Uma apuração coordenada por mim junto ao repórter André Lopes descobriu algo aterrorizante. A maioria dos candidatos à presidência se apoia em estratégias irregulares para se promover na internet e fingir aos eleitores que são mais influentes do que realmente são.
Não é possível ainda saber o quanto essa estratégia é diretamente ligada à equipe de cada candidato. Pode ter sido executada por apoiadores do mesmo. Será? Destaco alguns dos nossos achados.
Ontem, durante o debate dos presidenciáveis da Band, Jair Bolsonaro virou trending topic no Twitter em países do Leste Europeu, na Alemanha, na Dinamarca, na Austrália e até na China. Antes disso, no último dia 30, durante o Roda Viva com o candidato, ocorreu o mesmo. Assim como no dia 4, em entrevista para a Globo News.
Será que Bolsonaro é tão conhecido nessas nações? Nada disso.
A reportagem identificou o uso de bots, que são perfis no Twitter que agem automaticamente (numa tradução simplista, são robôs), que impulsionaram o nome dele nessas nações. Muitos desses perfis falsos nem seguiam Bolsonaro – prática conhecida no meio para despistar a associação dos mesmos com o político do PSL.
Além disso, os bots replicavam frases prontas, repetidas. Indo além, vários se diziam como perfis de alemães, chineses e afins… mas escreviam em português (em alguns casos, ainda em alfabeto distinto do da população local). Os perfis também tinham nomes sequenciais, com números, seguiam apenas alguns nomes famosos ligadas à linha política de cada presidenciável em questão e tuitavam tão-somente sobre o assunto. Muitos foram deletados logo depois de serem usados durante os eventos relacionados às eleições, como o debate na Band.
Da parte do Twitter, que, apesar de avanços, tem dificuldade de lidar com perfis falsos e bots, houve a desculpa de que tudo poderia ser reflexo de como o algoritmo agiria de forma atrapalhada durante o período da madrugada em nações de menor população, a exemplo das do Leste Europeu. Todavia, aí não se encaixariam Rússia, nem China. Mais que isso, em muitos locais, como no território chinês, era dia, em horário de pico no Twitter, quando o nome de Bolsonaro chegou ao TOP 10 dos trending topics. Em outras palavras, a justificativa não faria sentido.
Contudo, é evidente como se sugere um jogo sujo na campanha na internet. Um que engana eleitores, indicando que alguns políticos seriam mais influentes do que realmente são. Não só no Brasil, como no mundo.
Para ser justo, não só Bolsonaro deve adotar a tática. Ciro Gomes (PDT) e Marina Silva (Rede) apareceram em trending topics (no mínimo, de forma “inusitada”) em países como Vietnã e Camboja. Parece que, enquanto Bolsonaro ganhou uma baita popularidade no Leste Europeu e na Rússia, Ciro e Marina devem ser extremamente conhecidos na Indochina.
Além disso, hoje representantes de um(a) candidato(a) foram ao escritório do Facebook em São Paulo para tirar satisfação de como um outro presidenciável (que não é Bolsonaro) estaria usando bots de WhatsApp (app de propriedade do Facebook) para espalhar notícias de sua campanha.
Em breve, mais informações que podem afetar a maioria dos candidatos ao próximo pleito. Uma eleição que, ao que tudo indica, deve ser extremamente influenciada justamente pelo blablablá das redes sociais.
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