sociais? Assim como os adeptos da teoria da conspiração apontam que há um similar anti-Trump nesses sites? Pode ser… talvez em parte.

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Em parte pois o Facebook só está se movendo, de alguma forma, não porque resolveu do dia para a noite adotar posturas éticas. Mas, isso sim, porque as estratégias antiéticas que praticou, a exemplo de repassar dados de usuários a consultorias bizarras que os usavam para manipular eleições, foram reveladas e prejudicaram os lucros da empresa.

O Facebook tem perdido usuários assíduos. O que levou a uma queda recorde de suas ações nos EUA. E também a mais uma tática questionável: daqui para frente, não planeja revelar o número certo de pessoas que estão ou deixaram de estar no site; em vez disso, misturará seus resultados com o de outras redes de propriedade do mesmo império, mas que estão melhores das pernas, a exemplo do WhatsApp e do Instagram.

Frente a esse cenário negativo para o bolso dos acionistas, resolveu reagir, maquiando uma luta contra fake news, contra manipulações de eleições etc. Não se engane, tudo quase que tão-somente para recuperar a imagem da gigante do Vale do Silício.

Porém, até agora os únicos afetados para valer são os tais representantes da extrema direita. Aos quais, repito, tenho asco. No entanto, sou um defensor da liberdade de expressão, da democracia, do diálogo. Mesmo quando do outro lado estão seres que apoiam o fim de todos esses princípios em favor de seus objetivos escusos.

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Defendo a máxima: “Apoiar a liberdade de expressão é defender que o outro possa falar a merda que for, por mais merda que isso seja, contanto que não acarrete em um crime contra outrem (racismo, homofobia – é crime, e ponto – etc.)”. Sendo assim, tenho medo quando querem calar à força aqueles a quem me oponho na maior ágora da humanidade.

Facebook, se é para perseguir quem espalha mentiras, quem se esconde por trás de páginas falsas, ou seja, se é para cumprir com as regras criados por si, que isso valha para todos, por favor. Não só para aqueles com os quais os funcionários da empresa não concordam e, mais do que isso, cuja censura pode acarretar em mídia positiva para a marca.

*** Aliás, experimentei entrar no jogo que o próprio Facebook propõe. Denunciei alguns perfis claramente falsos e que evidentemente espalham mentiras e praticavam a disseminação organizada do ódio.

Um desses não tinha amigos no perfil e só postava fake news. A imagem de perfil era a de um desenho de um extraterrestre, daqueles cabeçudos e de pele verde. Outro não possuía foto, também usava nome claramente falso, e se apoiava em espalhar textos racistas.

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A surpresa: ambos os perfis, assim como outros que notei na rede, não foram excluídos. Apesar de evidentemente ferirem os termos que o site se vangloria tanto de ter escrito.

Ou seja, mais uma prova de que a recente onda de “deletes” tem mais cunho midiático do que o de representar uma mudança de rumo do maior Big Brother da internet.

*** E ouvi o dono de algumas das páginas deletadas, o Rodrigo Simonsen, da editora que leva seu sobrenome e que fora também organizador do TEDx mencionado. Ele disse algo interessante:

“Publiquei (livros de) autores que estão nessa bagunça toda, como Kim Kataguiri e Luciano Ayan. Alguns desses caras são meus amigos, apesar de eu ser mais ao centro, não participar dessa bagunça de esquerda e de direita”.

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Ele associa que suas páginas teriam sido deletadas tão-somente pela associação dos dois nomes citados por ele. O próprio Simonsen não teria dado justificativa para a exclusão. A única razão, segundo calcula, seria realmente o fato de ter publicado livros das figuras citadas.

Se for isso mesmo, o cenário fica ainda mais obscuro, não? Assemelhando-se àqueles tempos nos quais alguns governos tinham como comum queimar livros de opositores em praça pública.

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