As autoridades americanas revelaram esta semana que, há um mês, membros de uma de suas forças especiais prenderam um especialista em armas químicas do Estado Islâmico (EI). Sleiman Daoud al-Afari, que no passado trabalhou para o ex-ditador iraquiano Saddam Hussein, está em uma prisão temporária em Erbil, no Curdistão do Iraque. Ele confirmou, em interrogatórios feitos pelos americanos, que o EI está colocando mostarda sulfúrica (também conhecida como gás mostarda) em pó nas munições de sua artilharia na Síria e no Iraque. O uso de agentes químicos já havia sido identificado por meio da análise de roupas de vítimas de ataques do grupo nesses dois países. Uma reportagem do jornal americano The New York Times de outubro do ano passado, por exemplo, descreve como um desses ataques químicos afetou uma família síria, matando um bebê recém-nascido e deixando sequelas nos outros integrantes. Além do gás mostarda, de baixa letalidade mas que queima a pele, as vias aéreas e os olhos das vítimas, o EI também utiliza o gás cloro, que foi empregado como arma química pela primeira vez durante a I Guerra Mundial, como conta esta reportagem em VEJA sobre o Prêmio Nobel alemão Fritz Haber.
Obter informações sobre o arsenal do Estado Islâmico é crucial para poder combatê-lo — e, claro, para cortar na fonte o abastecimento de armas e munição. O levantamento mais completo é feito por um organização com sede em Londres, na Inglaterra, chamada Conflict Armament Research (CAR), que envia especialistas para as áreas de conflito com o objetivo de identificar o tipo e a origem dos armamentos usados por grupos combatentes. Um recente relatório da Anistia Internacional baseia-se no levantamento da CAR para listar as principais armas do EI: Kalashnikovs, claro, mas também fuzis M16 (dos EUA), CQ (da China), Heckler & Koch (da Alemanha), FN FAL (da Bélgica), Steyer (da Áustria) e Dragunov SVD (da Rússia), além de mísseis antitanque teleguiados e mísseis terra-ar.
Como revelou uma vídeo-aula que o Estado Islâmico produziu para uso interno e que foi obtido pela TV britânica SkyNews, em janeiro, o grupo possui até um laboratório para o desenvolvimento de armas próprias. Uma delas é um carro-bomba que pode ser conduzido com controle remoto. No lugar do motorista é colocado um boneco com um termostato que simula o calor humano para passar pelos equipamentos de segurança de instalações militares.
Muitas das armas usadas pelo EI são fruto do saque do arsenal do exército iraquiano, que entre 2003 e 2007 recebeu mais de 1 milhão de fuzis, pistolas e outros equipamentos dos Estados Unidos (o governo americano estima que cerca de 190.000 foram desviadas, roubadas ou revendidas), e das forças do ditador sírio Bashar al Assad, que adquiriu seu material bélico principalmente da Rússia, do Irã e da China.
Veja abaixo algumas das armas capturadas no início do ano passado das mãos do EI por combatentes curdos em Kobani, na Síria, segundo este relatório da CAR:
A análise das armas e das munições apreendidas do Estado Islâmico por seus inimigos, como os curdos, permite suspeitar que o grupo também consegue armar-se por meio da compra direta de empresas ou traficantes. Afinal, 10% das munições do EI foram produzidas entre 2010 e 2014, das quais metade são de fabricação búlgara ou chinesa, como conta este artigo da revista Foreign Policy.
Quem estaria vendendo armas para o grupo terrorista mais cruel da atualidade?
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