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Variação no DNA está associada à capacidade de demonstrar afeto

A descoberta abre caminho para a ciência decifrar a vida a dois

Por Jennifer Ann Thomas Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 28 ago 2020, 11h45 - Publicado em 28 ago 2020, 06h00

“Apaixonar-se por alguém está longe de ser a maior bobagem que as pessoas podem fazer — mas a força da gravidade não pode ser responsabilizada por isso.” A frase, do físico alemão Albert Einstein (1879-1955), mostra como o amor, e as relações que fazem com que o sentimento floresça entre os apaixonados, permeia todos os campos, desde o trabalho do mais famoso dos cientistas até o subjetivo mundo das artes, como longas-metragens açucarados, extensos capítulos de romances e a composição de canções que se tornam trilhas sonoras de uma vida a dois. O beijo emoldurado pelo pôr do sol que ilustra esta reportagem pode ser apenas uma cena piegas para alguns, mas para os enamorados ela surge como uma lembrança de suas próprias paixões. Na vida real, o que explica aquela sensação de frio na barriga quando realmente gostamos de alguém? O que está por trás dos corações apaixonados? Por mais que as respostas para essas perguntas sejam na maioria dos casos inconclusivas, a ciência traz algumas pistas. Além de particularidades emocionais e psicológicas de cada um, como resultado do acúmulo de experiências ao longo da vida, a facilidade ou a dificuldade para se relacionar afetivamente com outra pessoa podem estar associadas ao DNA.

Pela primeira vez, pesquisadores canadenses identificaram a presença de uma variável genética no gene CD38 como fator que torna mais natural a habilidade de demonstrar afeto e apoio ao parceiro, assim como ter uma percepção mais positiva sobre as ações dele. Em contrapartida, os voluntários com outras variantes genéticas tiveram mais dificuldade para demonstrar afeto de forma natural e espontânea.

A explicação pode estar relacionada a traços evolutivos que garantiram a própria continuidade da espécie. “Relações próximas são decisivas para a sobrevivência humana”, diz a psicóloga canadense Jennifer Bartz, da Universidade McGill. “Os mecanismos biológicos podem ter se desenvolvido em humanos para favorecer a criação de vínculos.” É sabido que o bem-estar proporcionado por relações amorosas contribui para a saúde e até para o aumento da expectativa de vida dos indivíduos. Em outros animais, como roedores, estudos já haviam comprovado que a ocitocina, liberada pelo CD38, tem um papel relevante na conexão entre aqueles animais. Agora, os pesquisadores mostraram a mesma relação entre humanos.

Para coletar os dados, 111 casais participaram do estudo. Cada pessoa completou um formulário separadamente, com a orientação de não discutir as respostas com o parceiro. Os casais selecionados estavam juntos há no mínimo seis meses, não tinham crianças morando no mesmo lar e possuíam emprego fixo. Durante o período da pesquisa, os participantes descreveram até três interações diárias de ao menos cinco minutos com o parceiro. Para identificarem as nuances, os cientistas indicaram alguns comportamentos, como “sorri e dei risada”, “fiz um comentário sarcástico”, “pedi que o outro fizesse algo”, ou “eu cedi”. A noção de afeto foi medida de acordo com sentimentos negativos, como frustração, raiva e tristeza, e positivos, como felicidade, satisfação e diversão. Todos os participantes fizeram testes de DNA, e assim as informações foram cruzadas para identificar a predominância de determinada variação genética em certos tipos de comportamento.

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Outros estudos também encontraram evidências entre características genéticas e o amor. Pesquisadores da Universidade de Pequim elucidaram a relação entre variantes do gene 5-HT1A e o estado matrimonial de seus portadores, concluindo que há uma relação significativa entre portar a forma genética CC e estar em um relacionamento duradouro. Ou seja: existem evidências científicas entre características biológicas e a probabilidade de ter um parceiro amoroso sério. Para a ciência, está muito claro que as variáveis genéticas são pequenas peças dentro de um enorme quebra-­cabeça sobre a complexidade das relações interpessoais. O estudo canadense, por exemplo, mostrou que, além da maior facilidade para se conectar com outras pessoas, indivíduos com a variação CC se sentiram mais satisfeitos com a própria relação. Já aqueles com as características AA ou AC podem agir da mesma maneira, mas o processo não é tão espontâneo.

Além do risco de buscar uma explicação única para aquilo que atormenta as pessoas que tiveram o coração partido (afinal, por que meu romance não deu certo?), há uma discussão ética sobre a possibilidade de fazer testes genéticos em indivíduos que queiram encontrar sua cara-metade. No futuro, será que os aplicativos de encontros amorosos vão incluir informações genéticas ao lado de dados como profissão, preferência musical e hobbies? É improvável. O histórico das pessoas e as condições de vida interferem nas relações, inquestionavelmente. De forma prática, ter a informação sobre uma característica genética que traz efeitos positivos pode ser um norte para auxiliar os apaixonados. Mas isso não é tudo. Com ou sem os resultados sobre o DNA, o companheirismo e a parceria são elementos definidores para o sucesso no amor. E que seja infinito enquanto dure.

Publicado em VEJA de 2 de setembro de 2020, edição nº 2702

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