Este vídeo vai fazer você chorar
O título deste post é sensacionalista. Você já deve ter lido ele antes. É muito usado naqueles sites caça-cliques recheados de curiosidades, listas estapafúrdias e cenas de bebês fofos. Uma busca no Google retorna com 1.180 resultados com essa frase, que na maioria das vezes remete a propagandas piegas com mensagens edificantes ou vídeos de cães e […]
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O título deste post é sensacionalista. Você já deve ter lido ele antes. É muito usado naqueles sites caça-cliques recheados de curiosidades, listas estapafúrdias e cenas de bebês fofos. Uma busca no Google retorna com 1.180 resultados com essa frase, que na maioria das vezes remete a propagandas piegas com mensagens edificantes ou vídeos de cães e gatos vivendo em harmonia. Eu não costumo chorar com esse tipo de coisa. Mas choro quando assisto algo como o vídeo acima. Os fatos são sensacionalistas.
Segundo o Aleppo Media Center, que produziu o vídeo, o que se vê ali são dois meninos sírios em um hospital chorando a morte de um irmão em um bombardeio contra uma área residencial controlada por rebeldes na cidade de Alepo. O ataque ocorreu nesta quinta-feira, dia 25, com bombas de barril, artefatos cheios de gasolina, explosivos e peças de metal que são lançados por helicópteros. Se as informações estiverem corretas, trata-se de mais um crime do regime do ditador sírio Bashar Al Assad, cujas forças comprovadamente recorrem a esse tipo de munição. As agências de notícias internacionais noticiaram que 23 pessoas morreram nesse dia em Alepo.
A veracidade das imagens é questionada por alguns ativistas pró-Assad ou pró-Rússia (aliada do governo sírio), porque o Aleppo Media Center nada mais é do que o braço de comunicação social dos grupos rebeldes que combatem o governo sírio. Alguns mais exaltados dizem que é propaganda do Estado Islâmico (EI ou Isis). Isso não é verdade.
É fato, porém, que o AMC é parte interessada na guerra civil da Síria. Esse é o problema deste conflito: por causa dos inúmeros riscos envolvidos, poucos são os repórteres, fotógrafos e cinegrafistas independentes ou contratados da imprensa mundial que têm acesso à linha de frente (que, no caso da Síria, pode estar em toda parte). Por outro lado, algum registro é melhor do que nenhum registro, e é possível confirmar ao menos parte dos relatos e das imagens, como fez a rede de TV americana CNN.
As tecnologias digitais facilitaram muito a capacidade de qualquer pessoa que se disponha a enfrentar os riscos a documentar o que acontece em uma área de conflito. Isso fez surgir uma nova atividade, a do jornalista-ativista (é o caso da equipe do AMC), e ressurgir a figura do jornalista-combatente (muito comum em guerras do passado, como a Guerra Civil Espanhola e a Guerra dos Bôeres). Por isso, atualmente, é preciso filtrar muito do que é divulgado na internet por cidadãos comuns ou pelos próprios combatentes.
Não há indícios de que o vídeo acima, dos meninos empoeirados chorando a morte do irmão, seja uma falsificação. E há inúmeros relatos independentes confirmando que cenas como essa repetem-se todos os dias na Síria.
Assim como a imagem do menino ferido dentro de uma ambulância, também produzida pelo AMC, que há uma semana chocou o mundo, cenas como a do vídeo acima deveriam mobilizar governos e sociedades civis a buscar uma solução urgente para essa guerra sangrenta. Para isso, é preciso antes de qualquer coisa deixar o ódio de lado, desarmar-se das convicções políticas, estabelecer uma empatia com as vítimas dessa tragédia diária e chorar junto com essas duas crianças.
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