Duas reportagens no site do jornal americano The New York Times chamaram minha atenção esta semana. A primeira descreve, em tom de crítica, um manual online que se propõe a ensinar regras de conduta básicas da cultura alemã a estrangeiros que acabaram de chegar à Europa e esperam conseguir asilo político. A segunda conta a história de Reza Gul, uma afegã de 20 anos que teve o nariz amputado pelo marido em Shar-Shar, uma aldeia paupérrima em uma região controlada pelo Talibã.
O texto sobre o manual de etiqueta para refugiados recorre à opinião de um arquiteto britânico-libanês e da jornalista Jenan Moussa, do canal de TV Al Aan, de Dubai, para concluir que as “lições” alemãs para os refugiados são ridículas e ofensivas. O tal manual consiste em catorze ilustrações acompanhadas de frases simples sobre como interagir de maneira harmoniosa com as pessoas na sociedade alemã. Foram consideradas ofensivas orientações como a de respeitar as mulheres e os homens, “não importa o que estejam vestindo”, de não bater em crianças (nem nas próprias, nem na dos outros), de não hostilizar homossexuais e de não resolver os conflitos cotidianos com violência física. Seria preconceito a simples suposição de que os refugiados, vindos em sua maioria do Afeganistão, da Síria e de outros países do Oriente Médio, não sabem que estas condutas são erradas? Parece-me que não. Até porque os fatos mostram que há, sim, uma parcela dos refugiados que não sabem se comportar da maneira como se espera em uma sociedade como a da Alemanha. Afinal, muitos deles vêm de lugares onde cortar o nariz é só um extrapolação do tratamento abusivo que é reservado às mulheres.
Como conta a segunda reportagem do New York Times, Reza Gul era casada há seis anos com seu algoz, Muhammad Khan. Ele trabalhava no Irã e, de tempos em tempos, voltava para casa, no Afeganistão. Nessas ocasiões, batia, maltratava e acorrentava a mulher. Quando retornava ao trabalho no Irã, deixava-a com sua família, que dispensava a ela tratamento semelhante ao dado pelo marido. Pois bem. No domingo, dia 17, Reza e Muhammad tiveram uma discussão porque ele pretendia tomar como segunda esposa uma prima de 6 ou 7 anos de idade. Repito: ele queria se casar com uma criança de no máximo 7 anos! Até aqui tudo normal (normal?). Para os padrões afegãos, a situação só passou do limite quando Muhammad pegou uma faca, decepou o nariz da esposa e depois, com a ajuda do irmão, colocou-a na garupa de uma moto com a intenção de matá-la e depois sumir com o corpo. Mas a mãe da vítima procurou integrantes do Talibã para pedir “justiça”, e Muhammad fugiu. “Espero que eles (o Talibã) o encontrem antes da polícia”, disse a mãe de Reza.
Pois bem. Quando se lê uma reportagem assim, não parece nada absurdo que o manual de conduta alemão diga aos refugiados para não abusar de mulheres, para não resolver conflitos com violência e para buscar a polícia quando se sentirem injustiçados. Afinal, não há um controle sobre os antecedentes e as práticas pregressas de quem está entrando no país para pedir asilo. Além disso, como se viu DEPOIS da divulgação do tal manual de conduta, alguns refugiados estão mesmo levando para a Alemanha certas práticas abusivas popularizadas em países árabes como o Egito.
Em uma festa de Ano Novo na cidade alemã de Colônia, vários refugiados se juntaram para cercar mulheres alemãs com o objetivo de abusar delas sexualmente. Como descreveu minha colega Vilma Gryzinski em artigo na edição de VEJA que tem David Bowie na capa, “elas levaram tapas, socos, passadas de mão e dedos enfiados onde conseguissem alcançar quando dava tempo de arrancar as roupas íntimas, uma variação do estupro que ganhou notoriedade durante as manifestações na Praça Tahrir, vitimando egípcias e jornalistas estrangeiras”.
Com medo de serem tachados de preconceituosos, os policiais alemães omitiram a natureza dos abusos e a origem dos criminosos.
É razoável supor que os abusadores são uma minoria entre os refugiados. Se todas as centenas de milhares de homens jovens que chegaram no ano passado junto com a leva de refugiados de guerra estivessem atacando mulheres nas ruas da Alemanha, da França, da Suécia e de outros países, o caos social já teria se instalado na Europa.
Mas não consigo ver nada de ridículo e ofensivo na tentativa de ensinar às maçãs podres que seu comportamento, na sociedade que as recebeu, é mais do que inadequado — é criminoso, e será punido.
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