No porão do Museu de Arte Contemporânea de Teerã, na capital iraniana, estão guardadas 1500 peças de arte ocidentais. Muitas delas não são exibidas ao público há mais de 30 anos. O museu foi construído a mando da imperatriz Farah, mulher do xá Reza Pahlevi, um pouco antes de ocorrer a Revolução Islâmica que derrubou a monarquia e instalou os aiatolás no poder.
O regime fundamentalista proibiu filmes, música e muitos livros ocidentais. Apenas em 1999, vinte anos depois da queda do xá e dez após a morte do aiatolá Khomeini, o museu tirou algumas de suas obras de artistas ocidentais do subsolo para uma exposição. As obras que retratavam nudez ou de autores americanos, judeus e homossexuais, no entanto, foram mantidas no acervo — para não ferir os pudores ou atiçar a xenofobia e a homofobia dos líderes religiosos do país. Entre as que nunca foram expostas estão pinturas de nu de Pablo Picasso e Edvard Munch, o quadro Gabrielle com a Blusa Aberta, de Pierre-Auguste Renoir, e uma série de retratos de Mao Tsé-Tung feitas por Andy Warhol.
O museu também guarda obras de Pollock, Monet, Gauguin, Pissaro, Toulouse-Lautrec, Van Gogh, Rodin, Chagall e Diego Rivera. Há nada menos que 15 Warhols e 30 Picassos, como conta esta reportagem da Bloomberg, escrita por Peter Waldman e Golnar Motevalli e ilustrada com fotos de Ali Kaveh.
Os diretores do museu têm a esperança de que agora, com o fim das sanções internacionais em retaliação ao programa nuclear iraniano, poderão fechar acordos com museus de outros países para expor as obras mundo afora — já que muitas não podem ser vistas pelos iranianos.
Se o acordo costurado pelo governo americano para suspender a construção da bomba atômica vai dar certo ainda é uma incógnita. Há muita resistência por parte dos setores mais conservadores do Irã, e se a economia do país não tiver uma recuperação rápida, eles podem pressionar pelo rompimento do acordo. Pelo menos, enquanto isso, o mundo terá a chance de apreciar o tesouro artístico que a intolerância religiosa escondeu por tantas décadas.
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